Das minas ao metal

O MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal, o Prédio Rosa, de 1987.

O Prédio Rosa da Praça da Liberdade — fundado em 1897, junto com Belo Horizonte — abriga o espetacular MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal, um dos principais atrativos turísticos e culturais do Circuito Liberdade .

Por Cezar Félix (texto e fotos)

O belo edifício da Praça da Liberdade, sede do incrível MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal, até hoje é conhecido como Prédio Rosa. Porém, poucas pessoas sabem que ele foi inaugurado exatamente no mesmo dia, 12 de Dezembro de 1897, em que Belo Horizonte foi apresentada ao Brasil e ao mundo como a capital dos novos tempos —quando surgia a era do efervescente  conceito republicano e de uma época que reinava o espírito da modernidade, tal qual rezava a cartilha da ideologia positivista.

A escadaria com todos os requintes de uma arquitetura sofisticada.

Por isso mesmo, e não à toa, que a fachada do Prédio Rosa é rica em referências do neoclássico. Esse estilo arquitetônico simbolizava a racionalidade de um Estado republicano forte e organizado. O projeto do engenheiro-arquiteto pernambucano José de Magalhães (1851/1899), também autor do projeto do Palácio da Liberdade, sintetiza com clareza aquele período da história, conforme esta definição técnica: “as colunas emolduradas por arcos foram construídas com blocos de dolomito e elas correspondem a um dos principais sistemas estruturais já inventados, além de remeterem às antigas construções do Império Romano. A precisão geométrica da semicúpula representa a racionalidade, a ciência e a técnica. O frontão triangular também é oriundo da arquitetura greco-romana. Tal forma geométrica representa o equilíbrio e a estabilidade”.

Um detalhe importante na fachada, é a presença de uma escultura de Marianne — a efígie da mulher que personifica a República e os ideais da França, que surgiram com a Revolução Francesa (1789/1799).

O requinte do Salão Nobre.

É preciso ainda destacar os trabalhos de ornamentação e decoração do interior do prédio, de autoria do alemão Frederico Anton Steckel (1834-1921), que também assinou as pinturas do Palácio da Liberdade. Após os trabalhos, realizados em 1896, ele acabou por fixar residência em BH.

Fronteira entre a arte e a tecnologia

Sala Djalma Guimarães.

No ano de 2008, o Prédio Rosa — que já sediou as secretarias do Interior e depois da Educação — ganhou uma nova destinação: após grandes obras de restauro, tornou-se o Museu das Minas e do Metal. O projeto arquitetônico foi assinado por Paulo Mendes da Rocha — e pelo filho Pedro Mendes da Rocha — considerado, ao lado do Oscar Niemeyer, um dos mais importantes arquitetos brasileiros de todos os tempo. Já o projeto museológico foi assinado por Marcello Dantas, consagrado   por inovar o conceito de museologia no Brasil, pois costuma trabalhar na fronteira entre a arte e a tecnologia em museus.

Sala Miragens.

Na arquitetura de Mendes da Rocha para o Museu da Minas e do Metal, chama a atenção de imediato uma bonita estrutura  envidraçada contendo elevador e escadas. Em descrição técnica, são “blocos em forma de “U” com um revestimento metálico em tom vermelho, intervenções essas que visaram melhorar a circulação interna”.

No térreo, denominado como nível Liberdade, estão as informações sobre o Museu, a Praça da Liberdade e Belo Horizonte. O primeiro pavimento é dedicado ao Museu das Minas enquanto o segundo andar concentra os atrativos do Museu do Metal. Já as áreas das exposições tomam os três pavimentos.

Sala Chão de Estrelas.

A partir do ano de 2013, a companhia Gerdau assume o museu, que passa a ser denominado como MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal. A instituição passa a ser um dos mais importantes atrativos do Circuito Liberdade, criado em 2010, que define o MM Gerdau como “um museu de ciência e tecnologia que apresenta de forma lúdica e interativa a história da mineração e da metalurgia. Em 20 áreas expositivas, estão 44 exposições que apresentam, por meio de personagens históricos e fictícios, os minérios, os minerais e a diversidade do universo das Geociências”.

Sala Nióbio.

Diversidade do universo mineral

Sala Miragens, vista de outro ângulo.

Já o sítio oficial do MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal https://mmgerdau.org.br/informa:  “no Térreo – Piso Liberdade, o ‘hall’ de entrada e a escadaria de forjaria alemã revelam a beleza do prédio. Na Praça de Convivência, estão localizados os serviços de Café e Loja, o Espaço Gerdau e a Druza de Quartzo, a maior e mais pesada amostra do acervo mineral. No 1º andar – Minas, um percurso pelas principais minas do Estado está representado neste andar, com personagens que contam histórias das Minas Gerais. Salas e exposições que apresentam a diversidade do universo mineral, como um inventário com mais de 400 amostras e o Chão de Estrelas, com lunetas interativas que revelam algumas das riquezas que compõem o nosso subsolo”.

Inventário Mineral.

“A importância do metal para a humanidade, seu uso e a evolução de suas aplicações estão no 2º andar – Metal, onde é possível formar compostos químicos na tabela periódica interativa e subir em uma balança para medir a quantidade de substâncias minerais em seu corpo. Também é possível conhecer o Professor Mendeleev e as Janelas para o Mundo, além da sala do Museu com a Língua Afiada e a exposição Minerais do Brasil, a maior coleção de minerais raros do país”.

