Trilhas dos reluzentes diamantes

Catedral Metropolitana de Diamantina. Foto Marcos Amend.

Trilhas dos reluzentes diamantes

Rumo ao Caminho dos Diamantes, pela estrada se avista ao longe a imponente Serra do Espinhaço. Aos poucos a paisagem ganha novos encantos, pois paredões cobertos pelo cerrado começam a guiar o trajeto.

Quem nunca foi a Diamantina irá surpreender-se mesmo antes da chegada. No caminho, recomenda-se parar em Gouveia e conhecer monumentos históricos como a Igreja Santo Antônio de Gouveia que, de estilo moderno, possui uma única torre e proporciona uma vista panorâmica para toda a cidade. Um pouco mais a frente está Itapanhoacanga, pequeno vilarejo (distrito do Serro) que guarda preciosidades, como a Igreja de São José, tombada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), importante exemplar da arte barroca, cuja construção se iniciou em 1746.

Enfim, chega-se à grandiosa Diamantina. Outrora um pequeno arraial chamado Tijuco. Ali o ouro era abundante, mas o que tornou o local realmente atrativo foram as jazidas de diamantes.

Na década de vinte do século XVIII foi o lugar mais importante da Colônia. Pela Estrada Real, toneladas de ouro e diamante eram transportados para os portos de Paraty e, mais tarde, Rio de Janeiro para serem escoadas para Portugal. Em 1730, o lugar ganhou nome de Distrito Diamantino. Viviam ali a elite colonial e grande população escrava. Paisagens exuberantes, riqueza e prosperidade — foi esse o cenário da famosa história de Chica da Silva, a bela escrava que encantou um dos homens mais ricos da região, o contratador de diamantes João Fernandes. Sua antiga casa é um dos mais expressivos exemplares da arquitetura mineira do século XVIII.

Diamantina hoje não esbanja ouro nem diamantes, mas é um palco aberto de outras riquezas atemporais. Há beleza por todo lugar, reflexo da arquitetura colonial presente nos casarões, igrejas e praças. Nas ruas estreitas com os charmosos becos e na simpatia e hospitalidade do bom mineiro que a todos recebe de braços abertos. Tudo isso aliado a outros não menos importantes valores como o artesanato, a gastronomia e a música, que deram à cidade, em 1938, um dos primeiros títulos de patrimônio histórico concedido pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) a uma cidade brasileira.

Décadas mais tarde, em 1999, foi a vez da UNESCO, quando a cidade foi consagrada como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Para começar a visita, recomenda-se conhecer o Passadiço da Casa Glória, construído por volta 1878 para ligar as duas casas que funcionavam como orfanato. Dizem que o passadiço entre os casarões foi feito para impedir o contato das meninas com os rapazes da rua.

Muito agradável é passar dias na cidade hospedando-se em uma das simpáticas pousadas construídas em casas coloniais. Há opção para quem quer simplicidade e também para quem procura luxo e conforto.

Depois de saborear a autêntica comida mineira, o passeio deve continuar pelas ladeiras que revelam lindas igrejas como a de Nossa Senhora do Carmo, erguida entre 1760 e 1765, dona de uma rica decoração pictórica de talha dourada atribuída ao famoso Aleijadinho. Quando cair a noite, principalmente nos finais de semana, a dica é ir até o Mercado Municipal, construção do início do século XIX, e provar uma das deliciosas maravilhas da gastronomia mineira ofertadas nas barraquinhas montadas no local. Pelas ruas, mistura-se harmoniosamente a vida dos turistas encantados e dos sempre atenciosos moradores.

Perto da cidade, está a Vila de Biribiri, a 13 quilômetros. A charmosa vila foi construída em 1877 para abrigar uma fábrica de tecidos. O povoado chegou a ter 1,2 mil habitantes nos áureos tempos da produção, porém, com o fim da fábrica em 1973, ficou abandonado por anos. Mas hoje a história revive. As cerca de 30 casas, uma Igreja e as antigas instalações da fábrica, foram tombados pelo  IEPHA )Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais). Ainda são poucos os que moram por ali. Um deles é o zelador da vila, Geraldo da Conceição Reis, 45 anos, ex-funcionário da fábrica. A vila fica dentro do Parque Estadual do Biribiri — uma unidade de conservação permanente — aberto diariamente à visitação.

O único “perigo” do local é o de não querer mais voltar para casa. Ali respira-se paz e sossego. O programa pode incluir nadar nas inúmeras cachoeiras e poços próximos, comer um bom frango ao molho pardo no famoso restaurante Raimundo sem Braço, ou apenas observar ao pé da serra como a vida pode ser mais calma, mais lenta.

Novamente na estrada, a próxima parada é Milho Verde. Um pequeno distrito que abriga paisagens inesquecíveis, Na volta de uma das cachoeiras, não deixe de visitar a Igreja Setecentista, construída no século XVIII que conserva muito bem o estilo das construções barrocas do Vale do Jequitinhonha. Vizinha ao distrito encontra-se São Gonçalo do Rio das Pedras, que permite uma volta ao tempo dos garimpeiros com seu conjunto de casarios e casas.

Cada turista tem suas motivações e interesses. No caso da advogada Cristina Souto, 28 anos, conhecer alguns trechos do Caminho dos Diamantes era como conhecer sua própria cultura e identidade. Nascida em Diamantina, mas criada em Belo Horizonte, sempre ouviu falar das cidades ao redor da sua terra natal com curiosidade. Decidiu então conhecer a região do Serro: Milho Verde, São Gonçalo do Rio das Pedras, e Capivari. “É incrível como localidades tão próximas podem ser tão diferentes”. Antes de viajar, ela consultou os guias disponíveis para traçar o trajeto: “O site da Estrada Real é muito bom. Sempre acesso e vejo o que é atualizado constantemente, com mapas para ‘download’ e depoimentos de viajantes. Dá vontade de viajar e conhecer tudo.” Cristina reforça que é preciso manter um trabalho de preservação constante das cidades e ajudar na estruturação dos locais para bem receber os turistas: “todos os lugares recebem pessoas   de outros estados e também estrangeiros”, esclarece. “Sem dúvida, para quem gosta de aventura e natureza, a Estrada Real é uma ótima indicação, finaliza”.

