Os museus de Tiradentes: Linha do tempo da história

O Museu da Liturgia tem um acervo de mais de 420 peças sacras dos séculos XVIII a XX totalmente restauradas. A Casa do Padre Toledo, datada de 1777, tornou-se um importante museu após a restauração que aconteceu entre 2010 e 2012. A antiga Cadeia foi restaurada e adaptada para abrigar o fantástico Museu de Sant’Ana, que abriu as portas em 2014.

Museu da Liturgia

Museu da Liturgia (Foto Jomar Bragança).

Museu da Liturgia (Foto Jomar Bragança).

Inaugurado em 2012, o Museu da Liturgia apresenta um acervo de mais de 420 peças sacras dos séculos XVIII a XX totalmente restauradas, além de instalações audiovisuais, terminais multimídia e um amplo programa educativo. São pinturas, esculturas, imagens, paramentos, missais e outros objetos religiosos até então guardados em cofres de sacristias, muitos em estado avançado de deterioração. “A obra de arte, enquanto enclausurada, é um furto. O Museu da Liturgia foi criado para que as pessoas tenham acesso a esse patrimônio. Todo o acervo ainda é usado para missas e procissões. As irmandades vêm, solicitam as peças, assinam um termo de compromisso e levam”, explica o diretor do museu, Rogério Almeida.

Três amplos espaços

O museu ocupa um imóvel da segunda metade do século XVIII que, desde 1893, pertence à Paróquia de Santo Antônio de Tiradentes.

Antes de ser adaptada e transformada em museu, a casa passou por diversas reformas, a mais significativa delas promovida pelo padre José Bernardino de Siqueira, entre 1943 e 1950. Na ocasião, o vigário construiu uma nova ala e duplicou o tamanho do imóvel, para que pudesse hospedar sacerdotes. Toda a divisão interna foi modificada e refeita em tijolos maciços, assim como todos os assoalhos, forros, esquadrias posteriores e parte do telhado. Em 1970, a casa sofreu mais um acréscimo, com a construção de uma maternidade e um consultório médico e dentário. Alguns anos depois, o espaço foi transformado em uma creche. Em 1986, voltou a funcionar como casa paroquial até que, em 2009, foi cedido para a criação do Museu da Liturgia.

Museu Casa do Padre Toledo.

O projeto de restauração, adaptação e acréscimo — realizado com uma verba de cerca de R$ 11 milhões financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) — manteve apenas as paredes mestras originais, de taipa, e demoliu as divisões internas, de alvenaria, criando, assim, três amplos espaços para a exposição do acervo. Novos assoalhos e forros foram construídos, e o piso do porão, rebaixado e adaptado para a exposição. Um anexo contínuo foi projetado para a instalação de recepção, escada, elevador, sanitários e área administrativa. As fachadas e telhados foram restaurados, e o calçamento original do pátio, mantido.

Museu da Liturgia (Foto Jomar Bragança).

Casa do Padre Toledo

Sobre o prédio que abriga o Museu Casa do Padre Toledo, não existe documentação. A hipótese mais plausível, de acordo com o pesquisador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Olinto Rodrigues, é que o vigário Carlos de Toledo a tenha construído em 1777, assim que chegou à cidade para assumir a Paróquia de Santo Antônio de São José do Rio das Mortes. Sabe-se ainda, por meio de referências encontradas em documentos do século XVIII, que o imóvel era propriedade particular de Toledo e que continha senzalas, paióis e um sobrado contíguo que ainda hoje pode ser acessado por dentro da casa. A construção era uma das melhores da época, com tetos decorados em estilo rococó, mobiliário de qualidade, livros, quadros e utensílios domésticos vindos de Portugal e das Índias.

Tela de São Matheus, Museu Casa do Padre Toledo.

Em 1907, a casa foi comprada pelo capitão Policarpo Rocha — comerciante de cal do Distrito de Caranday — e, dez anos depois, doada à municipalidade. Em 1917, após ampla reforma, o edifício passou a abrigar a Câmara e, a partir de 1930, também a Prefeitura de Tiradentes. Em 1944, a Casa do Padre Toledo passou por uma obra de restauração, para recuperar a feição original, bastante alterada na reforma de 1917. Foram reconstruídas as paredes do salão frontal, reconstituídos o telhado, os muros do pátio e as ruínas da cozinha. Os forros não decorados foram restaurados e pintados, e os assoalhos, recompostos em parte. A fachada recebeu pintura geral, com esquadrias em tons de azul e cinza.

Em 1962, o imóvel foi doado à Diocese de São João del-Rei para a instalação do Seminário de São Tiago. Com isso, passou novamente por intervenções, algumas delas irregulares, que prejudicaram muito o monumento.

16 cômodos

Na década de 1970, a Diocese doou o imóvel à Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, que, após pequenas obras de conservação, criou o Museu Casa do Padre Toledo, com acervo recolhido do Museu Regional de São João del-Rei, da Casa Baronesa de Ouro Preto e do Museu da Inconfidência. Alguns anos depois, foi novamente reformado, por se encontrar em péssimo estado de conservação.

A última restauração aconteceu entre 2010 e 2012, com o apoio financeiro do BNDES. O projeto de R$ 1,8 milhão restaurou totalmente o solar e refez a montagem museográfica. São 16 cômodos, um porão, um pátio e uma residência anexa. Além da casa, que por si só já é linda, quem vai ao museu conhece um mobiliário original do século XVIII, imagens sacras, telas, mapas e utensílios domésticos. É possível ainda apreciar 11 forros policromados, com pinturas artísticas ao estilo rococó, datadas do século XVIII — dois deles descobertos durante as obras.

Museu de Sant’Ana

O Museu de Sant’Ana ocupa o prédio da antiga Cadeia Pública de Tiradentes. Datado de 1853, o edifício — que levou quase 20 anos para ficar pronto — foi construído no mesmo local onde funcionava a primeira cadeia da cidade, destruída por um incêndio, em 1826. Da construção original, conservaram-se estrutura, portais e grades. As fachadas, no entanto, foram reconstruídas segundo os padrões neoclássicos que predominavam nos prédios públicos do século XIX.

A primeira reforma de que se tem notícia aconteceu em 1894, com obras de manutenção nos telhados, assoalhos e paredes. Já em 1940, para a instalação do presídio feminino da Comarca de São João del-Rei, foi feita uma grande intervenção, que alterou muitas características originais. O edifício ganhou um anexo com banheiros e depósito, as folhas das janelas foram substituídas por venezianas e o assoalho do corredor recebeu ladrilhos hidráulicos.

Cadeia restaurada

Em 1984, após ser doada à Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, a antiga cadeia passou por uma restauração financiada pela mineradora MBR. O muro e o anexo construídos em 1940 foram demolidos, os forros e o assoalho, substituídos, e o telhado e as portas, restaurados. As janelas que haviam sido transformadas em porta voltaram à feição original e ganharam grades e peitorais em cimento. O prédio deveria servir como Museu da Prata, o que não aconteceu por falta de acervo.

Finalmente, entre 2011 e 2012, a antiga cadeia foi novamente restaurada e adaptada para o Museu de Sant’Ana, que abriu as portas em 2014. O projeto de R$ 4,8 milhões — financiado pelo BNDES por meio do Programa Nacional de Cultura (Pronac) — foi concebido a partir de critérios museológicos e museográficos que dialogam com a história do prédio. O acervo é composto por 291 imagens de Sant’Ana, de diversas regiões do Brasil, eruditas e populares, dos mais variados materiais, estilos e técnicas, produzidas entre os séculos XVII e XIX.

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Patrimônio vivo

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