Patrimônio Mundial Natural desde 2001, Fernando de Noronha é incontestavelmente um dos destinos turísticos mais almejados do Brasil. E não é para menos: seus encantos vão muito além de águas cristalinas, paisagem paradisíaca e uma natureza exemplarmente conservada. Este conjunto de 21 ilhas localizado a 360 quilômetros de Natal e a 540 de Recife reúne história, natureza, cultura popular e gastronomia.
Reportagem: Marina Rattes /Cezar Félix
Fotos: Jean Yves Donnard
Fernando de Noronha foi uma das primeiras terras avistadas no Novo Mundo. De acordo com a história oficial, o arquipélago foi descoberto em 1503 pelo navegador italiano Américo Vespúcio, integrante da segunda expedição exploradora da costa brasileira. Os primeiros registros do arquipélago, no entanto, são de autoria do cartógrafo espanhol Juan de la Cosa, que em 1502 delineou perfeitamente o conjunto de ilhas em um de seus mapas. Em 1504, a então chamada ilha de São Lourenço foi doada ao português Fernão de Loronha — que havia financiado a expedição de 1503 — e convertida na primeira capitania hereditária do Brasil.
Situada em um ponto vulnerável, na rota das grandes navegações que cruzavam o oceano rumo à América do Sul, Fernando de Noronha ficou abandonada durante mais de 200 anos. Neste período, foi cobiçada e ocupada por diferentes povos, a exemplo dos ingleses, no século XVI, dos holandeses, no século XVII, e dos franceses, no século XVIII. Para impedir que o lugar continuasse a ser invadido, Portugal optou em 1737 pela ocupação definitiva da ilha através da Capitania de Pernambuco. Foi construído então o maior sistema fortificado do século XVIII no Brasil, composto por dez fortalezas, entre elas a de Nossa Senhora dos Remédios.
De Colônia penal a Patrimônio Natural
Nesta mesma época, o arquipélago foi transformado em um presídio. Foram esses presidiários os responsáveis por erguer todo o patrimônio edificado e sistema viário que interliga as diversas vilas e fortes. Por medida de segurança — para evitar fugas e esconderijos —praticamente toda a vegetação original foi desmatada, o que resultou na alteração do clima da região.
Entre 1938 e 1945 Fernando de Noronha serviu novamente como colônia penal, desta vez, um presídio político. Esta condição voltou a prejudicar o meio ambiente local, devido à importação de espécies de fauna e flora e ao desmatamento desenfreado.
Outro episódio inesperado da história do arquipélago aconteceu em 1942, quando Fernando de Noronha foi transformado em Território Federal Militar e o Brasil concordou em que os norte-americanos — que entravam para a Segunda Guerra Mundial — montassem uma estação de rastreamento aéreo na vila do Boldró. A população local sofreu um enorme aumento e, para abrigar os cerca de 3 mil novos moradores, foi construída uma grande quantidade de casas pré-moldadas.
Nos anos seguintes, as Três Armas passaram a administrar o arquipélago em regime de rodízio, até que em 1988, o território foi reintegrado ao estado de Pernambuco. No mesmo ano, em uma área de 26 quilômetros quadrados, foi criado o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (Parnamar / FN). Treze anos depois, em 2001, Fernando de Noronha ganhou o título de Patrimônio Mundial Natural, concedido pela Unesco.
Passados mais de cinco séculos desde a chegada de Américo Vespúcio, Fernando de Noronha ainda guarda vestígios do passado nas diversas construções históricas que permanecem de pé. Andar pelas ruas da vila pode se transformar em um agradável passeio por diferentes períodos da história.
A Vila dos Remédios é um dos pontos mais badalados de Fernando de Noronha e também onde se encontram as construções de maior relevância histórica e melhor estado de conservação, como a Igreja e o Forte de Nossa Senhora dos Remédios e o Palácio de São Miguel.