Outras maravilhas

Outra das maravilhas da Estrada Real é a Reserva Particular do Patrimônio Natural do Caraça, ainda no Caminho dos Diamantes, encravada entre os municípios de Catas Altas e Santa Bárbara. Além do rico patrimônio natural, o lugar foi palco de importantes acontecimentos da história mineira. Os testemunhos desta época são as extraordinárias construções do período colonial.

A viagem de sonhos começa pela magnífica Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens, erguida na segunda metade do século XIX em estilo neogótico. No seu interior está a fabulosa tela “Última Ceia”, assinada por Mestre Athayde. Em 1820, padres lazaristas fundaram o colégio e seminário do Caraça, que, em 150 anos de funcionamento, formou personalidades  como os ex-presidentes da República Afonso Pena e Arthur Bernardes. Um incêndio destruiu o prédio em 1968; em 1989 suas ruínas foram transformadas em um centro cultural e hoje são confortáveis pousadas.

Em Catas Altas é obrigatório conhecer o inestimável patrimônio histórico e cultural guardado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, de 1739, com obras de Aleijadinho, Francisco Vieira Servas e Francisco Xavier de Brito. Destaque para o Cristo Crucificado, esculpido por Aleijadinho, que embeleza o trono da Igreja, erguida com a utilização de madeira, taipa e pedra.

A montanha que reluz a luz do sol

Quando o sol incidia diretamente na Serra da Piedade, ela brilhava. “Deve ser ouro”, pensavam, “deve ser prata”. Essa curiosidade, aliada ao desejo de encontrar riquezas escondidas, foi o que motivou um grupo de bandeirantes a explorar o Caminho de Sabarabuçu.

Suba a Serra da Piedade. Lá em cima  ergue-se um lindo patrimônio de fé, a Capela de Nossa Senhora da Piedade, de 1770. No trono, encontra-se a divina imagem de Nossa Senhora da Piedade, atribuída a Aleijadinho.

Apesar de os boatos correrem ainda no século XVII, os primeiros bandeirantes só chegaram a Caeté no início do século XVIII.

No sopé da serra está Caeté. Da sua arquitetura se destaca o Museu Regional de Caeté, construído no século XVIII e que hoje conta um pouco da história da cidade e do ciclo do ouro.

Outra construção importante é a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, onde Aleijadinho começou a mostrar o seu talento. Sobre ela, o naturalista e viajante francês Saint Hillaire após uma viagem que fez à Minas Gerais em 1818,  escreveu: “Há todavia em Caeté um monumento que assinala o seu antigo esplendor — é sua igreja. Não somente não havia visto em toda a província de Minas uma única que fosse tão bonita; mas ainda, duvido que exista no Rio de Janeiro alguma que se lhe possa comparar”.

Peculiaridades

Um pouco mais adiante, seguindo a trilha real chega-se a Sabará. A cidade, uma das mais importantes do Caminho de Sabarabuçu, surgiu em 1711 como a Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará. Os seus diversos casarios coloniais ainda guardam o brilho de tempos remotos. Uma das mais bonitas é o Solar do Padre Correa devido à madeira de jacarandá usada para construir suas escadarias. A casa é de 1773 e é onde hoje funciona a prefeitura.

O Museu do Ouro é também um grande atrativo, pois lá funcionou a Casa de Intendência e Fundição do Ouro. Outro tesouro é o Teatro Municipal, ou Casa da Ópera, de 1819, um lindo prédio com arquitetura barroca italiana. É considerada a casa de melhor acústica da América Latina.

São lindas as igrejas de Sabará. A pitoresca Nossa Senhora do Ó é o grande destaque, pois guarda verdadeiras joias na decoração interna: as pinturas são influenciadas por motivos e cores muito utilizados na estética chinesa, inclusive há personagens bíblicos com olhos puxados.

Testemunhos da história

E siga pela Estrada Real afora! Para quem quer muito além de conhecer, mas viver um pouco da história, a dica é se hospedar em um dos hotéis fazendas ao longo dos percursos. Poucos lugares ao longo da Estrada Real conservam tão bem as antigas fazendas das chamadas vilas do ouro como Santana dos Montes, Cristiano Otoni e Carandaí. Ali os visitantes tornam-se personagens. São mais de 20 fazendas dos séculos XVIII e XIX, muitas recuperadas e algumas tombadas pelo IEPHA. Elas são exemplares de uma arquitetura particular e muitas delas se tornaram agradáveis hotéis-fazendas.

Em Santana do Monte, destaque para a Fazenda Fonte Limpa, declarado Monumento Histórico e Artístico de Minas Gerais desde 1995 por sua notável conservação da época do Ciclo do Ouro. Hoje é um belo e aprazível hotel-fazenda. Já a Fazenda do Tanque, tombada pelo patrimônio Municipal, tem sede datada de 1863 e também é hotel, além de fabricar uma cachaça de qualidade. Outras fazendas que valem a visita são a da Pedra; da Posse; do Antônio Quirino e do Santinho. A Fazenda da Pedra fica bem próxima a Cristiano Otoni e foi edificada pelos escravos em cima de uma grande pedra que forma a base da construção. Na fazenda, é possível visitar a senzala, ver o tronco usado para castigar os escravos além de todo o mobiliário original preservado.

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