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Rota do Espinhaço, belos cenários de experiências inesquecíveis

Pico do Itambé (2.052 metros de altitude) na Serra do Espinhaço.

Desde a Vila de Biribiri até a passagem pela magnífica Diamantina e seguindo cordilheira abaixo rumo ao Serro, a Rota do Espinhaço revela experiências turísticas inigualáveis e exuberantes atrativos turísticos.

Reportagem Cacaio Six/Fotos Cezar Félix

É sempre uma emoção seguir pela estrada que rompe a Serra do Espinhaço — a única cordilheira brasileira — até chegar à sempre, permanentemente, encantadora Diamantina. Essa viagem (mais uma dentre tantas e outras muitas que ainda virão) teve como primeiro destino a vila de Biribiri. Saindo da estrada já nos arredores da cidade, a trilha agora é pela estrada de terra em direção ao Parque Estadual de Biribiri, um trecho de cerca de 10 km de belas paisagens, pois o cenário é desenhado pelos impressionantes contornos da cordilheira.

Igreja do Sagrado Coração de Jesus, na Vila de Biribiri.

A Vila de Biribiri é algo que pode ser considerado sem precedentes na história do Brasil. Por isso mesmo é um dos destacados patrimônios históricos do país. Ali, a partir do ano de 1877, foi iniciada a indústria têxtil em Minas Gerais quando o vilarejo foi fundado para abrigar uma fábrica de tecidos e fiação.O então bispo da região, João Antônio Felício dos Santos, foi o responsável pela viabilizar o surgimento da vila. Havia uma razão estratégica na escolha do local: o terreno acidentado possibilitou a a construção de uma pequena usina para utilização da energia elétrica. No auge da fábrica — nos anos de 1950 a Companhia Industrial de Estamparia mantinha ali 1.200 funcionários. — Biribiri tinha armazém para abastecer a dispensa dos trabalhadores, escola para as crianças, pensionatos e até um consultório odontológico. A fábrica foi fechada em 1973 transformando o lugar em um vilarejo fantasma.

Em 1877, foi iniciada, em Biribiri,a indústria têxtil em Minas Gerais.

Infraestrutura turística

Hoje, a vila é um ótimo atrativo turístico pela beleza cênica das casas pintadas de azul e branco, pela ainda imponente sede da antiga fábrica e pela Igreja do Sagrado Coração de Jesus. É preciso registrar que o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico de Biribiri é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA – MG) desde o ano de 1998. Erguida em 1876, a linda igrejinha é adornada por palmeiras imperiais e é uma relíquia da arquitetura religiosa brasileira, com características dos estilos rococó e eclético. Todas as edificações erguem-se sobre um extenso gramado que se abre em uma ampla praça.

Vista do interior do Restaurante da Vila. Foto Ísis Medeiros/Divulgação.

Biribiri possui uma pequena infraestrutura turística formada por dois dois ótimos restaurantes — ambos com mesas ao ar livre — e uma pousada com 12 quartos. Os turistas podem se hospedar em algumas das antigas casas dos operários, que recebem hóspedes por temporada. Os restaurantes são o Restaurante da Vila e o Restaurante do Raimundo Sem Braço. Ambos oferecem as melhores opções da mais típica e deliciosa gastronomia mineira — tanto nas modalidades ‘self-service’ quanto ‘à la carte’. Oferecem ainda variados petiscos, delícias que caracterizam o famoso ‘tira-gosto’ mineiro. Para acompanhar, é claro, cervejas geladas e as cachaças artesanais fabricadas nos alambiques de Minas. O visitante tem a opção degustar cafés especiais e quitutes como pão de queijo, bolos e doces na charmosa cafeteria instalada no lugar.

Opções da melhor gastronomia mineira. Foto Ísis Medeiros/Divulgação.

Parque Estadual do Biribiri

A vila está localizada dentro Parque Estadual do Biribiri, importante reserva com mais de 16 mil hectares. Duas lindas quedas d’água são incríveis atrativos: a Cachoeira do Sentinela e a Cachoeira dos Cristais. As duas revelam paisagens de sonho, com águas cristalinas e transparentes. O Instituto Estadual de Floresta (IEF) informa que o parque “possui fauna e flora diversificadas sendo que muitas de suas espécies estão entre aquelas consideradas ameaçadas de extinção, tais como: lobo-guará, suçuarana, veado, sempre-vivas, orquídeas, bromélias, canelas-de-ema, dentre outras.