Escultura Língua Afiada.

A beleza da escadaria adornada pelo o vitral.

Ciência e tecnologia como missão

Nesta entrevista, Márcia Guimarães, gestora do MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal, sintetiza a já histórica trajetória de sucesso da instituição, comenta a importância do museu como atrativo turístico e fala dos projetos para o futuro.

— Da fundação do MM Gerdau, em 2010, até os dias de hoje, qual é a avaliação sobre a importância que o Museu alcançou como um importante atrativo turístico não só de Belo Horizonte como também de Minas Gerais?

— O museu traçou muitos caminhos nesses 11 anos de abertura ao público. Nossa principal missão é nos posicionar como um museu de ciência e tecnologia, que conta a história da mineração, da metalurgia, das nossas riquezas minerais, sobretudo por meio de nosso acervo mineral. Este acervo é composto  por mais de 5 mil amostras, que nos colocam como referência no país. Além disso, o museu MM Gerdau tem aberto suas portas para diversidade ao longo dos últimos anos e traz, por meio das ações culturais e educativas, múltiplas abordagens com a cidade e com a sociedade diálogos sobre questões etnico-raciais, empreendedorismo feminino, longevidade/terceira idade, infância, sustentabilidade, tecnologia, música, games, memória, patrimônio! Importante salientar que o Museu tem como sede um dos edifícios mais simbólicos de Belo Horizonte, inaugurado em 1897, junto com a cidade: o Prédio Rosa. Desta maneira, nos firmamos como um atrativo turístico e cultural de BH e de Minas Gerais.

Druza de Quartzo.

— Nessa trajetória, o que poderia ser dito sobre a dinâmica das propostas do museu e no aprimoramento dele como instituição?

— Entendo que evoluímos no sentido explicado na resposta anterior, de ser um museu de ciência e tecnologia, que entende que seu campo de atuação pode e deve ser diverso, pois a sociedade está sempre em mudança e evolução. Sendo assim, como equipamento cultural aberto ao público, precisamos ser parte dessas mudanças. Prova disso foi a total adaptação do museu em ambiente virtual, assim que iniciada a pandemia, em março de 2020, mantendo diálogos e conexões com o público, mesmo com as portas fechadas. Em 2020, alcançamos mais de 4 milhões de pessoas com as nossas ações virtuais, dobrando nosso público virtual. Como aprimoramento da instituição, temos passado por processos internos de gestão, de organização administrativa, que ainda estão sendo amadurecidos, e também de planejamento estratégico. Essas ações internas têm nos ajudado a pisar em solo cada vez mais firme para pensar os próximos anos da instituição, a médio e longo prazos.

O museu abre espaço para exposições.

— O que poderia ser citado ou destacado como as principais conquistas do Museu MM Gerdau?

— Foram muitas, mas destaco algumas: lançamos pelo terceiro ano consecutivo um edital público de ocupação dos espaços do museu para artistas e pesquisadores de arte, ciência e tecnologia (Edital CoMciência – 2019, 2020 e 2021); mantemos a conservação e restauração periódica de um dos edifícios mais importantes de Belo Horizonte e de Minas Gerais (o Prédio Rosa); realizamos nossa primeira exposição autoral e totalmente acessível (Fósseis: do mar à conquista da terra – 2019); criamos um setor de Inclusão e Acessibilidade; realizamos o projeto Museu Volante, que levou parte do acervo do museu, para cidades do interior do Estado; implantamos um novo sistema de incêndio totalmente digital, sendo o único do Circuito Liberdade; abrimos nossa programação cultural e educativa para parcerias, recebemos a coleção Minerais do Brasil, exposta atualmente na sala Professor Doutor Álvaro Lúcio, como uma ação de renovação da expografia.

A cafeteria do museu.

—  Qual é a avaliação do MM Gerdau sobre o Circuito Liberdade como um produto turístico?

— O Circuito Liberdade é, sem dúvida, um complexo cultural de suma importância sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) e que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. Integramos o Circuito desde 2010, como um dos primeiros equipamentos culturais inaugurados, e entendemos que todos nós ganhamos com o fortalecimento do complexo e com a chegada de novas parcerias, como também de ações integradas, no sentido de somar esforços na divulgação da riqueza do Turismo em Minas Gerais. Minas são muitas e entendo que o Circuito Liberdade diz muito dessa multiplicidade.

A exposição atualmente em cartaz.

— O que o Museu MM Gerdau pretende em termos de novos projetos?

— Iniciamos um novo projeto chamado Museu Digital este ano, em função da nova realidade imposta pela pandemia; lançamos um novo site e, em breve, teremos um tour virtual completo e disponível em Inglês, Espanhol e LIBRAS para que visitantes do mundo todo possam ter acesso às nossas exposições. Esse projeto certamente se estenderá para o ano que vem. Para 2022, vislumbramos alguns projetos relativos aos 125 anos do Prédio Rosa, como carinhosamente é conhecido o edifício histórico de 1897, que nos abriga desde 2010. Neste momento, também estamos começando a desenhar o que chamamos de “futuro do museu”, momento de pensar os próximos passos da instituição, além de pretendermos realizar mais edições do Museu Volante nos próximos anos e receber novas exposições temporárias. É o que podemos adiantar por enquanto.

O MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal, é um dos grandes atrativos do Circuito Liberdade.

 

 

 

 

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