Bacia do São Francisco – Paisagens reveladas

Para a surpresa de muitos, paraísos naturais como a Serra da Canastra, a Serra do Cipó e a Cachoeira de Tabuleiro integram a Bacia do São Francisco, rio que percorre 1,2 mil quilômetros somente em Minas Gerais. Lagos, cachoeiras, cânions e lindas paisagens fazem parte de uma área que ocupa 40% do estado.

Reportagem Marina Rattes
Fotos Cezar Felix

O São Francisco é um rio genuinamente brasileiro — o maior deles. Nasce em Minas Gerais, passa pela Bahia, por Pernambuco, por Sergipe e por Alagoas até — 2.700 quilômetros depois — desaguar no Oceano Atlântico. Sua bacia hidrográfica possui uma área de drenagem de 634 mil km2, abrange 504 municípios e impacta diretamente 18 milhões de habitantes ou 8,5% da população do país.

O rio São Francisco percorre 1,2 mil km
em Minas.

Em Minas, o rio percorre 1,2 mil quilômetros, banha cerca de 240 municípios e abastece nove milhões de pessoas. São tantos os afluentes do Velho Chico, que sua bacia chega a cobrir 40% do estado. Uma área enorme, que começa no Oeste de Minas, passa pelas regiões metropolitana de Belo Horizonte e Central, sobe pela porção Noroeste, atravessa o Norte do estado e cruza para a Bahia.

No caminho, belezas naturais praticamente intocadas, com um enorme potencial turístico muitas vezes inexplorado. Lagos, cachoeiras, cânions e paisagens impressionantes em meio a uma vegetação que mistura Cerrado, Campos Rupestres e Mata Atlântica. Os parques e unidades de preservação da região garantem a proteção de espécies de fauna e flora ameaçadas de extinção.

Serra da Canastra

É no Parque Nacional da Serra da Canastra — a uma altitude de 1,3 mil metros — onde nasce o Velho Chico. Entre paredões de pedra e uma vegetação exuberante, pequenos córregos se juntam para dar origem ao rio da integração nacional. Alguns quilômetros depois, forma-se a primeira cachoeira do percurso. É a Casca D’anta que, com 186 metros, ostenta o título de maior cachoeira do São Francisco e terceira maior queda livre do Brasil.

Na bacia do Velho Chico, muitas belezas naturais ainda intocadas.

 

A Casca D’Anta, no Parque Nacional da Serra da Canastra.

Em meio a uma vegetação composta de Cerrado, Campos Limpos e Matas de Galeria, espécies endêmicas de fauna e flora vivem preservadas. Quem anda pelas trilhas, encontra as marcantes flores canela-de-ema e as delicadas sempre-vivas. Os mais sortudos podem até se deparar com exemplares de tamanduá-bandeira, lobo-guará, tatu-canastra, veado-campeiro e o raríssimo pato mergulhão.

Localizada no Sudoeste de Minas — entre os municípios de Capitólio, Delfinópolis, Sacramento, São João Batista do Glória, São Roque de Minas e Vargem Bonita — a Serra da Canastra é um divisor natural de águas das bacias dos rios São Francisco e Paraná, contribuindo ao sul com o rio Grande e ao norte com o rio Paranaíba.

Serra do Espinhaço

Seguindo na direção oeste, já na mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte, começa a Serra do Espinhaço —única cordilheira do Brasil. Ela se estende por mais de 1 mil quilômetros até o norte da Chapada Diamantina, na Bahia. Famosa por sua beleza cênica e suas cachoeiras deslumbrantes, a Serra do Espinhaço abrange importantes destinos turísticos. É o caso das serras do Cipó e da Gandarela e da Cachoeira de Tabuleiro — em Minas Gerais — além dos 24 municípios que compõem a Chapada Diamantina — na Bahia.

Espinhaço: fonte de recursos hídricos.