Devido às suas condições favoráveis —como fácil acesso a água e ao ancoradouro — a Vila dos Remédios foi escolhida tanto pelos holandeses como pelos luso-brasileiros como o principal núcleo urbano de Noronha. A partir do século XVIII, toda a estrutura da ilha funcionava ali. A administração — com seus prédios públicos, os alojamentos carcerários e oficinas para presidiários —, a igreja, a praça de comando, as residências, o almoxarifado, a escola, o hospital e os armazéns que guardavam a produção agrícola e os suprimentos que chegavam do continente.
Durante os dois séculos seguintes, a Vila dos Remédios continuou a ser utilizada como principal núcleo da ilha. Até meados do século XX, sua estrutura original se manteve totalmente conservada. No entanto, com a ocupação norte-americana ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial, o formato e as construções originais da vila foram perdendo espaço para as casas pré-moldadas.
Monumentos relevantes
Atualmente, o conjunto histórico de Noronha conta com cerca de 20 construções relevantes. Vale a pena conferir a Igreja Nossa Senhora dos Remédios, principal templo católico da ilha. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1981, esta construção, que data de 1772, levou 32 anos para ser totalmente concluída. Erguida em um terreno elevado, com a frente voltada para uma enseada, a igreja possui uma fachada de arquitetura simples e interior formado por nave-salão única e capela-mor em cantaria arenítica. Desde sua construção, sofreu duas grandes restaurações, a última delas em 1988. Dez anos depois, em 1998, o templo foi pintado, voltando a exibir suas cores originais.
A devoção à Virgem dos Remédios inspirou também a denominação do principal forte da vila. O Forte de Nossa Senhora dos Remédios, que data de 1737, é a mais importante das dez fortificações erguidas nos séculos XVII e XVIII para defender a ilha. Construído em um terreno alto, sobre as ruínas de um antigo reduto holandês, o forte tem a forma de um polígono irregular orgânico com quatorze ângulos e quatro edificações ao centro do terrapleno. Tombada pelo Iphan em 1937, a construção localizada ao norte da ilha serviu de abrigo para presos comuns e políticos ao longo da história.
O Palácio de São Miguel, por sua vez, pertence à história recente de Fernando de Noronha. Erguido em 1947, sobre as ruínas da antiga diretoria do presídio, funcionou durante décadas como sede do governo do Território Federal Militar. Inaugurado em 1948, o casarão ainda guarda móveis de meados do século passado, duas obras do pintor pernambucano Wash Rodrigues e um vitral com a imagem do arcanjo São Miguel feito pela artista Aurora Lima.
Agradável recanto verde, o Jardim Elizabeth é um dos pontos mais procurados pelos turistas para dar um passeio ou simplesmente relaxar. Foi usado, a partir do século XVII, como espaço para a aclimatação de plantas trazidas da Europa e também como horta, pensada para abastecer a Vila dos Remédios. Além de uma farta e exuberante vegetação, guarda pontes originais do século XVII, terraços e estradas de pedra.
História oral
A cultura local de Fernando de Noronha está estreitamente ligada à sua história oral. São incontáveis as lendas, os relatos e os casos que permeiam o imaginário popular desta ilha tão singular.
Dizem, por exemplo, que o famoso pirata inglês do século XVII Capitão Kidd teria escondido seu extraordinário tesouro em uma caverna do arquipélago. Acostumado a saquear embarcações que navegavam pelos oceanos, o capitão teria sido perseguido nas redondezas e, com medo de ser capturado, teria guardado ali suas riquezas. Desde então, aventureiros de todos os cantos passaram a procurar as jóias do pirata. Até hoje nenhum foi capaz de localizá-las. Aliás, ninguém sequer ousou descer o íngreme paredão que leva à caverna. O lugar, é claro, ficou conhecido como Caverna do Capitão Kidd.
Parece ser que esta ilha está repleta de riquezas escondidas. Contam também que um velho estranho de longas barbas atraía pessoas a um lugar onde havia uma cruz formada por duas raízes de cajazeira. Ali estava enterrado um tesouro. Todos que se atreviam a cavar junto às raízes em busca das jóias, despertavam a árvore, que estremecia e movia violentamente os galhos, mesmo que não houvesse vento. Tudo o que se sabe é que a região é mal-assombrada e fica perto da antiga estação de rádio da Marinha.
