Fotografia – A arte é o instante

A arte é o instante

Profissional consagrado como fotógrafo especializado em moda, Weber Pádua agora se arrisca na fotografia de rua, onde o acaso só pode ser capturado com paciência e sensibilidade.

Por Juliana Afonso

fotografia, estão em constante desaparecimento e, uma vez consumado, não dispomos de qualquer recurso capaz de fazê-las reaparecer”. Assim disse Henri Cartier-Bresson, fotógrafo francês conhecido pela maestria em capturar o momento. As fotografias dele se transformaram em verdadeiros retratos da geração a que pertenceu e levantam, ainda hoje, muitas discussões sobre o instante decisivo da captura da imagem.

É sobre esse instante que se debruçam diversos fotógrafos contemporâneos, dentre eles, Weber Pádua, um dos principais nomes da fotografia de moda em todo o país. Weber já fotografou modelos para importantes marcas de roupa, além de já ter retratado diversas celebridades. Com o tempo, passou também a se interessar pela fotografia de rua, que desvela nos livros de sua autoria.

O primeiro se chama 5×5, foi lançado em 2013 e traz uma série de imagens que contam a trajetória de Weber. O segundo, Tokyotosaka, lançado em 2015, traz fotografias de rua feitas nas cidades de Kyoto, Osaka e Tóquio, no Japão.

“Ao clicar, Weber transforma em centésimos de segundos o seu pensamento em imagem e volta a buscar, imediatamente após, novos diálogos visuais que transformarão de forma contínua o seu presente em memória, num ciclo interminável de observação e criação”, escreve Ricardo Chaves-Fernando, membro da International Association of Arts Critics, no primeiro livro de Weber. A admiração que o fotógrafo acumula hoje é fruto de um trabalho sólido e, ao mesmo tempo, atento aos detalhes.

Da curiosidade à profissão

A história de Weber com a fotografia começou com uma câmera de filme, presente do pai, recebido quando ainda era um menino. Com aquele objeto nas mãos, a curiosidade ganhava asas. Weber fotografava tudo o que o universo infantil alcançava: os brinquedos, o quarto, a casa onde morava, os pais, os amigos. Um dos experimentos favoritos dele era fazer fotos cheias de camadas. Para isso, colocava um gorila de brinquedo no primeiro plano e um amigo, no segundo. “Na hora em que eu olhava na câmera, o boneco ficava do mesmo tamanho do menino lá de trás. Eu achava incrível. Mas, na hora em que revelava o filme, não ficava bem assim: aparecia um gorila grande, perto do menino lá do fundo”, conta Weber.

Ao invés de se sentir frustrado, se sentia instigado com aquele resultado. “Eu quis fazer que o resultado no filme fosse o mesmo que eu via na câmera”, conta. O tempo foi passando, e ele comprou uma câmera melhor e começou a fotografar pessoas. “Foi uma coisa de que eu sempre gostei, de fazer retratos”. Weber logo foi trabalhar em uma agência de modelos e ficou conhecido pelo domínio nessa área. À época, a demanda por esse tipo de trabalho era alta, e Weber entrou no ramo da fotografia de moda com apenas 18 anos.

O ramo da moda

Weber teve o privilégio de iniciar a carreira em um momento de grande ascensão do setor: na década de 1980, foi criado o Grupo Mineiro de Moda, uma associação composta por cerca de dez marcas que se uniram para dar visibilidade à produção da capital mineira. Art Man, Patachou e Mabel Magalhães (que, à época, se chamava Artimanha) são alguns dos nomes que participaram desse processo de criação.

O Grupo Mineiro de Moda foi o grande responsável por impulsionar o ramo e as atividades que lhe davam suporte, como a indústria têxtil, o design e a fotografia. O trabalho de Weber passou a ser requisitado, e ele começou a fazer fotos para diferentes marcas e com diversos modelos, dentro e fora do Brasil.

Os trabalhos que realizava lhe rendiam experiência — desde a firmeza necessária para dirigir os modelos que posavam para suas lentes, adaptando a própria postura ao objetivo do ensaio, até a preparação do ambiente. O trabalho lhe exigia técnica e sensibilidade. “A fotografia de moda é uma fotografia publicitária. Você está vendendo um produto, então é publicidade, mas o fotógrafo contribui com o veio artístico que possui. A gente coloca a nossa arte no meio da cena”, explica. Weber ressalta que, apesar de o fotógrafo ser o responsável por assinar o trabalho, escalar uma boa equipe é fundamental para que os outros elementos que compõem o ambiente (maquiagem, cabelereiro, iluminação, cenário, dentre outros) consigam criar o efeito esperado.

Para Weber Pádua, apesar de o ramo viver um momento atípico, o mercado continua bom. “Tem muita gente que produz moda em Belo Horizonte”, afirma. Prova disso são as marcas mineiras que têm lojas em grandes polos econômicos do Brasil, como Rio de Janeiro e São Paulo, além da quantidade de pessoas que viaja até Belo Horizonte para comprar roupas e revender fora do estado.

Mudanças no setor

Não foi só a moda que passou por mudanças: a fotografia também viveu grandes transformações ao longo dos anos. Uma das mais importantes foi a passagem do filme para o digital, o que alterou a qualidade da imagem. “A fotografia hoje está infinitamente melhor”, afirma Weber, que se considera um fotógrafo muito mais técnico que artístico. “Uma fotografia bem nítida, bem focada, com muitos detalhes, é importante. Eu prezo pela técnica. A imagem tem que ficar o mais parecido com o que eu vejo. Deve vir do gorilazinho que eu fotografava quando era pequeno”, diz, rindo.

