Revista Sagarana
15 14 — Sendo um artista de Minas Gerais, uma personalidade importante e um bom mineiro, como o senhor avalia o pat- rimônio histórico e cultural e o potencial turístico do nosso estado? — Minas Gerais é um tema muito amplo. Minas é uma palavra ampla. Admiro demais o nosso patrimônio histórico: a arquitetura bar- roca grandiosa, o nosso acervo arquitetônico, que é riquíssimo. E, nisso, incluo Belo Horizonte, com as belas edificações da época da fundação e os outros padrões estéticos que se seguiram, dentre eles, o estilo art decô, tão bem representado por prédios de que gosto demais, como o Minas Tênis Clube e o Cine Brasil Vallourec. Por outro lado, lamento a nossa falta de consciência, de es- clarecimento, de educação mesmo, quando se trata de pensar na preservação desse patrimônio. E não é somente preservar o que seria mais óbvio, o nosso patrimônio co- lonial — que, às vezes, vejo também muito abandonado. Há o caso de Ouro Preto, cidade onde persistem vários problemas e um crescimento desordenado. Outro triste ex- emplo é Itabira, de onde vem a minha família, uma cidade histórica que se perdeu quase que completamente. O casarão colonial onde a minha mãe viveu com os dez irmãos e os meus avós foi to- talmente desfigurado, à rev- elia do poder público, que de- veria ver isso commuitomais cuidado. Quanto a Belo Hori- zonte, aminha cidade, reparo muito nas construções dela desde quando era muito jovem, nos anos 1970. BH era uma cidade muito mais harmônica nas edificações. Os bairros residenciais eram compostos por casas que, na grande maioria, foram joga- das no chão sem nenhum critério, sem planejamento urbano, semumplano diretor e à mercê de uma desen- freada exploração imo- biliária. — BH, de fato, perdeu um considerável patrimônio histórico... — Como não se lembrar da derrubada de um ícone da arquitetura de Belo Horizonte, o Cine Metrópole, um belíssi- mo edifício que cheguei a conhecer, que frequentei? Sou um saudosista. Penso sempre que, se BH tivesse sido preservada, se houvesse um plano de crescimento or- denado, obedecendo a um rigoroso planejamento, pelo menos dentro dos limites da avenida do Contorno, esta minha cidade natal poderia ser considerada hoje também uma cidade históri- ca, um patrimônio não só dos mineiros, mas de todos os brasileiros. Apesar disso, o que se preservou da ar- quitetura art decô, do ecletis- mo da Praça da Liberdade e do maravilhoso conjunto modernista da Pampulha tinha tudo para ter se tornado também uma referência turística, como é Minas Gerais, cuja principal vo- cação para o turismo é ineg- avelmente o patrimônio histórico, artístico e ar- quitetônico. — Além desse grande pat- rimônio, o que faz com que os turistas se sintam atraídos pelo nosso estado? — Outro aspecto que acredito ser importante está relacio- nado ao fato de que as pes- soas também podem ser atrativos turísticos — pes- soas que viveram em um de- terminado lugar, que colabo- raram para que esse lugar tenha se transformado em importante referência cultur- al. Por exemplo: visito Liverpool porque foi lá que surgiram os Beatles e vou a Londres por causa do The Who e dos Roll- ing Stones. Veja o nosso caso: temos grandes escritores, cronistas e poetas; os “cava- leiros do apocalipse” — Otto Lara Resende, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino —, além do poeta maior Carlos Drummond de Andrade, fre- quentavam a Praça da Liber- dade e `gostavam de atravessar, na madrugada, os arcos do Viaduto de Santa Tereza. Eles também são referências da produção cul- tural mineira, fizeramhistória com memoráveis obras lit- erárias. Então, por que não reviver essa história e resga- tar a obra desses escritores geniais como atrativos turísticos na cidade onde eles viveram tantos grandes mo- mentos de suas vidas? O mesmo ocorre com o Clube da Esquina. Muitos músicos e vários amigos que visitam a cidade querem conhecer a história de perto, querem ir à esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro Santa Tereza, onde tudo começou.
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