
As comunidades quilombolas conservam as tradições da cultura afro-brasileira em quatro quilombos de Brumadinho. Eles se tornaram interessantes atrativos turísticos que foram estruturados no “Circuito dos Quilombolas”.
Por Cezar Félix (texto e fotos)
O município de Brumadinho, localizado na região metropolitana de Belo Horizonte e conhecido nacionalmente por abrigar o Instituto Inhotim, também guarda um valioso patrimônio cultural profundamente ligado às raízes das ancestralidades brasileiras. Trata-se das comunidades quilombolas, que conservam as tradições legadas pela cultura afro-brasileira.

Música, dança e ancestralidades: cultura preservada.
A importância dos quilombos de Brumadinho é tão relevante que eles mereceram a certificação da Fundação Cultural Palmares (FCP) — instituição pública federal brasileira responsável “por promover e preservar a cultura afro-brasileira, valorizar a identidade e a memória negra, e combater o racismo”.

Igreja de São Vicente de Paulo no Quilombo de Sapé.
Dentro dos limites do município existem quatro quilombos: Quilombo de Ribeirão, Quilombo Rodrigues, Quilombo de Sapé e Quilombo Marinhos. Eles se tornaram interessantes e originais atrativos turísticos após ganharem um roteiro específico, chamado de “Circuito dos Quilombolas”.
Resgatar as tradições
A proposta do roteiro “é resgatar as tradições e dar visibilidade a essa identidade cultural centenária por meio de uma programação repleta de cultura, música, dança e gastronomia. Os quilombos são um convite para quem deseja vivenciar uma experiência autêntica por meio da religiosidade, dos cânticos, dos artesanatos e dos sabores únicos”.

A rota turística propõe resgatar as tradições e dar visibilidade à identidade cultural dos quilombos.
Os Quilombos de Brumadinho fazem parte das experiências turísticas do catálogo Céu de Montanhas, coletânea desenvolvida pela companhia Vale em parceria com o Instituto Rede Terra —uma Organização da Sociedade Civil, qualificada como entidade privada sem fins lucrativos. A instituição, como explica o seu sítio oficial, tem “como missão colaborar com o poder público, o setor privado e a sociedade civil no diálogo social e na governança de projetos de sustentabilidade e proteção dos direitos humanos”.

Os Quilombos de Brumadinho integram as experiências turísticas do catálogo Céu de Montanhas.
Céu de Montanhas
Lançado em 2022, o Céu de Montanhas reúne cerca de 40 vivências rurais, gastronômicas, artísticas e bem-estar disponíveis na região. Conforme esclarece o catálogo, cada quilombo oferece diferentes oportunidades de vivências aos turistas. No Quilombo Ribeirão, a experiência é repleta “de música, alegria, samba e dança”, com destaque para “o forró e o samba de roda, que são muito presentes na vivência”. No Ribeirão, o visitante saboreia a culinária quilombola com pratos criados a partir de produtos orgânicos locais. Destaque para a deliciosa feijoada.

Experiência de confeccionar a pulseira de Lágrima de Nossa Senhora no Quilombo Rodrigues.
Também estão ao dispor as belas peças para mesa, decoradas com os peixes bordados pelo estilista Ronaldo Fraga. Mais um ótimo atrativo é ouvir o grupo Cigarras do Quilombo Ribeirão. São quatro irmãs que cantam belas canções e ainda “compartilham as histórias e tradições dos seus ancestrais quilombolas”. Elas são ainda as “principais artesãs da comunidade e suas habilidades manuais dão vida a produtos que refletem a rica herança cultural do quilombo”.

O café no Quilombo de Sapé.
Vivências
No Quilombo de Rodrigues, o visitante tem a “oportunidade de vivenciar as tradições culturais e religiosas da comunidade”. O Céu de Montanhas informa que a visita é interativa, pois o turista pode “confeccionar um instrumento de percussão, comum nos festejos quilombolas, que é fabricado com cabaça e contas coloridas, chamado de xequerê”. Além de experimentar e manusear o xequerê, o visitante conhece a oficina, aprende a construir e tocar o instrumento e pode levá-lo para casa.

Peças do artesanato sempre ao dispor dos visitantes.
A outra vivência é aprender confeccionar a pulseira de Lágrima de Nossa Senhora, feita com sementes encontradas nos quintais dos quilombos da região. Depois é só colocar no pulso e ir embora com a bonita peça.
Música e dança
No entorno da histórica Igreja de São Vicente de Paula, acontece a vivência no Quilombo do Sapé. Após uma linda celebração de dança e música em frente ao templo, o turista é convidado a saborear um farto e saboroso café, preparado com ingredientes típicos do município. O principal atrativo do café é o tradicional biscoito chamado de “João Deitado”. É como exalta o Céu de Montanhas sobre a experiência: “o café vira celebração, cercada de histórias, ancestralidade e música para aquecer sua alma e seu coração”.

O turista é recebido com alegria e atenção.

Apresentação com cânticos no Quilombo Marinhos.

A benção em frente a Igreja de Nossa Senhora da Conceição.
Patrimônio imaterial e material do município e Brumadinho, a experiência turística do Quilombo Marinhos gira em torno dos cânticos e das tradições do lugar, cujo símbolo é a Igreja de Nossa Senhora da Conceição.
Valores seculares
A vivência turística no quilombo, conforme o Céu de Montanhas, “possibilita um mergulho na identidade e na cultura de Marinhos, que trazem uma secular tradição”. O turista é brindado com uma apresentação feita com cânticos quilombolas que ilustram uma “representatividade de poder e fé”. Após as emocionantes apresentações (com muita música, batuques e danças), os quilombolas explicam os significados das manifestações e os valores seculares da tradição histórico-cultural quilombola.

A boneca Maria do Quilombo, desenhada por Ronaldo Fraga.
Outros atrativos são os lindos produtos artesanais têxteis, como a boneca Maria do Quilombo, desenhada por Ronaldo Fraga e produzidas pelas mulheres. Por fim, a anfitriã Nair de Fátima Santana Silva, reúne as pessoas em frente à igreja e conduz uma comovente seção de bençãos.

Turistas em um dos atrativos da rota dos quilombos.
Turismo consolidado
Os quilombolas estão felizes com a consolidação da rota turística. Moradora da comunidade desde quando nasceu, Shayane Aparecida Braga dos Santos, de 23 anos, diz que se sente “muito honrada em seguir e preservar as nossas tradições, pois assim nós também honramos os nossos antepassados”. Ela acrescenta que mostrar a cultura quilombola para os turistas é também “uma grande conquista para toda a comunidade”.

Apresentação musical no Quilombo de Ribeirão.
O senhor Ciril Fátima da Silva, de 63 anos, diz que “como quilombolas nos sentimos muitos felizes em receber os turistas.” Para o morador do Sapé, o turismo “trouxe novas perspectivas e se tornou muito importante para todos nós”. Ele destaca que a comunidade dos quilombos de Brumadinho “carrega a herança da liberdade deixada pelos antepassados” e faz questão de “manter as tradições”. Ciril cita como exemplo a preservação das manifestações do congado, do moçambique e das quadrilhas.

Paixão e fé.
Maria de Fátima Santana Silva, também de 63 anos, acrescenta que “a gente conservando, nós perpetuamos os nossos antepassados e levamos o legado deles para as novas gerações quilombolas e também para os turistas, com muito afeto e amor”. Fátima acredita no constante crescimento das atividades turísticas no Circuito dos Quilombolas, principalmente porque os visitantes “ficam muito felizes e impressionados” com os atrativos e “vão embora muito satisfeitos”.