Por apresentar uma das biodiversidades mais ricas do planeta, a Serra do Espinhaço foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Reserva Mundial da Biosfera.
São diferentes biomas ao longo da cordilheira. No sudeste predomina a Mata Atlântica; no Sudoeste, o Cerrado; e ao Norte, a Caatinga. A parte alta, por sua vez, é composta majoritariamente de Campos Rupestres. Esse tipo de vegetação é um dos mais complexos ecossistemas montanhosos do mundo. Para se ter uma ideia, das 538 plantas ameaçadas de extinção em Minas Gerais, 67%, ou 351, ocorrem nos Campos Rupestres. São cerca de 3 mil espécies de flora catalogadas e inúmeras outras ainda não descritas. A taxa de endemismo chega a 30%. Entre as plantas típicas estão os ipês, as orquídeas-diamante, as canelas-de-ema, as sempre-vivas, as embaúbas e as candeias.

A fauna da região também é riquíssima e abrange mais da metade das espécies ameaçadas no estado. Destaque para o lobo-guará, o veado mateiro, a paca, a seriema, a anta e a suçuarana. Vale mencionar ainda o beija-flor-de-gravata-verde e o lenheiro-da-Serra-do-Cipó, aves exclusivas do maciço do Espinhaço.

Devido às formações rochosas abruptas características de suas paisagens, o Espinhaço abriga inúmeros picos, entre eles o do Itambé, com 2.002 metros, e o do Itacolomi, com 1.772 metros, ambos em Minas Gerais. O ponto mais alto da cordilheira é o Pico do Sol, com 2.072 metros, localizado no Parque Nacional do Caraça (MG).

Pico do Itambé, com 2.002 metros, no Espinhaço

A cordilheira é também uma importante fonte de recursos hídricos. Os córregos e cursos d’água que nascem ali formam algumas das principais bacias hidrográficas do país, entre elas as dos rios São Francisco, Doce, Jequitinhonha e Paraguaçu.

Serra da Gandarela

Na porção sul da Cadeia do Espinhaço, entre os municípios de Caeté, Santa Barbara, Barão de Cocais, Rio Acima, Itabirito e Raposos, está o Parque Nacional da Serra da Gandarela. Esse santuário natural forma um corredor ecológico com a Serra do Caraça, unindo as bacias dos rios Doce e São Francisco. Sua vegetação de Campos Rupestres ferruginosos e quartzíticos e Mata Atlântica guarda uma rica diversidade de flora e fauna, com espécies endêmicas e em extinção, além de uma das maiores geodiversidades do Quadrilátero Ferrífero. Mais de 50 cavernas e um sítio paleontológico de grande relevância já foram cadastrados.

Belo Horizonte

A 40 quilômetros da Gandarela, encontra-se o principal núcleo urbano da bacia do São Francisco. Belo Horizonte e os 34 municípios que compõem sua região metropolitana abrigam mais de cinco milhões de habitantes. É a sexta cidade mais populosa do Brasil e uma das que mais recebe visitantes em Minas Gerais. Um estudo divulgado pela Belotur em 2017, apontou a capital como o segundo destino do estado na preferência dos turistas, a frente de Ouro Preto e Diamantina. Para se ter uma ideia, somente em 2017, os hotéis da capital receberam mais de 1,8 milhão de hóspedes.

Área de Proteção Ambiental Carste de Lagoa Santa

A Área de Proteção Ambiental Carste de Lagoa Santa fica ao norte de Belo Horizonte, entre os municípios de Lagoa Santa, Pedro Leopoldo, Matozinhos e Funilândia. O nome faz referência à predominância do calcário nas rochas da região, conhecida por abrigar um grande número de grutas, além de sítios arqueológicos e paleontológicos. Seus maciços calcários, paredões, torres e dolinas fazem desta área de proteção um dos mais importantes sítios espeleológicos do país.

Sítios arqueológicos, paleontológicos e pinturas rupestres.

Parque Estadual do Sumidouro

Ainda na região cárstica de Lagoa Santa está o Parque Estadual do Sumidouro, com 53 cavernas e 157 sítios arqueológicos catalogados. São 2 mil hectares de área, com um belo conjunto de lagoas, nascentes e sumidouros; e um relevo composto por paredões e torres. Os principais atrativos do parque são a Gruta da Lapinha, a Lagoa e a Lapa do Sumidouro.

