Das origens como São Pedro de Uberabinha a uma metrópole interiorana: a “terra fértil” Uberlândia registra uma história de 123 anos, cujas principais páginas retratam eras de desenvolvimento econômico a ponto de gerar hoje um PIB (Produto Interno Bruto) per capta que chega a impressionantes R$ 23 mil reais. Dono de grande potencial para alavancar ainda mais o turismo de negócios e eventos, o município prepara-se para ser um dos CTS – Centro de Treinamento de Seleções para a Copa de 2014
Reportagem: Assad Abrahão
Fotos: Jean Yves Donnard
A história do Brasil tem no ciclo do ouro um de seus mais importantes capítulos. Nos primórdios do século XVII as bandeiras que partiam de São Paulo, antiga Capitania de São Vicente, já haviam desbravado a região das “Minas” e no período que se estendeu até o século seguinte foram descobertas as mais ricas jazidas auríferas que se poderia imaginar.
Porém, a exploração do interior brasileiro estava apenas no início — o objetivo maior das bandeiras era ampliar as fronteiras territoriais, fixar os colonizadores nas terras conquistadas aos indígenas e, é claro, produzir riquezas.
Ainda no longínquo ano de 1682, o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera, ao contrário de seus contemporâneos — que priorizavam a já disputada região das “Minas” —, resolveu virar os olhos para o Planalto Central. Ele então saiu de São Paulo, atravessou o Triângulo e foi parar no Rio Araguaia. O curioso é que na sua comitiva viajava o filho que tinha o mesmo nome. Anos depois, em 1722, Bartolomeu Bueno da Silva Filho, conhecido por Anhanguera II, retomou o caminho percorrido pelo pai. Ao cruzar o imenso rio Jeticaí — hoje Rio Grande, que marca a divisa de Minas com São Paulo — e atingir a sua margem oposta, a bandeira adentrou-se nas terras conhecidas das expedições anteriores como sertões da “Farinha Podre”, domínio dos bravos índios caiapós.
Em resumo, assim se deu a conquista do território que hoje forma as regiões do Triângulo Mineiro e do Alto Paranaíba. Mas não foi nada fácil, foi às custas dos mais extremados esforços humanos, de muito sangue derramado — assim como aconteceu na região das “Minas”.
São Pedro de Uberabinha
Voltando quase dois séculos no tempo, quando os portugueses, a partir de 1530, iniciaram a ocupação da ‘terra brasilis’, o rei — então o único proprietário de tudo — efetivou uma modalidade de doação de gigantescas porções de terras chamada regime de sesmarias. O rei avaliava os candidatos a proprietários baseado principalmente nos serviços prestados à Coroa e no status social. Este sistema vigorou até o ano de 1820.
O regime das sesmarias atraiu muitos aventureiros e os primeiros registros de posse da terra no lugar remontam ao ano de 1817. No ano seguinte, registrou-se o primeiro “sesmeiro” a fixar residência nas terras que hoje são os domínios de Uberlândia. João Pereira da Rocha foi o primeiro “entrante” da região, responsável por formar a Fazenda São Francisco.
Irmãos Carrejo
Por volta de 1835 chegaram na região os irmãos Luiz, Francisco, Antonio e Felisberto Carrejo que adquiriram as terras de Pereira da Rocha e formaram as propriedades nomeadas como Olhos D’Água, Lage, Marimbondo e Tenda. Foram essas propriedades que deram origem ao que é hoje o município de Uberlândia que, tal qual muitas cidades de Minas Gerais — principalmente as localizadas nas regiões do Triângulo e Alto Paranaíba —, surgiram de fato após a construção de uma capela. Por volta de 1846, como o local já abrigava uma razoável população, os moradores solicitaram ao Bispado a construção de uma capela em honra a Nossa Senhora do Carmo. Foi a senha para o surgimento do arraial que ganhou o pomposo nome de Arraial de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro de Uberabinha. Uma década depois, em 1857, o arraial passou a ser distrito de Uberaba com o nome reduzido para São Pedro de Uberabinha.
R$ 23 000, 00 per capta
Quem um dia poderia imaginar no que se transformou aquele pedaço de terra encravado na confluência do ribeirão São Pedro com o rio Uberabinha em pleno “sertão da Farinha Podre”? A história seguiu o seu rumo e em 1888 São Pedro de Uberabinha torna-se munícipio e ganha o nome de Uberlândia (Uber em latin é fértil e land é terra em inglês) em 19 de Outubro de 1929.
