Aeroporto Internacional

André Junqueira Caetano

portão 2. sim. os portões. este saco total, esta torre de babel horizontal. o pé-direito baixo, as luzes amarelecentes misturadas com néons de cor nenhuma. essas mulheres feias. pretas brancas oxigenadas amareladas cinzas retintas. esses homens o que são? essas filas. soçobra um portão só, o de Kingston, Jamica. não, não me corrija computador, é isso mesmo. eu escrevo o que falam. e o que falam é isso. e sobre o amor, apesar do que falam, o que é se não uma projeção o mais provável espelho que reflita a própria imagem e que ela seja algo admirável ou seguro ou que pelo menos faça algum sentido? às vezes engano, é verdade, mas segue essa direção e é absolutamente impressionante a parecência desses casais empurrando carrinhos de bebê. mesmo aqueles italianos.

tantas cadeiras de rodas. por que tantas cadeiras de rodas? nenhuma música. muita televisão. televisões em todos os cantos. gordas. gordos. tanto mau gosto. os sulistas. os nortistas. damn yankees them all. até o vietnamita que engaveta o lixo em largos negros longos sacos plásticos. até ele e será impossível saber se lutaria essa guerra por uma boa cama um prato de comida um banheiro limpo e tempo negativo para si. cruza-se desertos e mais desertos para aqui se viver (meus amigos, meu coração é de vocês até quando ando tão longe. não escondo de mim quem em meu coração e quem não).

pilotos bem vestidos com seus uniformes semi-militares. pilotos passam aparentando uma tranquilidade como se estivesse tudo bem em casa. talvez esteja, mas eles viajarão distantes léguas até voltarem com o pão e a carne quiçá pulsante.

a área do restaurante esvazia-se. a jovem a mim em frente se foi. estava a olhar-me enquanto eu observava o povo das viagens internacionais. acho que como antídoto começou a me escrever. lá se foi com ela o que ela inscreveu. alemães ao lado. alemães tedescos e góticos com essa língua chibata na qual escreveram Sigmund.

passou enfim uma mulher bonita e de bom gosto e é curioso como elas sempre estão olhando para o lado oposto de quem as admira mas cheiram de longe essas admirações e sentem as diferentes gradações de calor e inspiram fundo a enormidade da distância. elas veem quando não olham e permitem o prazer longínquo. muito melhor do que ver miragem.

 Aeroporto de Atlanta (Geórgia), EUA

André Junqueira Caetano é Professor e Pesquisador – PPG Ciências Sociais/PUCMinas

(www.andrejcaetano.blogspot.com)

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ArtigosSagarana

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