Serra do Cipó

Avançando um pouco na direção nordeste, chega-se à Serra do Cipó, importante província turística da Cordilheira do Espinhaço e de Minas Gerais, protegida desde 1984 pela criação de um parque nacional. Um dos pontos mais bonitos da região é o Travessão, um grande vale que divide as bacias dos rios São Francisco e Doce. Para chegar até lá, é preciso caminhar por nove quilômetros, um passeio agradável para quem tem disposição e preparo físico. Durante o trajeto de aproximadamente três horas, dá para se refrescar na Cachoeira Espelhada, desvendar algumas pinturas rupestres e contemplar exemplares de fauna e flora endêmicas do Cerrado e da Mata Atlântica.

Cânion do Travessão: divisa das bacias do São Francisco e Doce.

Cachoeira de Tabuleiro

Não é à toa que a Cachoeira do Tabuleiro acumula tantos títulos. A queda d’água mais alta de Minas Gerais foi considerada pelo Guia Quatro Rodas por duas vezes consecutivas como a mais bonita do Brasil. Ela também foi eleita uma das “Sete Maravilhas da Estrada Real” em um concurso organizado pelo Instituto Estrada Real. É impossível não se impressionar com seu salto de 273 metros formado a partir de um monumental paredão multicolorido.

Lago de Três Marias

Já na região central do estado, o rio São Francisco abastece a Usina Hidrelétrica de Três Marias, uma das mais importantes do país, com 2,7 mil metros de comprimento, 75 metros de altura e um reservatório de 21 bilhões de metros cúbicos de água. São seis turbinas geradoras com potência instalada de 396 MW, responsáveis pelo fornecimento de 80% da energia consumida no norte de Minas Gerais.

O lago formado pelo represamento do rio é tão grande, que deu origem a um circuito de turismo com nove municípios: Abaeté, Biquinhas, Felixlândia, Martinho Campos, Morada Nova de Minas, Paineiras, Pompeu, São Gonçalo do Abaeté e Três Marias.

O lago de Três Marias, formado pelo represamento do Velho Chico.

Conhecido como doce mar de Minas, o lago de Três Marias reflete um azul incomparável. Ambiente perfeito para a pesca amadora, os esportes náuticos e os passeios de barco. As cascatas e riachos são abundantes na região. A geografia é caracterizada por Campos, Cerrado e Veredas. Frutos exóticos como Murici, Araticum e Pequi são fartamente encontrados.

As Veredas são de extrema importância para o meio ambiente.

Parque Nacional Cavernas do Peruaçu

Chegando ao Norte de Minas — entre os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões — já na região do Médio São Francisco, está o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Com 56,4 mil hectares, o local é conhecido por abrigar cerca de 140 grutas, mais de 80 sítios arqueológicos e uma das maiores concentrações de arte rupestre do mundo.

 

Parque Nacional Grande Sertão Veredas

Próximo ao município de Chapada Gaúcha, na divisa de Minas Gerais com a Bahia — está o Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Seu nome presta homenagem ao romance homônimo de João Guimarães Rosa. No livro — um dos mais importantes da literatura brasileira — o autor descreve com maestria as paisagens, a cultura e

Paisagem da Serra de Ouro Branco.

a natureza da região.

Esse nome celebra ainda a importância das Veredas, vegetação típica do Cerrado, fartamente encontrada na área do parque. Conhecidas como oásis do sertão, as Veredas são de extrema importância para o meio ambiente, principalmente durante os meses de estiagem, quando liberam aos poucos a água armazenada em suas superfícies. Elas estão condicionadas ao afloramento do lençol freático e exercem papel fundamental na proteção das nascentes; por isso são consideradas zonas de preservação permanente pelo Código Florestal Brasileiro. O estado permanentemente úmido desse tipo de solo propicia o desenvolvimento de uma flora exuberante. Nele cresce uma das mais singulares palmeiras do Brasil — a robusta Buriti, que chega a 30 metros de altura.

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