São muitas as histórias da época em que a ilha serviu como colônia penal. Uma delas conta que a exuberante natureza local era utilizada para torturar os presidiários. Os indisciplinados eram isolados na Ilha da Rata sem comida e abrigo ou abandonados durante dias dentro de cavidades cheias de água. O relato mais assustador, no entanto, é o de que os presos muitas vezes eram atirados do alto do morro onde fica o Forte dos Remédios. Ao caírem na água, eram tragados por uma fresta que produzia um som bastante sombrio. Este som ficou conhecido como Ronco do Leão e é hoje um dos atrativos turísticos de Noronha.
São infinitas as histórias e lendas. Mas, melhor que ler os relatos é escutá-los da boca de um fernando-noronhense. A dica é tirar um dia para dar uma volta pela vila e conversar com os moradores. Com certeza o visitante voltará para casa com um rico repertório de casos e entendendo melhor a surpreendente cultura deste lugar.
Natureza
“O Paraíso é aqui. Infinitas águas e infinitas árvores; aves muito mansas, que vinham comer às mãos; um boníssimo porto que foi bom para toda a tripulação”. Estas foram as palavras usadas por Américo Vespúcio para descrever, em 1503, a ilha que acabava de encontrar. Passados mais de 500 anos, estas palavras continuam a descrever com perfeição a sensação de quem chega pela primeira vez em Fernando de Noronha.
Existe uma grande diversidade de fauna e flora neste arquipélago vulcânico. Para se ter uma idéia, estas 21 ilhas e ilhotas possuem juntas 400 espécies de plantas, 55 espécies de aves migratórias, 95 espécies de peixes, além de grande quantidade de tartarugas e golfinhos. Além disso, abrigam o maior número de colônias reprodutivas de aves marinhas entre todas as ilhas do Atlântico Sul Tropical, totalizando mais de 40.
A vegetação predominante é composta por espécies típicas do agreste nordestino, com árvores nas áreas mais elevadas e arbustos nas superfícies baixas. A Mata Seca, encontrada na Ponta da Sapata, representa 25% de toda a vegetação de arbustos e árvores da ilha habitada. Ela é utilizada pelas aves marinhas e terrestres para a construção de seus ninhos. As principais espécies arbóreas e endêmicas são a Gameleira, o Mulungu e a Burra Leiteira. Também se observa na região a única ocorrência de mangue insular no oceano Atlântico Sul, em uma área de 1500 m2 localizada na baía Sueste.
Assim como em outras ilhas oceânicas, Fernando de Noronha apresenta uma avifauna exuberante – muito mais variada e singular que seu grupo de anfíbios, répteis e mamíferos. Entre as aves de maior concentração no arquipélago estão a viuvinha, que constrói seus ninhos utilizando algas coletadas na superfície da água, a viuvinha grande, o trinta réis de manto negro e a viuvinha branca. Podem ser encontradas ainda seis espécies de aves parentes dos pelicanos: os mumbebos branco-grande, marrom e de patas vermelhas, a catraia e os rabos de junco de bico amarelo e bico vermelho. Merece destaque a espécie endêmica Vireo gracilirostris, pássaro insetívoro e frutívoro conhecido como sebito. Também passeiam por aqui mais de dez espécies de maçaricos e batuíras. São as aves migratórias de longo percurso que se deslocam do hemisfério norte para descansar e se alimentar na região.
As inúmeras piscinas naturais permitem o contato direto com a variada e exótica fauna marinha do arquipélago. As águas que rodeiam as ilhas estão repletas de peixes, esponjas, algas, moluscos e corais, dentre eles o mais abundante no arquipélago, o Montastrea cavernosa. Peixes coloridos como a donzela de rocas, o sargentinho, a coroca e moréia são facilmente encontrados em águas rasas. Nas águas mais profundas podem ser vistos o frade, o budião, a ariquitam, a piraúna, o borboleta, o lambaru e as arraias, entre outros.
