170 anos de espera
Cachorro-vinagre, animal que já foi considerado extinto, é registrado no norte de Minas.
Por Guilherme Braga Ferreira
(texto e fotos)
Há 10 anos, no zoológico de BH, foi quando vi pela primeira vez este desconhecido representante da família do lobo-guará, das raposas e do cachorro-doméstico. Ao lado do local onde o animal estava, a placa informativa dizia: “O cachorro-vinagre é o único canídeo da América do Sul que caça em grupo”.
Na mesma hora, embora ainda estivesse na faculdade, pensei em fazer filmagens destes animais trabalhando em equipe para capturar suas presas. Resolvi, então, que iria estudar o cachorro-vinagre. E o plano era simples. Pediria à professora a indicação de um colega que estudasse esta espécie para que eu pudesse fazer um estágio de férias. O problema é que não havia ninguém estudando o cachorro-vinagre em vida livre. Não que os pesquisadores não se interessassem pela espécie, mas o animal é tão raro que, naquela época, toda a informação disponível vinha de estudos em cativeiro e de encontros esporádicos na natureza. Pior ainda, o cachorro-vinagre era considerado extinto
Mas como é o cachorro-vinagre e o que ele tem de tão especial? De corpo alongado, pernas curtas, pelagem marrom e pesando cinco quilos, o cachorro-vinagre é um animal pequeno, porém robusto. É o mais social dos pequenos canídeos, vivendo em grupos de até 10 animais. Diferente de todos os outros representantes da família dos cães na América do Sul, o cachorro-vinagre se alimenta exclusivamente de outros animais, podendo capturar presas relativamente grandes, principalmente tatus e pacas.
Poucos anos após aquele primeiro encontro no zoológico, uma pegada de cachorro-vinagre foi encontrada por um pesquisador no Vale do Peruaçu, norte de Minas. Um lugar que concentra elevada biodiversidade, centenas de cavernas e incrível beleza cênica. Agora a espécie estava oficialmente redescoberta, mas alguns rastros na lama era a única evidência de sua presença no estado. Esta informação era o que eu precisava para tirar do papel aquela vontade de estudar o cachorro-vinagre. Como ainda era estudante, esperei o primeiro feriado prolongado, peguei algumas câmeras automáticas emprestadas e viajei
Durante vários anos de pesquisas, mais de 20 espécies de mamíferos foram registradas pelas câmeras automáticas, mas o cachorro-vinagre não apareceu facilmente. Somente sete anos após a primeira tentativa, ele foi finalmente registrado no Peruaçu. O vídeo de menos de dois segundos de duração, obtido em setembro do ano passado, é o primeiro registro de um cachorro-vinagre vivo no estado em 170 anos. Desde que Peter Lund recebeu dois destes animais em sua casa,
Guilherme B. Ferreira é biólogo, trabalha no Instituto Biotrópicos e mora em Januária, norte de Minas Gerais.