Hoje, passados 123 anos de sua emancipação, 611 903 mil pessoas habitam o município, o quarto maior do interior brasileiro e uma potência econômica tanto no setor de serviços quanto na indústria, além da agropecuária. Para se ter uma idéia, o PIB per capta de Uberlândia chega a impressionantes R$ 23 000, 00 aproximadamente.
É essa inegável grandiosidade que credencia a segunda maior cidade de Minas Gerais como uma potência para o turismo (principalmente no que se refere a negócios), embora hoje enfrente alguns problemas. A rede hoteleira, por exemplo, é formada por 47 hotéis e dispõe de 4 593 leitos. Porém, segundo fontes do setor, mais da metade deles ficam ociosos porque a maioria dos apartamentos disponíveis possuem dois leitos e mais da metade são alugados para apenas um hóspede. “Portanto, fica inviável a realização de eventos na cidade para mais de duas mil pessoas” , garante essa mesma fonte.
Competitividade turística superior
Este problema em breve será solucionado já que está prevista a construção de três grandes empreendimentos hoteleiros. Além do mais, o principal hotel da cidade, o Plaza Shopping Hotel, um quatro estrelas, que conta hoje com 138 apartamentos, promete ampliar a sua capacidade para mais 150 apartamentos.
Outro importante ponto a favor do desenvolvimento do segmento turismo de negócios atende pelo nome de Center Convention. Trata-se de uma fantástico centro de convenções com localização privilegiada em área nobre e de fácil acesso — anexo ao já citado Plaza Hotel e ao Center Shopping, o maior da cidade —, cujo auditório tem capacidade para até quatro mil pessoas. No local, é possível acontecer 15 eventos simultâneos. O complexo ainda conta com heliponto, estacionamento para 2 500 veículos e um serviço de bufê para atender até três mil pessoas já que a estrutura de cozinha é capaz de preparar até quatro mil refeições simultâneas.
Para ratificar a potencialidade de Uberlândia no segmento turismo de negócios, em recente comunicado, a International Congrees and Convention Association — a principal instituição do setor em nível mundial — classificou a cidade na nona posição como uma das cidades do Brasil que mais realiza eventos internacionais. “Uberlândia, por sua localização estratégica e empreendedorismo, tem notória capacidade para o Turismo de Negócios e Eventos”, ratifica Paulo Sérgio Ferreira, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo.
“O município está inserido no contexto dos programas implantados pelo Governo do Estado de Minas Gerais, focado no desenvolvimento sustentável desse setor. Além do mais, foi avaliado pela Fundação Getúlio Vargas com índice de Competitividade Turística superior aos apontados no Estado de Minas Gerais”, argumentou o secretário para acrescentar que a “prefeitura, com o apoio do Sebrae–MG e da Setur-MG, desenvolve o projeto Turismo de Negócios, que visa estudar o setor e promover ações estratégicas para alavancar o potencial turístico de Uberlândia, assim como capacitar o trade turístico para a nova demanda do setor”.
Estádio Parque do Sabiá
Sustentada por sua importância como centro nevrálgico de uma das mais promissoras regiões do país, pela ampla infra-estrutura que oferece e pelos grandes investimentos que recebe a cada ano, Uberlândia certamente será uma das sub-sedes da Copa de 2014 ou CTS – Centro de Treinamento de Seleções — denominação preferida pela a Fifa. Outro grande trunfo desta “terra fértil” é o Estádio Parque do Sabiá, o maior do interior brasileiro com capacidade para receber até 50 000 pessoas. Em 2009 foi totalmente revitalizado, inclusive recebeu numeração nas arquibancadas e câmaras de segurança, exigências da Fifa. A sempre impecável condição do gramado e o conforto que oferece aos torcedores é um grande atrativo. Atraiu inclusive os times de Belo Horizonte, principalmente o Cruzeiro — dono de uma grande torcida no Triângulo Mineiro e no Alto Paranaíba — que disputa partidas no estádio pelo campeonato brasileiro, uma vez que os estádios da capital estão fechados para reforma.
A prefeitura de Uberlândia informou que o estádio, recentemente, passou por outra revitalização, onde as arquibancadas, bancos de reservas e espaço da imprensa foram novamente pintados, além da instalação de hidrantes e renovação no calçamento da pista de atletismo.
Também foi instalado um novo e moderno placar eletrônico de LED — viabilizado por meio de emenda parlamentar pessoal do deputado estadual Tenente Lúcio, uberlandense e presidente da Comissão de Turismo, Indústria, Comércio e Cooperativismo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais — no valor de R$ 150.000,00.