Fernando de Noronha é famoso por seus golfinhos rotadores, que podem atingir até dois metros de comprimento e 90 quilos. Todos os dias ao nascer do sol, eles se deslocam em grandes grupos rumo à Baía dos Golfinhos, uma área de águas calmas e protegidas. Utilizam esta área para descansar e reproduzir. À tarde saem para se alimentar de pequenos peixes e lulas em alto-mar. Este é o único local onde ocorre concentração de golfinhos rotadores em todo o Oceano Atlântico. A conservação da espécie é possível graças à proibição de circulação de embarcações e mergulho na enseada, em vigor desde 1986. É também proibida por lei federal a caça e captura de todas as espécies de cetáceos – golfinhos, botos e baleias – em águas brasileiras.
De dezembro a maio – período de chuvas no arquipélago – as tartarugas aruanas se agrupam nas praias do Leão e do Sancho. Durante a noite, as fêmeas vão até a areia para depositar seus ovos, que permanecem incubados durante 50 dias. Mergulhando nas águas transparentes de Noronha, o visitante pode se deparar com as tartarugas-de-pente – espécie altamente ameaçada de extinção. Elas usam o arquipélago apenas como local de crescimento a alimentação. Sua origem e suas rotas migratórias são desconhecidas pelos pesquisadores. O perfeito estado de conservação de Fernando de Noronha se deve por um lado às diversas medidas de proteção ambiental adotadas na região a partir da década de 1980 e por outro à consciência ecológica da população local.
A primeira ação de grande impacto teve inicio em 1984, quando o Centro Nacional de Conservação e Manejo das Tartarugas Marinhas Tamar / Ibama se instalou no arquipélago. O objetivo do programa é zelar pelas fêmeas, ovos e ambientes de reprodução das tartarugas marinhas, além de avaliar e acompanhar suas populações, através da marcação e recaptura dos animais que utilizam o arquipélago como área de alimentação, crescimento e repouso. A praia do Leão é a área de desova mais propícia para o monitoramento diário, concentrando 80% das ocorrências. As demais desovas acontecem entre as praias do Sancho e da Conceição. Desde 1990, mais de mil tartarugas já foram marcadas pelo Tamar. Outra vertente do programa é a sensibilização e educação ambiental, realizada principalmente por meio do Centro de Visitantes – Museu Aberto das Tartarugas Marinhas, localizado na Alameda Boldró.
Em 1988 – mesmo ano em que o arquipélago deixou de ser Território Federal Militar e voltou a fazer parte do estado de Pernambuco – foi criado, por decreto federal, o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (Parnamar / FN). Formado por dois terços da ilha principal e todas as ilhas secundárias, totalizando uma área de 112,7 km2 e um perímetro de 60 km, o parque protege os ecossistemas terrestre e marinho, preserva a fauna e flora locais e colabora para a educação ambiental e a pesquisa científica.
A entrada de turistas é permitida de forma controlada, consciente e sustentável, visando impedir qualquer prejuízo para o meio ambiente. Além da famosa taxa de preservação ambiental exigida para a entrada na ilha, inúmeras normas de comportamento devem ser respeitadas pelos visitantes. Dentro da área do parque é proibido, por exemplo, alimentar animais, coletar sementes, raízes, frutos, conchas ou corais, nadar com os golfinhos, visitar ilhas, ilhotas ou rochedos, acampar ou praticar mergulho sem a intermediação de uma empresa credenciada.
O restante da área do arquipélago que não faz parte do Parnamar foi transformado, em 1989, em Área de Proteção Ambiental (APA). A APA está dividida em espaço de uso residencial, espaço de atividades múltiplas e zonas especiais de preservação.
A riqueza ambiental perfeitamente conservada de Fernando de Noronha fez com que, em 2001, o arquipélago fosse reconhecido pela Unesco como Patrimônio Natural Mundial. Visto internacionalmente como uma espécie de selo de qualidade ambiental, o título faz crescer a responsabilidade e o compromisso de visitantes e moradores em contribuir para a proteção do arquipélago.