Cachoeira dos Cristais, no Parque Estadual do Biribiri. Foto Marcos Amend.

Nos locais de afloramento rochoso, com altitude acima dos 900 metros em relação ao nível do mar, há ocorrência da fitofisionomia de campos rupestres que se destacam, por exemplo, pela ocorrência marcante de sempre-vivas e canelas-de-ema”. Ou seja, diante de atrativos tão ricos, o turista renova os planos para voltar à Vila de Biribiri.A propósito, conforme o IEF informa, “Biri, em Tupi-guarani, significa buraco. A repetição da palavra faz menção a um ‘grande buraco’. Nome que era dado pelos índios à região onde havia um grande acidente geológico, no qual justamente pelo potencial hidráulico, se instalou a fábrica de tecidos de Biribiri, que levou o nome do lugar”.

O Passadiço da Glória, um dos símbolos de Diamantina, Patrimônio Cultural da Humanidade.

Diamantina, Patrimônio Cultural da Humanidade

A grandiosa importância de Diamantina na história brasileira é diretamente proporcional aos atrativos turísticos existentes nessa cidade Patrimônio Cultural da Humanidade. Nesta rota pela cidade, a primeira visita foi à Casa de Juscelino, onde o ex-presidente Juscelino Kubitschek viveu a infância e a adolescência. Erguida em pau a pique, conforme a técnica utilizada no século XVIII, a construção se transformou, no ano de 1985, no Museu Casa de Juscelino com a proposta de preservar a memória do ex-presidente. No acervo, além de objetos pessoais, fotografias, textos e instrumentos musicais, há uma biblioteca. Em 1994, foi construído o anexo Júlia Kubitschek, criando a segunda parte do museu.

Fachada da Casa de Juscelino.

A próxima parada foi na Igreja de São Francisco de Assis, que de imediato chama a atenção por sua torre única. O rococó é o estilo predominante na igreja, datada do ano de 1775, pois há uma bela combinação entre ouro e madeira nos entalhes. Outros destaques são a pintura do forro da capela-mor — autoria do guarda-mor José Soares de Araújo realizada entre os anos de 1782/1783 — e a pintura no forro da sacristia, de 1795, atribuída a Silvestre de Almeida Lopes, que ilustra São Francisco de Assis em mística conversação com o Cristo Crucificado.

Igreja de São Francisco de Assis, de 1775.

Como é aberta à visitação, vale a pena subir na torre dos sinos e apreciar a vista.Seguindo adiante, o passeio pelo centro histórico permite contemplar a beleza (e a imponência) da Catedral Metropolitana de Diamantina, erguida entre os anos de 1932 e 1938. O templo substituiu a então Igreja de Santo Antônio do Tijuco, construída por volta de 1750 e demolida exatamente no ano de 1932. Como legado da antiga igreja, permanece os altares laterais que remetem ao estilo barroco.

Altar da Igreja de São Francisco de Assis;

Mercado Municipal

Pouco metros à frente, surge a Praça Barão de Guaicuí onde está o atual Mercado Municipal. Datado de 1835, foi originalmente construído — pelo tenente Joaquim Cassimiro Lages — para servir de residência e como um rancho de tropeiros ou “intendência”, que era o nome dos lugares destinados ao descarregamento e à comercialização de mercadorias vindas de outros locais.

Mercado Municipal, umdos grandes atrativos de Diamantina, construção datadade 1835.

Para evitar o monopólio no comércio dessa intendência, em 1889 Diamantina iniciou— após adquirir o prédio dos herdeiros do tenente Lages — a construção do atual Mercado Municipal.Também conhecido como Mercado Velho, a linda construção pintada em azul e branco —, cuja estrutura combina madeira, terra, alvenaria e tijolos em dois pavimentos— ocupa uma quadra inteira. Com várias fachadas, abertas para todos os ângulos da cidade, destacam-se os charmosos e incomparáveis arcos. Eles foram uma grande novidade na arquitetura da época, pois no período colonial, os arcos (conhecidos como arcos do cruzeiro) eram usados para separar o altar-mor da nave das igrejas, e como peças ornamentais, assim como as vigas de sustentação das igrejas.

