Carnaval de Belo Horizonte

Momo desperto no largo

Por Celso Adolfo
Foto Vania Cardoso

Momo dormia no largo, corcovejante, sinuoso e vasto vale da depressão geológica belo-horizontina. Do nada, foi acordado pela população, que repôs o carro do carnaval à frente da cidade e das autoridades, exigindo que todos entrassem na dança. Chegamos até a um inusitado Encerramento do Carnaval de BH. Os blocos 2 PRA LÁ, 2 PRA CÁ no Prado, e o PERCUSSÃO BRASIL na Praça da Estação arrastaram as duas últimas multidões.

Entre muitas tentativas, o modelo escola de samba, mesmo sendo dos mais caros, deu lá os seus frutos entre nós. Artistas como Jota Dângelo e Serginho Beagá foram (não deixariam de ser desde 1970) dos que mais trabalharam pelo ele. Mas, o do tipo Sambódromo carioca, somente São Paulo pode arriscar a imitação. Entre muitos, o modelo trio elétrico é de Salvador, que o criou; o do frevo, é de Recife e Olinda. O que nos restaria, excetuada a imitação? Bandinhas, bloquinhos, blocos caricatos cidade afora, à base de sambas, marchas e qualquer outra coisa que a ocasião transformasse e servisse a um  carnaval que arrastou, desta vez, até a Rua Guaicurus com as suas prostitutas, clientes e demais doidões da área. E a folia aconteceu como há décadas não acontecia.

Das iniciativas oficiais, em 2003 assisti ao Desfile de Escolas de Samba na Via 240. Belotur em cima, quem buscasse luxos e excessos estaria no ligar errado. Subi e toquei no que deveria ser um trio elétrico, capitaneado por Tizumba. Divertimos do jeito que deu, pois carnaval também é improvisação. Mas, depois daquele 2003, como sempre fizera, corri de BH. Vendo tudo mudar, fiquei aqui nos últimos três anos.

Os bloquinhos e os blocos caricatos de agora trouxeram alguma poesia e um tom carinhoso ao carnaval. E se esse bloquinho virar blocão? A Banda Mole era um bloquinho. Virou blocão numa mudança descontrolada, pois carnaval continua sendo isso. Sei lá se é inevitável, mas, o carnavalão, aquele bicho doido e descontrolado que vemos em outras capitais, está na nossa porta. Ao que tudo indica, esse bicho quer desenrolar a sua cauda doida já em 2015.

Até ser desfeita, a poesia dos bloquinhos está no ar. Minha mulher e minhas meninas (de dez anos) saíram num deles, descendo do Sion, e nos encontramos na Praça ABC onde um palco modestíssimo recolhia os foliões à sua frente. Ali tocavam Chico Amaral e a banda Fita Amarela. Entre sambas e marchas antigas, também cantamos as  marchinhas locais que concursos há pouco inimagináveis vêm lançando. Por causa delas, a imprensa nacional tradicional também passou a ver o que nós também passamos a ver e realizar: um carnaval belo-horizontino.

BH tem 117 anos e, fora o futebol, a realização de certos eventos públicos ainda é uma peleja. Para ficar no exemplo do centro, a Praça da Estação, que sofre limitações, foi utilizada no tal e inusitado Encerramento do Carnaval de BH. Por ser central e atraente, a Praça da Estação exige leitura especial, pois já abriga o MAO (Museu de Artes e Ofícios) e tem vocação para ser importante espaço público para os mais variados acontecimentos onde a multidão é quem dá o tom.

Martinália na Savassi, mesmo não sendo o lugar ideal, foi lindo. Como 2015 cobrará faturas diferentes, seria possível utilizar a Esplanada do Mineirão ou alguma área do Parque das Mangabeiras para apresentações onde a multidão se formará?

Tudo isso interessa à imagem da cidade, e, quando os recursos oficiais estiverem sendo alocados, interessa também que, entre todas as demandas não desmoralizemos os nossos músicos, pagando-os bem e prontamente, conforme merecem.

Torço para que o carnaval de BH não acabe, por imitação, naquele gigante alado e descontrolado que se vê nas capitais para onde ele até leva muito dinheiro, mas custando alguma coisa aos prazeres da ocasião.

Belotur e Momo, prestemos atenção a essa ave, que sobrevoa o Brasil e está doida para  realizar o seu pouso doido neste belo, largo, corcovejante, sinuoso e vasto vale.

PS: Caetano Veloso, no artigo Saudades (O Globo, 09/03/2014), escreveu sobre o carnaval de rua do Rio, que o pegou neste ano. De tanto que a folia se move por imitação, com meia dúzia de ajustes um de nós poderia assinar o artigo e estaríamos falando do carnaval de BH.

*Celso Adolfo é violonista e compositor.

Frase 1!
Entre muitos, o modelo trio elétrico é de Salvador, que o criou; o do frevo, é de Recife e Olinda. O que nos restaria, excetuada a imitação?

Frase 2!
Entre todas as demandas não desmoralizemos os nossos músicos, pagando-os bem e prontamente, conforme merecem. 

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