Turismo
Neste paraíso ecológico não faltam opções de lazer. Fernando de Noronha oferece um amplo cardápio de atividades turísticas, que vão desde uma leve e relaxante caminhada pelo Jardim Elizabeth até um mergulho em alto mar ou um típico e delicioso jantar em um dos restaurantes locais. A taxa de preservação ambiental cobrada para a entrada na ilha, não é impedimento para os cerca de 800 turistas que circulam diariamente pela comunidade. De todas as idades e perfis, eles vêm a Fernando de Noronha para descansar e relaxar, mas principalmente para conhecer as maravilhas do lugar. “Em Noronha estão as praias mais lindas do Brasil. São incríveis as surpresas que essas águas cristalinas e com varias tonalidades de azul guardam. O pôr do sol é impressionante. A beleza natural da ilha e a riqueza da fauna marinha fazem de Noronha um cenário encantador e inesquecível”, conta a estudante Gabriela Braga Ceccato Prates. “As paisagens são exuberantes. As aves fazem vôos rasantes e comem peixes nas mãos dos pescadores. Nunca tinha visto isso antes. Achei sensacional”, completa o administrador de empresas aposentado Ricardo de Avelar Andrade.
Uma das atividades mais procuradas é o mergulho autônomo. Experientes ou amadores, os adeptos deste esporte são unânimes em afirmar que Fernando de Noronha é um dos melhores pontos de mergulho do mundo. Além da incrível diversidade de fauna marinha, a média de temperatura da água é de 26 graus e a visibilidade de até 50 metros na horizontal.
São muitos os locais abertos à exploração turística – todos por meio das operadoras credenciadas. Para quem nunca mergulhou, é possível realizar um curso no próprio local. Um dos pontos mais cobiçados é Pedras Secas, uma formação rochosa peculiar, habitat de grandes cardumes e até golfinhos. A Laje dos Dois Irmãos, também conhecida como Laje dos Tubarões, é uma grande área submersa repleta de tubarões de bico fino – uma espécie mais arisca e selvagem que seus primos cação-lixa, também encontrados no local. Na Caverna da Sapata – em um dos extremos da ilha principal – os mergulhadores fazem um passeio subaquático até chegar a uma enorme gruta submersa.
Pra aqueles que não se animam a colocar máscaras, roupas especiais e tanques de oxigênios, o mergulho livre ou, de flutuação, pode ser uma ótima opção. Este tipo de mergulho também deve ser feito com o acompanhamento de um guia credenciado. Os locais mais comuns para esta atividade são o naufrágio do Porto de Santo Antônio, o Morro de Fora na Praia da Conceição e a Baía do Sueste. “Com máscara e snorkel, nadamos pertinho das tartarugas, ouriços, arraias, tubarão lixa e milhares de peixinhos coloridos”, conta Gabriela. Os mergulhos acontecem todos os dias pela manhã e pela tarde e têm duração aproximada de duas horas e meia. Outra boa pedida são os passeios de barco. Um dos trajetos sai do Porto de Santo Antônio, passa ao lado das ilhas secundárias e suas formações rochosas e continua rumo ao outro extremo do arquipélago, cruzando diversas baías e praias, como a do Sancho, onde é feita uma parada para banho. Também existem passeios no período da tarde, uma ótima opção para quem quer apreciar o pôr do sol rodeado de um cenário inesquecível.
Mar de dento e mar de fora
Na linguagem local, Fernando de Noronha tem dois mares. O “mar-de-dentro” é aquele que vai ao encontro do continente brasileiro. E o “mar-de-fora” é o outro, o que vai dar lá na África. Com águas calmas, protegidas do vento, o mar-de-dentro possui 10 praias e duas baías. O acesso de uma praia à outra é bastante tranqüilo. Fazendo uma agradável caminhada, é possível conhecer vários lugares no mesmo dia. A primeira praia do mar-de-dentro é a Biboca. Situada abaixo da Fortaleza dos Remédios, é formada por pedras negras que evidenciam a origem vulcânica da ilha. Apesar de não ser apta para banho, permite caminhadas na maré baixa. Por ali costumam ser encontrados muitos vestígios de naufrágios.