Diamantina guarda as tradições de uma cidade Patrimônio da Humanidade.

Muitos afirmam que Oscar Niemeyer se inspirou nos arcos do Mercado de Diamantina para desenhar os traços do Palácio da Alvorada, em Brasília. É bom lembrar que o arquiteto e o diamantinense ex-presidente JK eram grandes amigos.Hoje, o Mercado Municipal é movimentado a partir das sextas-feiras à noite e, nos sábados, acontece a feira da cidade. São comercializados artesanato, tapeçarias e outros produtos característicos da região. Outra opção é saborear os pratos típicos que podem ser acompanhados pela a cachaça artesanal. A programação invade a noite com muita música ao vivo.

Um atrativo consagrado: A Vesperata acontece em dois sábados por mês, entre os meses de março e outubro.

A tradicional Vesperata

É claro que é necessário durante qualquer passeio por Diamantina adentrar o famoso Beco do Mota e ir até a Rua da Quitanda. Percorrer o legendário beco (mesmo não sendo mais aquele de outrora) é ir de encontro à história, pois o casario colonial e o calçamento de pedras continuam a embelezar o lugar que abriga bares e restaurantes.

Já a charmosa Rua da Quitanda é repleta de bares, todos com as mesas na calçada. É o ponto fervilhante da cidade, envolvido pelo belo casario colonial conservado, onde se encontram os moradores — como os estudantes universitários — e os turistas. Nos finais de semana, a movimentação é intensa.

É lá que acontece um dos grandes atrativos da cidade, a tradicional Vesperata. Uma banda, regida por maestros que ficam no meio do público, entre as várias mesas dos bares, enquanto os músicos — do 3º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais juntamente com jovens instrumentistas diamantinenses — se posicionam nas sacadas dos casarões históricos e na Rua da Quitanda. O repertório da banda inclui marchas, boleros, sambas, Música Popular Brasileira (MPB) e sonatas. A Vesperata acontece em dois sábados por mês, entre os meses de março e outubro.

 

Igreja de Nossa Senhora do Rosário

 

Nessa viagem, a Rota do Espinhaço incluiu mais dois atrativos em Diamantina. As igrejas de Nossa Senhora do Rosário e a Casa de Chica da Silva. Construída por iniciativa dos Irmãos do Rosário, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário é uma das mais antigas de Diamantina, cujas obras foram iniciadas nos anos de 1771/1772, sob a batuta do mestre Manuel Gonçalves. Erguida no meio de uma praça, em alvenaria de adobes recoberta por com caiação branca, e sustentada por amplo adro revestido de pedra, o templo ainda ganhou um adorno extra: na parte da frente dele, cresceu uma enorme gameleira que se mistura com o cruzeiro ali instalado.

No interior da igreja, destaque para
as pinturas do arco-cruzeiro e a do forro, “que formam um conjunto extremamente harmônico, conseguido a partir da intervenção de José Soares de Araújo, autor da pintura e douramento destas áreas”, como informa o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).  O IPHAN também chama atenção para a pintura da Virgem do Rosário, “rodeada de anjos e nuvens. No colorido predominam os tons cinza-azulados nas perspectivas arquitetônicas e os sépias no quadro central, retratando um ambiente de penumbra. Alguns realces de ouro dão luminosidade à composição”.

 

Chica da Silva

 

O destino seguinte foi a Casa de Chica da Silva. Um dos exemplares mais importantes da arquitetura residencial mineira do século XVIII, a casa era propriedade do contratador João Fernandes de Oliveira que, entre os anos de 1763 e 1771, viveu na residência junto à legendária Chica da Silva, escrava que fora alforriada por ele. Francisca da Silva de Oliveira nasceu entre 1731 e 1735 no Arraial do Tejuco, atual Diamantina. O sobrado — uma típica casa das camadas abastadas da cidade no século XVIII — foi onde ela viveu com João Fernandes no centro histórico de Diamantina e pode ser visitado gratuitamente.

