Estrada Real autossustentável

Daniel Junqueira 

O diretor executivo do Instituto Estrada Real (IER) e diretor financeiro da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Daniel Junqueira, assumiu a responsabilidade de reestruturar o projeto Estrada Real (ER), para ele, a principal rota turística brasileira. O executivo aposta na participação de importantes instituições (e também do poder público, além das comunidades envolvidas) na “construção” de um novo projeto e afirma que a base fundamental será transformar a ER em um produto turístico autossustentável.

Por Cezar Felix
Foto Rogério Alves Dias

— Assim que assumiu a responsabilidade de conduzir os novos caminhos do projeto Estrada Real, como o senhor avaliou, de modo geral, a situação das principais necessidades que envolvem o projeto?

— Eu encontrei um projeto que é a cara de Minas Gerais, que traduz várias referências do estado e que também pode ser considerado como um retrato do Brasil. Além de serem uma rota histórica — sem dúvida nenhuma, a mais significativa do país em termos do peso e da qualidade do patrimônio que possui —, os quatro caminhos da Estrada Real reúnem impressionantes particularidades. Eu cito, por exemplo, os terroirs da gastronomia típica, o artesanato, com as variações de grande qualidade artística que apresenta, e as tradições conservadas por meio das manifestações folclóricas e religiosas dentro dos congados, das festas do Rosário e das celebrações da Semana Santa. São as particularidades de cada cidade, de cada região que constroem os atrativos da Estrada Real. Eu sempre tive interesse em ter informações e acompanhei o projeto desde a criação dele, além de viajar por diferentes destinos, mas, quando comecei a participar internamente e viver a Estrada Real, eu realmente fiquei muito impressionando — não esperava tanto, confesso — com a potencialidade que a rota tem de construir produtos turísticos de qualidade e também eficientes em termos do que podem gerar de renda.

— Há uma reestruturação da Estrada Real a caminho? Como está sendo desenvolvido esse trabalho?

— Assumimos há pouco a reestruturação do projeto Estrada Real. Inicialmente, nós fizemos uma cuidadosa avaliação de tudo o que já foi realizado, decidimos o que deve ser mais bem aproveitado e o que deverá ser aprimorado. O nosso grande desafio agora é gerar recurso. Para isso, abrimos algumas frentes de trabalho, mas a nossa proposta é muito clara: todo projeto que for apresentado ao Instituto Estrada Real precisa ser objetivo, específico, e, como eu costumo dizer, ele deve ter começo, meio e não ter fim. Que seja pleno e, fundamentalmente, que seja autossustentável. A ideia é que a execução de todo e qualquer projeto que tenha a marca Estrada Real se torne uma tarefa cotidiana e que a gestão dele seja realizada em cada localidade pelos próprios moradores. Portanto, caso haja, por exemplo, um projeto de capacitação de pessoas visando à formação de empreendedores na atividade turística, ele deverá obrigatoriamente envolver não só as prefeituras, como também instituições, como associações comerciais e cooperativas, dentre outros. Esse envolvimento é essencial para viabilizar recursos e, evidentemente, para fazer com que o projeto se torne sustentável. Após essa primeira etapa, esse primeiro desafio, digamos assim, qualquer empreendimento poderá andar com as próprias pernas — e o melhor: carregando com ele a marca da mais importante rota turística brasileira, a Estrada Real.

— Então, o Instituto Estrada Real está aberto a propostas que possam colaborar com essa reconstrução?

— Na realidade, hoje, o projeto Estrada Real não vai ser proposto, ele vai ser construído. Então, ele tem que ter a participação de todo mundo. Agora, que fique claro também: nós não iremos para onde a gente não é bem-vindo. Nós vamos fazer essa construção em conjunto com as comunidades locais de cada município que está dentro da rota.

A nossa proposta sempre partirá do princípio de que vamos começar a construir juntos, para que, em seguida, todos caminhem sozinhos e possam progredir. Não há dúvidas sobre a consistência e a força da marca Estrada Real e da imensa qualidade da rota turística que é, repito, a mais importante do Brasil atualmente.

— O IER vai priorizar a gestão da marca Estrada Real?