Logo em seguida e bem próxima à vila, fica a Praia do Cachorro, que recebeu esse nome porque possuía uma fonte em bronze com a cara de um cachorro. Entre as atrações da praia estão uma bica de água doce, uma piscina em pedra – o Buraco do Galego – e as muralhas do Parque Sant’ana, conhecidas como Salgadeira por terem sido usadas pelos pescadores para salgar o peixe.
Passando pela Praia do Meio, pequena extensão de águas mansas e piscinas de pedra, chega-se à mais popular das praias do arquipélago. De grandes proporções e fácil acesso, a Praia da Conceição – também conhecida como Italcable- está localizada no sopé do Morro do Pico. O primeiro nome decorre da existência, no século XVIII, de um forte chamado Nossa Senhora da Conceição. A segunda denominação se deve à presença, a partir de 1925, de italianos de uma empresa de telegrafia submarina a cabo chamada Italcable. Nas marés altas, esta praia é ótima para a prática do surfe. Na maré mansa, é calma e perfeita para relaxar.
Outra praia bastante atrativa para os surfistas é a Praia do Boldró. Na maré alta, suas ondas são um convite para quem aprecia o esporte. Quando a maré está baixa, é possível caminhar sobre as pedras e por uma longa extensão de areia. No alto de uma falésia fica o Forte de São Pedro do Boldró, um excelente mirante de grande valor histórico por ser uma das fortificações do sistema implantado na ilha no século XVIII. Para quem busca privacidade, a Praia do Americano é uma ótima opção. Ganhou este nome por estar localizada ao lado do Posto de Observação de Teleguiados, na época em que a ilha serviu como base militar para os Estados Unidos.
Saindo da Praia do Bode – com suas piscinas de pedra e enorme rocha que serve como mirante – e passando pela pequena e sossegada Praia da Quixabinha, chega-se à Cacimba do Padre. Uma das maiores praias da ilha, tem como atração principal o Morro dos Dois Irmãos. Na parte alta funcionou, durante os séculos XVIII e XIX, um grande alojamento de presidiários de mau comportamento, chamado Vila da Quixaba.
Outra maravilha do arquipélago é a Baía dos Porcos. Uma área pequena, com pouca extensão de areia e repleta de pedras, transformada em lindas piscinas naturais de peixes coloridos. Emoldurada por um alto paredão de rochas pretas e pelo Morro dos Dois Irmãos possui, na parte alta, o Forte de São João Baptista dos Dois Irmãos, última fortificação deste lado da ilha. O acesso à baía é difícil e feito pelas pedras.
Uma das poucas áreas que permitem a parada de embarcações sem prejuízos aos corais é a Praia do Sancho. O acesso a este lugar de águas transparentes e paisagem exuberante pode ser feito pelo mar ou pelas rochas, por meio de escaladas. Vale lembrar que a Praia do Sancho está dentro do perímetro do Parnamar e por isso possui fiscalização constante. A mais conhecida atração de Fernando de Noronha é a Baía dos Golfinhos. Considerado o maior aquário natural do mundo em animais desta espécie, este local é usado por eles para acasalamento e descanso. Como a entrada de turistas é proibida, a solução é admirar os simpáticos animais do alto da baía, no Mirante dos Golfinhos.
No extremo da ilha principal fica a Ponta da Sapata, um dos lugares preferidos dos mergulhadores. Nesta área ainda há vegetação nativa, que permanece praticamente intocada por estar em uma região íngreme e de difícil acesso. Do outro da ilha, no chamado mar-de-fora, estão mais quatro praias e uma enseada, além de áreas de contemplação e piscinas naturais. O mar é agitado e repleto de arrecifes e peixes coloridos. Ótimo para os adeptos do mergulho.