Um convênio firmado com o Governo do Estado de Minas Gerais permitiu a instalação de novos 25 mil assentos.
Investimentos em infraestrutura
Ao lado do estádio — o nome oficial homenageia João Havelange, ex-presidente da Fifa — está o Ginásio Tancredo Neves, conhecido como “Sabiazinho”. Ocupando uma área total de 35 mil metros quadrados e 10, 5 mil de área construída, esta arena multiuso, dona de moderna infra-estrutura e arrojado projeto arquitetônico, tem capacidade para receber oito mil pessoas.
Embora satisfeito com a possível escolha de Uberlândia como uma das sub-sedes da Copa de 2014, o prefeito Odelmo Leão (PP) argumenta que os investimentos realizados no município desde 2005 foram necessários “para dar à Uberlândia condições de hospedar não só esses eventos esportivos ligadas à Copa de 2014, mas outros de nível nacional e internacional”.
O prefeito explica que os investimentos contemplaram infraestrutura urbana, drenagem pluvial, captação de água, tratamento de esgoto, transporte público e incentivo à iniciativa privada para a instalação de mais redes hoteleiras na cidade. “No caso do nosso principal centro de treinamento, o Estádio Parque do Sabiá, os investimentos são constantes, o que o torna um dos mais modernos do país. Além disso, encontra-se em construção o Parque Aquático, que abrigará piscinas olímpicas projetadas para competições de esportes aquáticos”.
No campo dos investimentos, o prefeito faz questão de salientar o que foi executado para “alavancar ainda mais” o desenvolvimento social e urbano da cidade: “Implantamos o programa Uberlândia Integrada para modernizar os equipamentos urbanos existentes e melhorar o acesso e a locomoção urbana. São inúmeras obras de asfaltamento, alargamento de pistas, construção de viaduto e drenagem pluvial”.
Odelmo Leão informou que a sua administração firmou um convênio com a Infraero para ampliação e modernização do aeroporto de Uberlândia. “O Instrument Landing System (ILS) — equipamento que orienta o avião para pousos em determinada pista —, já foi instalado e está em fase de testes para começar a funcionar ainda em 2011. Isso permitirá que o aeroporto opere em condições climáticas adversas. A expectativa é de que até 2013 esteja pronto o novo terminal de passageiros e um terminal de cargas, o que tornará o aeroporto de categoria internacional”.
Remodelação urbana
Dona de interessante desenho urbano, Uberlândia é cortada por longas ruas e avenidas. O epicentro da cidade é a Praça Tubal Vilela (localizada entre as amplas avenidas Floriano Peixoto e Afonso Pena), o mais importante e tradicional ponto de convivência da comunidade, que apresenta um conjunto arquitetônico bem identificado com as características desta metrópole interiorana. Destaca-se na paisagem a Matriz de Santa Terezinha, construção datada de 1941.
A origem da praça remonta ao início do ano de 1900 quando planejou-se a expansão de Uberlândia com a abertura de seis avenidas entre as antigas fazendas que deram origem ao munícipio e a Estação Mogiana — aliás, um dos símbolos da arrancada econômica uberlandense.
As composições da Companhia Mogiana, criada em 1872, ligavam Campinas (SP) e Catalão (GO) passando por Uberaba e Uberlândia. Por muitos anos, este ramal foi o principal meio de ligação entre o sudeste e o centro-oeste brasileiro, levando passageiros e mercadorias, o que gerou muitas oportunidades de negócios e geração de riquezas.
A Praça Tubal Vilela marcou o início da grande remodelação urbana da antiga São Pedro de Uberabinha iniciada nos idos de 1957. Foi projetada pelo o arquiteto João Jorge Coury e inaugurada em 1962. Até hoje é o palco principal para as manifestações políticas e culturais da comunidade.
Atrativos de valor cultural
Dos atrativos turísticos e arquitetônicos de valor cultural, destacam-se na paisagem de Uberlândia importantes construções ainda preservadas em suas características originais.
A antiga sede da prefeitura, o hoje Museu Municipal, abrigado no prédio conhecido como Palácio dos Leões, localiza-se na Praça Clarimundo Carneiro, aliás um belo espaço público do centro da cidade inaugurado na década de 1920. Aberto há 18 anos, o Museu tem como principal atrativo o projeto “Nossas Raízes”, responsável por resgatar a história da fundação da cidade da “terra fértil”. A exposição conta com objetos como a maquete da pequena Uberabinha, painéis e textos. “Os objetos de época e uma proposta narrativa sustentam a abordagem do processo histórico vivido na região. Aborda fatos que precederam a formação do município, o posseamento por meio de fazendas e o início da organização urbana — até 1908, quando já se encontrava formado o embrião da atual Uberlândia”, informa a instituição.