A casa de Chica da Silva já passou por quatro restauros desde 1949 até o IPHAN inclui-la na lista das Belas Artes brasileiras. Das sacadas da casa — dona de amplos espaços — avista-se a torre da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, cuja construção foi financiada por Chica para que os escravos pudessem participar das missas. Uma grande área verde no fundo da casa abriga o jardim-pomar, construído em degraus com pedras sobrepostas.

Além de sede regional do IPHAN, a casa abriga ainda uma exposição de quadros em óleo sobre tela — autoria do artista plástico Marcial Ávila — que retratam imagens que o imaginário popular criou sobre Chica da Silva. Também estão lá acervos representativos da região: como documentos originários do Fórum, o bibliográfico do escritor Antônio Torres, e acervos textuais e iconográficos e muitos registros valiosos da história da cidade.

No pavimento superior do sobrado está lá bem conservado um muxarabi em um dos balcões.  De origem árabe, o muxarabi é um ótimo elemento para criar paredes vazadas. Ele ajuda a manter a privacidade, pois quem está do lado de dentro consegue enxergar o exterior, mas aquele que está do lado de fora não pode ver nada do interior.

Vale muito a pena atravessar a rua e  visitar a Igreja de Nossa Senhora do Carmo — construída entre os anos de 1760 e 1784—, que apresenta uma característica muito original: a torre da igreja fica nos fundos da construção. No interior está o belo altar folheado a ouro e o órgão de 549 tubos. A pintura ilusionista dos forros, de autoria de José Soares de Araújo e o conjunto dos retábulos, de Aleijadinho, são outras preciosidades que precisam ser observadas com atenção.

 

Gastronomia e o Passadiço da Glória

 

Usufruir da deliciosa gastronomia diamantinense é algo que não poderia faltar nessa rota. O palco foi o Relicário Gastronomia, charmoso restaurante, dono de uma decoração criativa e de muito bom gosto. No cardápio da ‘chef’ Rachel Palhares porções de queijo artesanal tipo árabe, de queijo artesanal do Serro e creme de siri e arraia no tacho de cobre. Dos petiscos, destaque para o bolinho de feijoada, o dedinho de tapioca e os pasteizinhos. Deliciosas massas como espaguete ao pesto ou ao molho branco com medalhão de filé vão agradar aos mais exigentes paladares. Há pratos como bacalhau desfiado ao creme de natas, tilápia grelhada ao molho de alcaparras com legumes salteados, salmão grelhado com molho de mostarda e curry e a carne de lata (ou seja, carne de porco caipira), ‘crispy’ de couve e lâminas de maçã picante. O Relicário Gastronomia também oferece uma notável carta de vinhos, principalmente os excelentes vinhos da região, e cervejas artesanais.

O programa final da rota dos passeios por Diamantina foi a visita ao icônico Passadiço da Glória, que foi construído 1870 para ligar duas casas, onde funcionavam um educandário e um orfanato. O interessante é que são duas construções de séculos diferentes. A casa do lado direito rua da Glória, referência para quem sobe a rua, é do final do século XVIII — erguida provavelmente entre os anos 1775 e 1800 — enquanto a outra é do século XIX.

A obra do passadiço causou enorme polêmica na época, porém se integrou à paisagem diamantinense de tal forma que se tornou símbolo da campanha “Diamantina – Patrimônio Cultural da Humanidade”.

Hoje, além da história e do passadiço, nos acervos das casas incluem o Memorial do Colégio Nossa Senhora das Dores e a Sala de Minerais, juntos a outros acervos históricos expostos. O conjunto pertence à Universidade Federal de Minas Gerais desde o ano de 1979.

 

Vinícola Quinta do Campo Alegre

 

Muita gente não sabe, mas a região diamantina tem tradição no plantio de uvas para a produção de vinho. Desde 1870, também por inciativa do clero, os produtores viram no vinho uma alternativa econômica para a já decadente mineração do diamante. Por incrível que possa parecer, mesmo contando com uma estação de enologia e viticultura inaugurada em 1948 — que só foi desativada três décadas depois —, o cultivo dos vinhedos entrou em franca decadência no final da década de 1960, pois já não havia nenhum apoio dos órgãos governamentais. Porém, a partir do ano de 2000, essa tradição foi retomada. Alguns empreendedores decidiram promover um resgate dessa cultura e surgiram novos vinhedos e, consequentemente, novos negócios.