A Praia do Leão se destaca por suas formações rochosas. De um lado, uma enorme pedra que se assemelha a um leão marinho – daí o nome do lugar – e do outro, o Morro da Viuvinha, com seus incontáveis ninhos. No alto, as ruínas do Forte do Bom Jesus do Leão, com 13 canhões semi-enterrados. É nesta praia que ocorre o maior número de desovas de tartarugas. Por esta razão, fica proibida a entrada de turistas após as 18 horas durante os períodos de desova.
A Praia do Atalaia possui uma paisagem singular. Pedras negras de origem vulcânica, arrecifes, piscinas naturais de intensa vida marinha e uma pequena extensão de areia. No canto esquerdo da praia ficam as ruínas de uma salina que funcionou ali durante a Segunda Guerra Mundial. A praia está localizada na área do Parnamar e recebe rígida fiscalização do Ibama. Outro atrativo imperdível é a Enseada da Caeira. Situada dentro do perímetro do parque nacional, possui inúmeras piscinas em pedra, uma enorme variedade de pássaros e grandes dunas ao redor. De mar calmo e ondas suaves, a Baía do Sueste é uma alternativa ao Porto de Santo Antônio durante as épocas de ressaca no mar-de-dentro. À esquerda da baía estão as ruínas no Forte de São Joaquim do Sueste. Junto ao mar, o único mangue em ilha oceânica.
Emoldurada por um mar de azul profundo e repleta de piscinas naturais, peixes coloridos, arraias e cações, a Ponta das Caracas atualmente está proibida para banho devido a seu acesso perigoso. Vale a pena, no entanto, apreciar a paisagem. Entre as áreas de contemplação se destacam o Buraco da Raquel – enorme pedra à beira-mar, rodeada de piscinas rasas, cheias de peixes coloridos – e a Ponta da Air France – de onde pode ser vista a única fortificação localizada fora da ilha principal, o Forte de São José.
Trilhas e caminhadas
Para quem gosta de caminhar aproveitando a natureza, a dica são as surpreendentes trilhas e caminhadas. A Trilha do Atalaia leva em média cinco horas para ser concluída e exige bastante esforço físico dos participantes. O grupo sai da Praia da Caeira e passa por falésias e rochas até chegar ao Morro da Pontinha, que oferece uma linda vista do arquipélago. A última parada é a Praia do Atalaia, onde poder ser feito mergulho de flutuação.
Para quem se interessa pelo passado de Fernando de Noronha, existem duas opções de passeio, a Trilha Histórica – que exige bom condicionamento físico e dura cerca de cinco horas – e a Caminhada Histórica – atividade leve que pode ser feita em até três horas. A primeira começa na Praia do Americano, passa pelas ruínas do antigo Forte de São Pedro do Boldró até chegar à praia do Boldró. Em seguida, continua pela encosta do Morro do Pico e Praia da Conceição, terminando no conjunto histórico da Vila dos Remédios.
Já a Caminhada Histórica começa pelas igrejas, casarões e ruínas da vila e continua pelas praias do Cachorro, Meio e Conceição. Na última, é feita uma parada para banho.
Gastronomia
Para completar o leque de atrativos, Fernando de Noronha oferece ao turista diferentes opções gastronômicas, que vão desde a culinária regional mais simples até pratos requintados. Peixes e frutos do mar são os principais ingredientes presentes no cardápio. Uma especialidade local é o tubalhau – famoso bolinho preparado com carne de tubarão.
“A ilha é pequena, mas oferece restaurantes com variedade. O peixe na folha de bananeira é delicioso”, conta Gabriela. São cerca de 30 restaurantes que atendem os mais variados paladares. Durante o dia, os bares da Praia do Meio e Conceição servem petiscos e lanches. À noite é a vez dos pratos mais elaborados, como os frutos do mar do Ekológikus, no Sueste; as massas da Tratoria di Morena, na Floresta Velha; os sushis do Porto Marlin, no Porto; a moqueca do Varandão da Ilha, na Vila do Trinta; e o bufê do Zé Maria.