Fascínio

Passar o ano em viagens para lugares paradisíacos em busca dos melhores cliques parece ser a profissão dos sonhos de qualquer pessoa. Mas esse é o trabalho do fotógrafo e ambientalista Marcos Amend.

Por: Juliana Afonso
Fotos: Marcos Amend

O curitibano de semblante tranquilo e espírito aventureiro já viajou meio mundo fotografando as maravilhas da natureza.

A história de Marcos com a arte da fotografia começou aos 14 anos, quando seu pai lhe deu uma máquina manual. Mas a noção do que aquele instrumento era capaz de fazer veio quando ele olhou uma foto de Ansel Adams. “Era uma imagem em preto e branco do Half Dome — no Yosemite National Park, na California — uma montanha meio chapada com uma lua cheia ao fundo. Quando vi aquela foto pensei: preciso aprender a fazer isso”, recorda.

Vários começos

A fotografia e a natureza não eram prioridades, mas estas paixões pareciam sempre dar um jeito de acompanhar Marcos Amend. A começar pelo seu próprio estilo de vida. Enquanto a maioria dos moleques queria ir para festinhas, ele ia para a Ilha do Mel ou para a Serra do Mar acampar. “A minha fase de balada não passou porque, na verdade, ela nem chegou”, se diverte o fotógrafo que gostava de um tomar uma cerveja com os amigos, mas guardava seus finais de semana para ficar em contato com a natureza.

Foi quando, aos 22 anos e já morador de Campinas (SP), ele comprou uma nova câmera com a qual fotografava suas pequenas viagens. As paisagens mais comuns eram montanhas, cachoeiras e animais. Os amigos sempre gostaram muito das fotos que, segundo Marcos, impressionavam mais pela beleza dos lugares do que pelas imagens em si.

A paixão pela fotografia era algo simples e não profissional, pois Marcos sempre trabalhou com coisas diferentes. Começou o curso de Engenharia Civil, se formou em Letras, fez uma especialização em Administração, mas trabalhava com Espeleologia — era uma atividade voluntária, ele foi presidente do Grupo de Estudos Espeleológicos do Paraná (Açungui) por quatro anos. “Comecei a fazer fotos de cavernas e percebi que em um ambiente como esse você precisa ter uma exposição perfeita da luz, caso contrário não há como fazer fotos”, detalha. Por causa disso ele começou a se aprofundar um pouco mais na parte técnica da dessa arte.

Quando voltou para sua cidade natal, em 1997, fez mestrado em Engenharia Florestal. Um amigo que fora morar no exterior e sabia do seu interesse pelo assunto deixou um laboratório de fotografia para Marcos, que o levou para os fundos da sua casa. Então o flerte casual se transformou em amor contumaz. “Li vários livros e aprendi mais sobre o fazer fotográfico, a revelação do filme, as técnicas de ampliação”, cita. Quando terminou o mestrado, investiu em um equipamento de melhor qualidade e fez do lazer uma atividade diária.

Arte rara

“Meus pais me deram o livro “O assombroso mundo da natureza” quando eu era criança e sempre que eu via as fotos pensava que aquilo não era pra qualquer um. Então eu me tornei uma daquelas pessoas que eu pensava que nunca ia ser”, ri Marcos, que ainda se sente um privilegiado quando olha as fotos que fez até hoje e percebe em quantos lugares surpreendentes ele já esteve.

As pequenas viagens se transformaram em grandes expedições em 2001, quando foi morar na Amazônia. Durante um ano e meio, Marcos viveu em uma casa flutuante como gerente do programa de Ecoturismo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, rodeado de jacarés, botos, macacos e papagaios. Era oportunidade fotográfica todo dia, o dia todo.

Marcos já pisou em grande parte do território nacional e carimbou seu passaporte em diversos países. A cada viagem fica mais difícil dizer qual lugar é o preferido. “A Amazônia tem grande riqueza de detalhes por causa dos seus bichos e plantas, já o Pantanal é grandiosamente lindo. Não sei o que acontece com o pôr-do-sol dali que é uma coisa impressionante. Outros locais também são incríveis, como o oeste dos Estados Unidos, que é muito diferente do que a gente está acostumado e faz os brasileiros enlouquecerem como os estrangeiros que chegam ao nosso país”, afirma.

Fotografar é desfrutar

A maior emoção de Marcos veio quando ele viu a montanha que tinha lhe motivado a começar a carreira: a Half Down, no Parque Nacional de Yosemite, nos Estados Unidos. Ali ele aproveitou para fotografar uma série de paisagens diferentes, inclusive o Mirror Lake, um lago glacial no qual ele esperou cerca de duas horas e meia para a luz perfeita.

Marcos é um fotografo paciente. Não é daqueles que sai por aí disparando seus ‘clicks’ a torto e a direito. “As vezes chego em um determinado lugar, olho, olho e olho… acho que não vai ficar bom e não aperto o botão”, diz. Ele mantém essa forma criteriosa pois acredita que o grande  barato da fotografia é desfrutar.

Como ele fez quando estava na Península Valdez, na Argentina, fotografando baleias em um bote inflável. Ele estava no bico do barco quando viu um filhote tão perto que se colocasse a mão na água encostava nele. “Naquele momento, a teleobjetiva que eu utilizava não era a lente apropriada. Quando fiz o movimento de me mexer para trocar a lente desisti e falei: vou ficar por aqui mesmo”, revela.

Conservação do meio ambiente

A ligação com o meio ambiente sempre foi uma constante na vida de Marcos. Não é de se espantar que hoje ele atue como diretor executivo da ONG Conservação Estratégica — que faz estudos e treinamentos na área de economia com foco em conservação do meio ambiente. Tudo começou em 2001 quando ele fez um curso na mesma ONG americana, que queria desenvolver alguns projetos no Brasil. “Então o presidente chamou a mim e outra pessoa pra fundar a ONG em Belo Horizonte”, conta. “Foi nesse momento, em 2003, que eu resolvi mudar definitivamente para Minas Gerais”.

O trabalho atualmente ainda acontece em parceria com eles, mas também há projetos 100% brasileiros.

O trabalho com a ONG Conservação Estratégica é puxado… mas Marcos conseguiu unir sua profissão e sua paixão de tal forma que hoje elas se confundem. “Vários projetos funcionam como via de mão dupla. Eu desenvolvo o projeto e aproveito para fotografar e como fotógrafo posso registrar o projeto em ação e ajudar na sua divulgação”, explica. É o que acontece com o projeto Garah Itxa (lê-se Nhara Itchá), que na língua tupi-mondé significa “unidos com a floresta”. O projeto tem o objetivo de fortalecer os povos Suruí e Parintintin para que eles consigam uma melhor gestão das suas terras e o desenvolvimento de alternativas econômicas, como o ecoturismo na região.

Prazer em dobro

Com tantas atividades, a única coisa que Marcos parece não conseguir fazer é dizer do que gosta mais. Sua maior fonte de prazer é exatamente poder juntar o trabalho de preservação da natureza com a fotografia, um aprimorando o outro. “A fotografia me dá mais sensibilidade para observar a natureza com detalhes. Eu sempre enxergo as coisas com enquadramento e mesmo sem a câmera eu fotografo mentalmente (risos). É incrível como a fotografia faz a gente enxergar diferente”, diz. Assim como faz na ONG, Marcos procura sempre passar uma mensagem nas suas fotos. “Busco mostrar as paisagens como algo que é possível conhecer e não como algo inacessível. Quero que as pessoas tenham vontade de conhecer os lugares que vêem nas fotos”.


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