Dentre os produtores, estão as vinícolas Quinta da Matriculada, a Vittelo Diamantina, a Sanfariah e a Quinta do Campo Alegre que, aliás, maturam juntos os seus vinhos.

A nova etapa da viagem pela Rota do Espinhaço teve como destino a Quinta do Campo Alegre, localizada nas proximidades de Diamantina. Fundada em 2011 pelo jovem casal Ana Júlia e Luís Felipe, os dois iniciaram, no mesmo ano, o plantio das uvas ‘Vitis viníferas’, trabalho que seguiu em plena expansão   em área e castas.  Atualmente, o Campo Alegre conta com as variedades Syrah, Tempranillo, Malbec, Pinot Noir, Tannat, Merlot e Sauvignon Blanc. “Adotamos no vinhedo a técnica de ciclo invertido com prática da dupla poda, o que possibilita agregar maiores teores naturais de açúcares e compostos nas uvas, propiciando uma qualidade única aos vinhos”, como explica Luís Felipe.

Muito mais do que admirar o belo cenário dos vinhedos — são 12 mil pés das mesmas variedades acima citadas mais a Cabernet Franc — e ouvir as melhores explicações sobre os processos de produção, o ponto alto da visita foi a degustação dos vinhos.

 

Experiência da degustação

 

A experiência da Quinta do Campo Alegre acontece em uma construção com amplas paredes de vidros erguida a uma altitude de 1400 metros com vista para a Serra do Espinhaço. Os vinhos servidos foram o cítrico Blanc chamado La Blanca, seguido pelo (simplesmente delicioso) Vinho La Rosa — composição   Pinot Noir (80%) e Chardonnay (20%) — e os tintos Dom Leon Alvarez e La Guarda, da uva Syrah. Os vinhos foram harmonizados com tábuas de frios e queijos em três diferentes tempos de maturação, produzidos pela Fazenda Braúnas, propriedade localizada na vizinha Serro.

É preciso anotar que a experiência da Quinta do Campo Alegre é de muita qualidade, algo para ficar gravado na memória do visitante, inclusive aquele mais exigente. Ana Júlia diz “o turista é o nosso principal público alvo”. Ela explica que esse público é formado tanto pelos apreciadores de vinhos quanto pelos iniciantes, “aqueles que têm curiosidade de saber sobre como acontece todo o processo, do campo à vinificação, que querem entender o que é o vinho, incluindo as partes de degustação e harmonização”. Sobre a Rota do Espinhaço, Ana Júlia diz que ela e Luís Felipe “estão muito felizes” pela vinícola do Campo ter sido incluída “nessa proposta inicial”. “A gente está aberto para expandir as visitas e a visibilidade da Quinta do Campo Alegre”, garante ela.

 

Queijo do Serro, patrimônio imaterial

 

Conhecer a aclamada produção do tradicional queijo do Serro foi a experiência seguinte. Seguindo pela estrada de terra que serpenteia pelo Espinhaço com paisagens que emocionam, chega-se à Fazenda Engenho da Serra, propriedade do produtor rural e queijeiro Jorge Simões e da irmã Maria Coeli Simões. O cenário encanta: emoldurado ao fundo pela serra, o casarão colonial, erguido em pau a pique atrás de um curral, desvela a rusticidade de uma fazenda que simboliza uma tradição de 300 anos na produção do queijo do Serro no município histórico.

“A nossa atividade queijeira é trabalhosa, mas é prazerosa.  A luta começa cedo, a gente reúne os animais para fazer a ordenha dentro de um processo de muita higiene, de muito cuidado, para obter um leite de primeira qualidade e produzir um queijo com muita segurança alimentar” explica Jorge. “A gente faz o que gosta, a gente tem raiz, não é somente por uma questão econômica, mas por uma questão cultural, uma questão de preservarmos um saber, que hoje é patrimônio imaterial de Minas Gerais e do Brasil”, acrescenta ele.

De fato, o primeiro título foi conquistado em 2002 e o título de Patrimônio Imaterial do Brasil, o primeiro do tipo concedido pelo IPHAN, aconteceu no ano de 2008. Jorge e Maria Coeli foram os responsáveis pela movimentação que culminou na conquista dos títulos. Ela, inclusive, é autora do livro “Memória e Arte do Queijo do Serro: o Saber sobre a Mesa” e também do dossiê necessário para fundamentar o processo.