O Mercado Municipal, construção de 1944, também localizado no centro da cidade, tem como atrativos os produtos típicos de Minas Gerais como queijos, doces e diferentes marcas de cachaças artesanais. Artesanatos diversos, uma tabacaria, além de um espaço para apresentações de peças de teatro e uma galeria de arte completam o leque de atrações.
Não muito longe do mercado, está a singela Igreja de Nossa Senhora do Rosário, erguida entre os anos de 1928 e 1931 no lugar de uma capela datada de 1883. O templo é tombado como Patrimônio Histórico Municipal. A Igreja do Divino Espírito Santo do Cerrado (fica no Bairro Jaraguá), projeto de 1975 da arquiteta Lina Bo Bardi, é outro importante marco arquitetônico e tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual.
Áreas verdes e vida noturna
Dos espaços verdes de Uberlândia, o Parque do Sabiá é a mais importante. Ocupa uma área total de 1.850. 000 m2, sendo que 350 mil metros quadrados é a área de um bosque repleto de ricos exemplares da flora típica do Cerrado — e tudo isso está encravado em uma região nobre, no Bairro Tibery, zona leste da cidade. Um grande lago artificial destaca-se na paisagem, porém existem mais sete pequenos lagos neste complexo de lazer que conta com equipamentos como quadras, piscinas, campos de futebol e pista para corrida e caminhada. Uma estação de piscicultura — produtora de alevinos utilizados para repovoar os rios da região — e o Zoológico Municipal são outros interessantes atrativos.
A vida noturna uberlandense tem o mesmo ritmo das maiores cidades brasileiras. Os restaurantes concentram-se na Av. Rondon Pacheco e oferecem as mais variadas opções entre churrascarias — uma especialidade local são as boas casas que oferecem carnes na modalidade de rodízio —, massas (são várias as pizzarias), cozinha típica mineira e oriental. São muitos também os bares, cafeterias e cachaçarias. A avenida reúne nada menos que 60 estabelecimentos com capacidade para atender até oito mil pessoas.
Para quem aprecia a tradicional gastronomia italiana, uma ótima opção é o Barolo Ristorante, anexo ao Center Shopping. O restaurante oferece seis diferentes ambientes e atende 200 mesas. O cliente pode montar o seu prato, escolhendo a massa, molhos, tempero e acompanhamento.
No centro da cidade, na Av. Floriano Peixoto, a referência da noite é o London, uma casa que se divide entre um café e um pub — com a decoração inspirada nas tradicionais casas inglesas. A programação do lugar é intensa com shows de artistas e bandas locais, apresentações de DJ’s e festas com diferentes temas. Quase em frente ao London está uma outra boa opção para quem gosta de boa música — a programação de shows também é variada — e de um chopp gelado muito bem servido: o Rock‘n Beer, um pub com inspiração irlandesa.
Praia Clube
Apesar de ser uma instituição privada, um clube social com 76 anos de existência, o Praia Clube — considerado um dos maiores e mais completos do país — definitivamente é uma atração à parte de Uberlândia. Com localização privilegiada, às margens do Rio Uberabinha, ocupa uma área de mais de 300 mil metros quadrados. Sua infra-estrutura é de impressionar: oferece um verdadeiro parque aquático com piscinas olímpica, aquecida e infantil, campos de futebol, complexos de hidroginástica, de tênis, de jogos, academias de ginástica, quadras de petecas, salas para yoga, judô e ginástica, saunas, pista para atletismo, pista para corrida e caminhada, bares e restaurantes, dentre outros.
O clube ainda conta com três grandes ginásios, sendo que o Ginástico G1 ocupa uma área total de 4.926 m², onde estão instaladas sete quadras de peteca, lanchonete, bares, churrascaria, camarins, camarotes, vestiários e um amplo palco para shows.
Impressiona a impecável organização do clube e os projetos de ampliação, pois uma grande área anexa transformou–se em um imenso canteiro de obras de onde surgirão novos atrativos para os associados.
O Praia Clube — por sua imponência, por sua tradição e pelo que representa quando desvela o estilo de vida de seus associados, uma parcela representativa da gente uberlandense — pode ser observado como símbolo de uma cidade ambiciosa, empreendedora, que vislumbra o futuro — sempre na perspectiva de se transformar, muito em breve, numa cosmopolita e rica metrópole.