Batalha de confete e serpentina

Há 172 anos, a cidade mineira de Bonfim promove uma das mais originais festas do Brasil, o Carnaval a Cavalo, uma bela manifestação de cultura popular, que mobiliza durante três dias praticamente toda a população do município.

Por: Cacaio Six
Fotos: Rogério Alves Dias

Invariavelmente todos os anos durante o carnaval, a cidade de Bonfim — localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, a 80 km da capital —, vira notícia nos principais canais de televisão, nos grandes jornais e nos sites de maior audiência. E o melhor de tudo: com generosos espaços e ampla cobertura, próprias daquelas reportagens dedicadas às boas notícias que emocionam o público quando desvelam as mais caras (e raras, pois é algo muito precioso) manifestações da cultura popular genuinamente brasileira.

Bonfim vira notícia no Brasil por meio de todas as mídias em razão de uma festa diferente, exclusiva, o Carnaval a Cavalo, que acontece desde o distante ano 1840, portanto, há 172 anos. O evento se estende por três dias: cavaleiros e amazonas desfilam pela Praça da Matriz, a principal da cidade, impecavelmente trajados por belas fantasias. Os trajes são confeccionados em veludo, cuidadosamente bordados à mão e decorados por pedrarias brilhantes. Tudo para lembrar as vestes de reis, rainhas, príncipes e princesas. Um detalhe interessante é que as mulheres só foram autorizadas a participar da festança a partir da década de 1940.

Mouros e Cristãos

 O responsável pela criação, digamos assim, do Carnaval a Cavalo de Bonfim foi um religioso, conhecido como Padre Chiquinho. Ele tinha como objetivo encenar a dramatização da guerra entre Mouros e Cristão,  uma manifestação típica das cavalhadas — um tipo de torneio encenado geralmente entre 12 cavaleiros cristão contra 12 mouros que simulam uma Guerra que termina com os mouros aprisionados. A cavalhada é uma herança dos padres jesuítas portugueses, praticada no Brasil — e em muitas cidades mineiras — desde o século XVII.

Já na folia de Bonfim, os cavaleiros e amazonas desfilam suas belas montarias (também elegantemente enfeitadas) carregando orgulhosamente a sua bandeira — que logo é desfraldada no centro da praça — e, munidos de confetes e serpentinas, “disputam” a atenção das pessoas na tentativa de conquistá-las e levá-las  a participar do Carnaval, como informa a entidade organizadora do Carnaval a Cavalo, o Clube Carnavalesco de Bonfim, na ativa desde o ano 1987.

Toda esta espetacular movimentação acontece ao som de uma trilha sonora muito especial, executada pela tradicional banda de música da cidade, “uma das mais antigas de Minas Gerais e orgulho dos bonfinenses”, como descreve o Clube do Cavalo. Trata-se da Corporação Musical Padre Trigueiro, fundada em 1878 pelo padre Antonio José da Silva Trigueiro. “No Carnaval a Cavalo, a banda é de enorme importância, pois é ao som de ‘Havaneira Bonfinense’ que o desfile fica mais emocionante”.

No fim do terceiro dia, ainda segundo as explicações do Clube, acontece a “batalha de confetes e serpentinas”. É quando os cavaleiros desmontam, retiram as máscaras — chamadas de  dominós — que lhes cobriram os rostos durante todos os dias de carnaval e passam a brincar com o povo. “Essa brincadeira simboliza a conquista definitiva das pessoas”. Finda a batalha, os cavaleiros e amazonas tratam de resgatar a sua bandeira e com lenços brancos nas mãos despedem-se do povo, sendo ovacionados por todos os presentes. É o ápice de uma grande festa, que espalha emoção por todos os lados.

O Carnaval a Cavalo de Bonfim está na galeria das mais belas e sofisticadas manifestações da cultura popular do povo das Minas Gerais. Certamente, nas próximas décadas a festa vai  continuar, esta tradicão vai ser mantida, pois se vê entre os cavaleiros famílias inteiras, avós, pais, filhos e netos. Que assim seja!


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