 

Queijo, grande ferramenta turística

 

O procedimento de produção do queijo, segundo Jorge, tem uma única receita, porém com segredos que variam de produtor para produtor. O diferencial é o lactobacilo, conhecido como “pingo” (um fermento natural), presente nas regiões de altas altitudes como é o caso da Serra do Espinhaço — a Engenho de serra está a 800 metros de altitude. O queijeiro aproveitou para explicar que o queijo do Serro — assim como o também ótimo queijo Canastra, como ele fez questão de salientar — é feito com leite cru, sal e coalho. “Os do Serro são mais firmes e têm menos tempo de cura, por isso são menos ácidos e mais branquinhos”, esclarece.

Sobre a potencialidade turística da Rota do Espinhaço, Jorge Simões argumenta que um município histórico com mais de 300 anos, “dono uma rica cultura como as festas folclóricas e o patrimônio histórico, além das belezas da natureza,  temos hoje aqui uma grande ferramenta turística, que é o queijo artesanal”. Jorge acrescenta que não se trata apenas da forma material do queijo, “que é o alimento que é levado à mesa, mas da sua imaterialidade. O mais importante do queijo do Serro é o que está em volta dele, a história, essa tradição, a cultura do fazer que a gente vem trazendo de geração em geração e que hoje é cultura do patrimônio”.

Ivituruí, Serro do Frio

 

A cidade do Serro foi o destino seguinte. Na região que tinha o nome de Ivituruí

(ivi = vento, turi = morro, huí = frio na língua tupi-guarani) surgia, em 1702, o arraial do Ribeirão das Minas de Santo Antônio do Bom Retiro do Serro do Frio. No auge da mineração do ouro, o arraial, em 1714, é elevado à vila com o nome de Vila do Príncipe. Logo em seguida, com a descoberta de diamantes nos distritos de Milho Verde e São Gonçalo do Rio das Pedras e, é claro, de Diamantina, a coroa portuguesa, para defender os seus interesses, cria (em 1720) a grande comarca do Serro Frio.

Dessa época de glórias, o Serro conserva como legado um importante patrimônio histórico, artístico e arquitetônico. Destacam-se, como não poderia deixar de ser em uma cidade histórica tão relevante, as igrejas de Santa Rita, a Matriz de Nossa Senhora da Conceição e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo.

A primeira, famosa pela original escadaria, foi erguida em data desconhecida no século XVIII. Porém, no século seguinte, o templo passou por diversas reformas que lhe deram a forma da fachada que permanece até os dias de hoje. Atualmente, a linda igrejinha passa por obras de restauração.

Já a outra é considerada como a terceira matriz do Serro. Iniciada em 1776, a construção da Matriz de Nossa Senhora da Conceição só foi concluída no século XVIII e ainda recebeu muitas reformas no século XIX, principalmente as que aconteceram entre os anos de 1872 e 1877. É uma das maiores igrejas barrocas de Minas Gerais e dona das torres mais altas entre todas as igrejas coloniais mineiras. Com elementos do barroco inspirados nas obras de Aleijadinho, a matriz foi construída cantaria com paredes em pau-a-pique e taipa de pilão. Completam o belo conjunto arquitetônico, as escadarias e uma muralha de pedra-sabão.

A Igreja de Nossa Senhora do Carmo se destaca na paisagem do centro histórico e embeleza ainda mais a Praça João Pinheiro, a principal da cidade. Construída em madeira e barro — as obras ocorreram entre os anos de 1767 1781 —, o frontispício da igreja chama atenção com a presença de uma talha em madeira policromada, que representa Nossa Senhora do Carmo entregando os escapulários a São Simão Stock.

Outras edificações que merecem atenção no Serro são o Museu Regional Casa dos Otoni, o Sobrado da Prefeitura Municipal e da Câmara dos Vereadores — um sobrado do século XIX — e a Casa do Barão de Diamantina, também do século XIX. O museu, um prédio do século XVIII, conta com um interessante acervo formado por móveis de época, utensílios e peças de imaginária.