— O nosso propósito, claro, também é a gestão da marca.  O Instituto Estrada Real é o gestor da marca, mas não será um gestor de projetos. São coisas diferentes. Se chegar a nós um projeto consistente, é evidente que vamos ajudar a construí-lo. Vamos agregar o valor da marca a esse projeto — seja licenciando-a seja até mesmo com a possibilidade de comercializar o uso dela. Ainda estamos em fase de elaboração de todas as possibilidades que tratam da gestão da marca.  O fato é que todo projeto tem que ser autossustentável e gerar recursos para ajudar na manutenção do IER. Mas é preciso ressaltar que a Estrada Real é um caminho que não pertence somente a nós. A marca é nossa, mas o caminho é de todos, é de todo mundo; e, mais, ele é universal.

— Nessa reestruturação, o senhor conta com o apoio das outras instituições e entidades envolvidas com a Estrada Real? E qual é o papel da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais?

— A única relação que a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais tem com o IER hoje é que a Fiemg é a dona do instituto. A gestão dele está totalmente separada e isolada. O que nós agora pretendemos é construir uma gestão compartilhada do Instituto Estrada Real, que vai unir a Federação das Indústrias, o Sebrae-MG, a Federaminas, a Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), as prefeituras e as associações comunitárias. Esse é o principal objetivo que ambicionamos. Hoje, nós já estamos caminhando para assinar um acordo de cooperação para a criação de uma nova entidade que irá compor todos os parceiros citados e quem quiser (e puder) entrar para caminhar conosco.  Hoje, nós já temos um pré-acordo assinado com o Sebrae-MG e com a Faemg.

— No que se refere ao engajamento no projeto Estrada Real por parte dos governos estadual e federal, qual é a sua avaliação?

— O poder público, nos níveis dos governos estadual e federal, certamente vem para agregar, então ele é sempre bem-vindo. A Estrada Real é um patrimônio cultural que está em Minas, no Rio e em São Paulo, mas ela é do Brasil, pertence a todos os brasileiros. Todos que vierem encontrarão uma gestão aberta e compartilhada.  A gente segue conversando com todos. O governo estadual tem boa vontade e administra o turismo como uma fonte efetiva de diversificação da economia de Minas Gerais. No governo federal, abre-se uma excepcional oportunidade, pois o senhor ministro é mineiro e conhece a fundo a Estrada Real. Todos têm plena ciência das excelentes perspectivas que se abrem para a atividade turística dentro da rota ER. Nós temos quatro patrimônios culturais da humanidade dentro da Estrada Real — Paraty, nomeada agora, Diamantina, Ouro Preto e o Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas. Ainda temos a Serra do Espinhaço como reserva natural da biosfera. Portanto, somos reconhecidos internacionalmente nas mais altas estâncias possíveis. Estamos com a faca e o queijo nas mãos.

— Na condição de empresário, e mineiro, como o senhor analisa a potencialidade turística não só da Estrada Real, como também de Minas Gerais?

— Não tem limites o potencial turístico de Minas Gerais. Eu sou nascido em Belo Horizonte e morador de Brumadinho, que, aliás, está no começo da Estrada Real. Tenho uma fazenda em Entre Rios de Minas, Região do Campo das Vertentes, próxima a São João del-Rei e Tiradentes. Posso dizer que eu vivo diariamente a rota, e, para mim, esses são os melhores lugares do mundo. Em um comparativo com os destinos turísticos que já visitei pelo mundo, como nos Estados Unidos, não é tão fácil você associar tantos atrativos tão próximos em uma mesma região. Aqui nós temos uma combinação incrível e talvez incomparável entre a gastronomia mineira e as belezas naturais exuberantes. Em uma mesma localidade, você encontra cachoeiras e trilhas belíssimas junto à comida preparada no fogão a lenha. Você tem ao seu dispor queijos espetaculares, cafés especiais de uma qualidade sem igual, cachaças e cervejas artesanais de alto padrão e ainda com boas opções de hospedagem, para todos os gostos e possibilidades de gastos. É claro que, se você pensar em infraestrutura, Minas Gerais — e o Brasil como um todo — tem problemas. Porém, na minha opinião, os atrativos que o turista vai encontrar aqui, ele não vai achar em nenhum outro lugar do mundo principalmente se você destacar um único item, que é as belezas naturais. Isso aí paga qualquer viagem. Então, certa falta de infraestrutura, é compensada por uma caminhada em alguma trilha da Estrada Real. Imagina a alegria de um turista estrangeiro, um apreciador do ecoturismo, ao se deparar de frente com a Cachoeira do Tabuleiro e ver aquela imensidão? Por tudo isso é que estamos retomando os nossos caminhos. Vamos reconstruir, como um importante símbolo do nosso trabalho, os marcos da nossa Estrada Real.

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Entrevistas

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