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Rota do Café Especial, turismo de experiência

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Vista da sede da Fazenda Sertão, hoje um museu: acervo da história da cafeicultura. Foto André Sena.
Vista da Fazenda Sertão, em Carmo de Minas. Foto André Sena

Vista da Fazenda Sertão, em Carmo de Minas. Foto André Sena.

A Fazenda Sertão — localizada em Carmo de Minas — inaugurou, em 2005, a sua trajetória na produção de cafés especiais com a marca Unique Cafés. Na primeira safra, ganha o Cup of Exellence, com 95.85 de pontuação, um recorde ainda não batido. A propriedade também é pioneira ao fazer cafeicultura um atrativo turístico: a Rota do Café Especial, Turismo de Experiência, atrai visitantes brasileiros e estrangeiros.

Reportagem Maria Vaz
Fotos André Sena/Cezar Félix

Na centenária Fazenda Sertão, localizada no pequeno município de Carmo de Minas, sul de Minas, nos domínios da Serra da Mantiqueira, nasce a Unique Cafés, uma cafeicultura destinada a quebrar certos padrões há tanto tempo impostos ao café brasileiro: não se trata mais apenas de produzir quantidade, mas sim um produto de alta  qualidade. Assim, o café especial abre as portas do Brasil para o mundo.

Foi a partir do ano de 2005 que a fazenda da senhora Nazareth Dias Pereira — cuja primeira safra foi registrada no ano de 1912 —, começa sua história no mundo dos cafés especiais. A primeira produção aconteceu graças à iniciativa do neto Jacques Pereira Carneiro, em parceria com outros dois especialistas, Flávio Borem e Silvio Leite. Naquele mesmo ano, a primeira lavoura enfrentou um primeiro teste dentro desse novo mercado: a bebida produzida surpreende ao atingir uma pontuação recorde 95.85 pontos no mais renomado concurso mundial de cafés especiais, o Cup of Exellence. É importante registrar que até hoje esse recorde não foi batido.

A bela vista proporcionada pela Rota do Café Especial.

Trilhas sinalizadas com as informações necessárias. Foto André Sena.

A vitória dos cafeicultores do sul de Minas atrai produtores de diversas regiões do mundo, ansiosos para conhecer e entender o processo de plantio e colheita — e, principalmente, o que é feito de diferente na produção. Dessa curiosidade nasce outra novidade: a Rota do Café Especial, que leva os visitantes em um passeio pela fazenda, acompanhados por uma guia que conta histórias sobre a origem do café no mundo e na Fazenda Sertão.

Quebra de paradigma

A rota começa, não por acaso, com uma boa xícara de café. “Vocês tomam com açúcar?”, pergunta a guia Vanessa, e convence os visitantes a experimentarem sem adoçar. “É uma quebra de paradigma, o café especial não precisa de açúcar”. O arábica, da categoria de cafés naturais, que é cultivado na fazenda, proporciona doçura, acidez, cor, aroma, sem aquele famoso amargor que obriga adoçar o café “de supermercado”, como ela diz. Deste, conhecido como “robusta”, só se extrai corpo e aroma, um café produzido em maior quantidade, porém de menor qualidade.

A bela vista proporcionada pela Rota do Café Especial.

A bela vista proporcionada pela Rota do Café Especial.

E foi exatamente isso que percebeu Jacques Pereira Carneiro quando tomou uma xícara de café nos Estados Unidos que custava oito vezes o valor dessa mesma xícara no Brasil: “temos quantidade, mas não temos qualidade”, concluiu. De volta ao Brasil, ele decidiu percorrer o caminho que fazia esse café até chegar aos consumidores americanos. Para isso, ele contou com a ajuda do agrônomo Flávio Borem  e do pesquisador Silvio Leite, especialista em análise sensorial. Ambos buscavam café de qualidade e os três somaram força e conhecimento para desenvolver uma pesquisa dentro da Fazenda Sertão.

Detalhe que revela a beleza da lavoura.

Detalhe que revela a beleza da lavoura.

Inesperada vitória

Em um primeiro concurso nacional, o café que era vendido a duzentos reais a saca, foi vendido em leilão a mil, o que convenceu a família, até então apreensiva, a encarar a empreitada e adotar o novo processo de plantio, colheita e secagem proposto pelo trio. “Contanto que me deixem esse talhão”, pediu a dona Nazareth, referindo-se a uma lavoura de apego afetivo, que havia sido plantado pelo pai dela e cultivado por toda a vida por ela e pelo marido. E assim foi feito.

Um dos trechos da Rota do Café Especial e a plantação em curvas.

Um dos trechos da Rota do Café Especial e a plantação em curvas.

Portanto, em 2005, após uma boa florada, decidiram que o café participaria do seu primeiro concurso internacional, o famoso Cup of Exellence. No entanto, a colheita havia rendido apenas sete das dez sacas necessárias para a participação no concurso. Quando estavam a ponto de desistirem, se lembraram do cafezal de dona Nazareth: o que eles usaram de adubo nos outros cafés, usaram no dela também. Se tinham algum capricho e algum cuidado extra, tinham com o dela também. Era, portanto, o mesmo café. E então mandaram todos juntos. Após a inesperado título, passaram a acreditar que a vitória só poderia ser creditada ao café centenário da matriarca.

A bela reserva de Mata Atlântica junto ao cafezal.

A bela reserva de Mata Atlântica junto ao cafezal.