 

 

A grandiosa festa de

Nossa Senhora do Rosário

 

Porém, o Serro ainda reserva mais um extraordinário atrativo: a união entre a cultura popular e a religiosidade na grandiosa festa de Nossa Senhora do Rosário, quando se apresentam os grupos de Congado da cidade.

Com danças e cantos; procissões, novenas e missas, a padroeira dos homens pretos é homenageada em uma das mais espetaculares expressões da   tradição da cultura popular não só da região e de Minas Gerais, mas de todo Brasil. A festa atrai peregrinos e turistas de diferentes cantos do país.

Os grupos da “congada” se dividem entre os Catopês (negros), Caboclos (índios) e Marujos (portugueses). Vestidos com os trajes típicos, eles cantam — alguns cânticos ainda são em dialeto africano — e dançam ao som das orquestras de instrumentos musicais, sendo que alguns deles, como flautas, caixas de couro, xique-xiques e reco-recos, são de fabricação artesanal. Com grande influência das culturas indígena e africana, o ritmo dos tambores em perfeita sincronia com a dança e a marcha, cria um deslumbrante teatro (de manifestação de fé) ao ar livre.

Com muito estilo, pompa e circunstância, há também o desfile do Reinado pelas ruas do Serro. O lindo cortejo é formado por Rei, Rainha, Juízes, a Caixa de Assovio, mordomos e mucamas. Os conhecidos festeiros, de suas casas, oferecem cafés, refeições e doces caseiros para todos os participantes e visitantes, o que transforma a festa em uma grande confraternização entre as pessoas.

A Festa do Rosário, que acontece todos os anos no mês de julho, é promovida pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário da Freguesia da Conceição da Vila do Príncipe do Serro do Frio, que dirige a festa desde a fundação da entidade, em 1728.  A Igreja de Nossa Senhora do Rosário — cuja construção   foi concluída em 1758 — sedia o consagrado evento no Serro.

 

Milho Verde

 

Antes de seguir viagem para finalizar incrível roteiro pela Cordilheira do Espinhaço, acontece a parada para o almoço no distrito de Milho Verde. A gastronomia típica mineira sendo apresentada no fogão à lenha, como é o caso do Restaurante Angu Duro, é sempre um grande atrativo. Impossível não se deliciar com tantas iguarias da cozinha e dos doces mineiros.

Próximo da nascente do rio Jequitinhonha, Milho Verde fica no alto de uma colina de onde avista-se trechos da Serra do Espinhaço com a imponente presença do Pico do Itambé (2.052 metros de altitude). A natureza paradisíaca esculpiu lugares como as cachoeiras do Lajeado, do Piolho, do Carijó e do Canelau.

A origem do pequeno arraial remonta ao século XVIII, que foi formado pelos aventureiros em busca de ouro e diamante. Do período colonial, permanecem como importantíssimos legados do patrimônio histórico a Matriz de Nossa Senhora dos Prazeres e a Capela de Nossa Senhora do Rosário. Não existem registros de data da construção da matriz de Nossa Senhora dos Prazeres, porém sabe-se que Chica da Silva, que dizem ter nascido exatamente em Milho Verde, foi batizada, por volta de 1734, na então Capela de Nossa Senhora dos Prazeres.

Da pequena capela erguida ao longo do século XIX — período indicado pelas características da construção do humilde templo — pela devoção dos negros livres ou escravos pouco se sabe. Porém, a imagem da Capela de Nossa Senhora do Rosário tornou-se mais um ícone dessa região da Serra do Espinhaço. Tanto a igreja matriz quanto a capela estão atualmente em processo de restauração — uma ótima notícia, aliás.

A Rota do Espinhaço não se encerra aqui nessa aventura. O município do Serro tem outros irresistíveis atrativos como os dos distritos de Capivari e de São Gonçalo do Rio das Pedras, dentre vários outros. O mesmo acontece com o município vizinho de Conceição do Mato Dentro. O Parque Nacional da Serra do Cipó e a Lapinha da Serra são dois destinos absolutamente consagrados por todas as possibilidades de lazer que oferecem aos turistas. Confira nas reportagens publicadas aqui neste portal.

Assim, a sua viagem, primeiro por aqui, começa agora.

 

 

 

 

 

 

 

 

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