Para ele, os jovens têm uma relação de nostalgia com a fotografia de filme, talvez pelo fato de que hoje essa não é uma tecnologia comum. “Esses aplicativos, como o Instagram, trazem exatamente essa nostalgia do filme: uma ótica mais ou menos ruim, o grão, a vinheta, aquele centro mais amarelo, a lateral puxando para o magenta”, exemplifica. Hoje, as fotos tiradas no filme podem ser digitalizadas e as digitais podem ganhar aparência de filme, mas tudo de forma acessível.

O amplo acesso a esses equipamentos de ponta trouxe uma nova pergunta: “quem é fotógrafo?”. “Eu acho que todo mundo pode fazer foto, mas nem todo mundo é fotógrafo”, opina Weber. Ele afirma que as ferramentas de hoje proporcionam certa praticidade e que uma pessoa com um bom entendimento sobre luz e planos consegue capturar belas imagens.

O crescimento dos recursos para tirar fotos é acompanhado pelo aumento de ferramentas capazes de modificar as imagens após a captura delas. Weber acha que esse recurso pode ser usado com bom senso. “Eu gosto de fazer a foto já pronta, mas é bom contar com um recurso que pode ajudar a fazer pequenos ajustes depois”, afirma, sem deixar de reconhecer que a fotografia publicitária corrige muita coisa e que é importante fazer uso dessas ferramentas com parcimônia.

Apesar de muitos enxergarem esse novo momento da fotografia com olhares desconfiados, Weber aposta na difusão desse conhecimento, com o pensamento de que a prática ajuda as pessoas a compreenderem a diferença entre imagens bem trabalhadas e imagens pouco interessantes. “Uma foto legal faz a pessoa ficar olhando pra ela por mais de sete segundos. Se você conseguir prender um cara por mais de sete segundos, você cumpriu o seu papel de fotógrafo”, teoriza.

Fotografia de rua

Após anos fotografando modelos conhecidas para marcas famosas, e até algumas celebridades, Weber passou a se interessar também pelo cidadão comum, aquele que passeia pela cidade e, de forma despretensiosa, consegue retratar a sociedade e a época em que vive. “A fotografia de rua é uma foto em que as pessoas não estão preparadas para. É o instante em que eu tenho que contar só comigo”.

O que mais instiga Weber Pádua na fotografia de rua é a busca pelo feliz acaso, aquele instante involuntário que não vai se repetir. “Você vê uma cena e fotografa, mas na hora em que você olha o que aconteceu é que você entende se a cena foi perfeita ou não”, afirma. Para ele, é preciso sensibilidade para enxergar o que é possível fotografar. Quando essa percepção não acontece de forma rápida, a pessoa que compunha a cena já não está ali, e não tem como pedir para o relógio voltar.

O interesse na fotografia de rua surgiu exatamente como contraponto à fotografia de moda. “Se a pessoa está posando pra você, ela já está fazendo um teatro e sendo outra pessoa. Na fotografia de rua, você consegue fotografar o cotidiano”, explica. Nesse quesito, uma das grandes inspirações de Weber é o fotógrafo francês Cartier-Bresson, cujas imagens geniais que produzia mostravam a arquitetura local, as pessoas que andavam pela cidade, as roupas que usavam e outros grandes detalhes que conseguiram retratar uma época. Para o fotógrafo mineiro, a fotografia de rua é a mais documental.

É esse tipo de imagem que Weber vai mostrar no novo livro que irá lançar, o Fotola, ainda em fase de desenvolvimento. “Na hora em que eu comecei a fazer o livro, eu passei a fotografar mais”, conta. Outra forte inspiração na realização desse livro foi o fotógrafo estadunidense William Eggleston, conhecido pelas fotos coloridas — em um período em que as cores acabavam de surgir no ramo, e muitas pessoas ainda se detinham ao preto e branco — que retratam o dia a dia da cidade em que vive.

A inspiração em profissionais como Bresson e Eggleston retrata um entendimento de Weber de que o bom pode ser atualizado, mas nunca se perde. “Não existe fotografia contemporânea, ela é contemporânea porque estamos fazendo ela hoje”, explica. Para ele, o olhar dos fotógrafos pode estar mais moderno, mas os princípios seguem os mesmos e as fotos inspiradoras continuam a emocionar as pessoas.

Arte da fotografia em Paris

Weber Pádua é um dos fotógrafos (e artistas) que expõem trabalhos na conceituada Ricardo Fernandes Gallery, em Paris. A galeria, que está na capital francesa desde 2007, é especializada em arte contemporânea internacional, sobretudo a brasileira e a latino-americana.

Conforme informa a Ricardo Fernandes Gallery, é complexo o processo de seleção dos artistas: “os artistas são selecionados após uma cuidadosa pesquisa, e eles são qualificados a partir de mais de cinco anos de carreira artística”, explica. Como galerista experiente e consagrado, Ricardo Fernandes é profundo conhecedor de temas que remetem às artes plásticas, à arquitetura, à fotografia, e à decoração. “Os critérios mais importantes para a seleção são o compromisso do artista e a análise de sua trajetória”, define.

Na galeria, Weber Pádua está na companhia de artistas espetaculares, como o pintor, escultor e muralista Adélio Sarro; o gravurista, pintor, desenhista e escultor Antonio Peticov; o japonês, artista de novas mídias, Jiro Ishihara; o fantástico fotógrafo francês Jean Merhi; e os também espetaculares fotógrafos Lita Cerqueira — baiana e grande documentarista, especializada na cultura afro-brasileira —; a italiana Loredana, também grande performer, pintora e designer; e o casal ucraniano Vitaliy and Elena Vasilieva, fantásticos artistas visuais.

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Sagarana

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