Processo de colheita seletiva

As plantações se espalham por toda a propriedade.

As plantações se espalham por toda a propriedade.

A rota continua e os visitantes são guiados por uma subida dentro da enorme plantação em curvas: “a região se descobriu no café especial, tudo interfere e ajuda; a água, o clima, a altitude. O arábica é uma planta que gosta de altitudes acima de 1000 metros”, informa a Vanessa. A disposição em curvas impossibilita o uso de maquinário para a colheita, que é feita de forma manual, empregando, entre maio e agosto — além dos cento e cinquenta empregados fixos —, outros seiscentos e cinquenta trabalhadores.

O processo é de colheita seletiva, explica a guia: primeiro as mulheres passam colhendo de grão em grão. É comprovado que as mulheres têm uma paleta de cores maior que a dos homens, podendo diferenciar de maneira mais precisa o fruto maduro do fruto verde. Em seguida, os homens colhem, também com as mãos, os frutos restantes. Todo o processo contribui na excelência do café.

Detalhe da árvore do mirante que sinaliza as boas vindas aos turistas. Foto André Sena.

Detalhe da árvore do mirante que sinaliza as boas vindas aos turistas. Foto André Sena.

Histórias e memórias

A rota, que hoje recebe visitantes das mais variadas regiões do Brasil e do mundo — de produtores, compradores, donos de cafeteria, baristas a simplesmente amantes de café — oferece dois passeios: “Do pé à xícara”, um passeio de quatro horas acompanhado pela guia e o “Loucos por café”, que ocorre apenas no período de colheita, em que os visitantes “colocam a mão na massa” participando da colheita do café e de todo o percurso dele até a secagem.

Os visitantes têm uma verdadeira vivência de todo o processo, podendo ver de perto o que só se via nos livros, revistas, TV ou internet: “A gente já recebeu compradores de Dubai, por exemplo, que já tinham lido e visto tudo sobre café, mas nunca antes tinham visto um pé de café”, conta a guia.

A incrível vista panorâmica do mirante. Foto André Sena.

A incrível vista panorâmica do mirante. Foto André Sena.

Apesar do reconhecimento nacional e internacional e da larga escala de produção, que envolve não apenas a fazenda, mas também a cafeteria, a rota turística e os cursos oferecidos (barista; latte art; degustação; regulagem de moinhos; drinques com café; imersão em cafeteria), é importante lembrar que o café Unique iniciou e segue as suas atividades como um negócio familiar — o que fica muito claro quando chega-se à sede da fazenda.

Memória preservada

Uma grande preocupação dos produtores de cafés especiais é mostrar ao comprador a origem da bebida — não apenas no que diz respeito ao caminho que ela percorre do lavoura à xícara, mas também preocupando-se em preservar a história da fazenda. É o caso da Fazenda Sertão, onde arquitetura da sede da propriedade é conservada e, principalmente, as histórias e memórias mais particulares da casa onde viveu e cresceu a família de dona Nazareth.

Detalhe da sala de entrada do museu.

Detalhe da sala de entrada do museu.

A sede foi transformada em um museu, que conta a ascensão da família na cafeicultura com a exposição dos vários troféus certificados e pacotes dos cafés campeões, e preserva toda a memória dessa importante história. Atravessando a entrada da espaçosa sala, é possível rememorar um passado comum a muitos visitantes por meio da visualização de diferentes objetos: uma arcaica batedeira de ovos, um velocípede de madeira, uma garrafa de vidro do “sal de fructa” Eno, uma roda de fiar e uma pilha de maletas de couro que compõem o cenário nostálgico —perfumado pelo leve e delicioso aroma do café que é preparado no cômodo seguinte.

O acervo do museu é de grande importância para a história da cafeicultura brasileira.

O acervo do museu é de grande importância para a história da cafeicultura brasileira.

Investimento e qualidade

Vista da sede do museu.

Vista da sede do museu.

Na sala de onde vem o tal aroma, o senhor Francisco Isidro Dias Pereira, filho da quarta geração da família e hoje um dos principais responsáveis pela administração da fazenda — que veio visitar a sede e, claro, tomar uma xícara de café — conta que o investimento em cafés especiais foi muito além de incrementar os negócios da família. “Há tempos atrás nós concluímos que o café de montanha, se continuasse apenas como uma commodity, a gente não iria dar conta de dar continuidade ao trabalho. Graças à produção dos cafés especiais, de alta qualidade, embora tenha ele um custo mais alto, que reunimos condições de continuar com a nossa cafeicultura. Do contrário,  aqui ela já teria sido encerrada.”

Uma janela lateral do museu.

Uma janela lateral do museu.

O senhor Francisco relembra a vitória no Cup of Excellence, pontuando que foi de grande importância não só para família, mas também para o Brasil, dentro do mercado do café de modo geral: “Quando nós ganhamos o concurso, o  país era reconhecido como o maior produtor do mundo, mas o nome do produto, lá fora principalmente, era muito mal visto. A coincidência é que nós visitamos três países que compraram o nosso café no leilão: Japão, Estados Unidos e Canadá. Nos Estados Unidos e no Japão me perguntaram se de fato esse café era brasileiro. Então, eu acho que esse fato contribuiu para melhorar muito o nome do café da nossa região e do restante do Brasil também.”

Francisco Isidro: origem da bebida e memória da fazenda preservada. Foto Maria Vaz.

Francisco Isidro: origem da bebida e memória da fazenda preservada. Foto Maria Vaz.

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