Tradição, qualidade e inigualável sabor
A cachaça é uma bebida genuinamente brasileira, cuja produção artesanal encontrou a sua maior expressividade em Minas Gerais — por isso, o produto obteve certificação internacional de origem. Seja pela colheita da cana, seja pelo alambique de cobre ou ainda por variações de solo e de temperatura, a cachaça artesanal é reconhecida pelo inconfundível sabor e pela qualidade.
Fotos Eduardo Gontijo
Ao longo da Estrada Real, o turista vai encontrar bares e restaurantes que oferecem uma dose da bebida, sempre acompanhada do bom “tira-gosto”, também tipicamente mineiro.
A cachaça artesanal ganhou o seu devido valor, pois é vista como uma bebida nobre, com apreciadores espalhados por diferentes países.
Cachaça artesanal
O modo artesanal de produção da cachaça de alambique exige calma, cuidado e, sobretudo, esmero. O processo é custoso e cheio de detalhes. Produzir cachaça é uma combinação entre ciência, arte, paixão e sabedoria. Apesar da matéria-prima ser o caldo da cana de açúcar, cada cachaça carrega as melhores características de seu produtor.
O Alambique Cachaça Prazer de Minas Estrada Real, localizado no município de Esmeraldas, a 50 km de Belo Horizonte, é um ótimo lugar para se compreender esse modo artesanal de produção. Na visita à propriedade, é fácil verificar que ali a cachaça ganha um tratamento especial. A melhor das impressões começa pela maneira como se é recebido, como se o visitante fosse uma pessoa da família, tamanha é a gentileza do anfitrião.
Euller Chaves, proprietário do Alambique da Cachaça Prazer de Minas, conta que o seu trabalho começou há 15 anos, quando adquiriu a propriedade e queria — como bom administrador — torná-la rentável.
Na época, a Universidade Federal de Lavras, prestava consultorias para novos proprietários de terras. Euller foi até lá e conheceu a professora Rosane Chuman que, sem hesitar, disse que a sua terra era ideal para produzir cachaça. O administrador recordou-se que que achava a bebida demasiadamente forte. Decidiu então refletir sobre o tema. Meses depois, ele decidiu, ao lado da esposa, participar do primeiro curso sobre cachaça oferecido pela Universidade de Lavras. No curso, Euller aprendeu a trabalhar todas as etapas de produção e, principalmente, passou a dominar uma tecnologia ainda incomum no mercado: as leveduras selecionadas.
Após terminar o curso, Euller Chaves optou por investir na produção de uma cachaça especial, diferenciada pela alta qualidade. A primeira providência foi fechar um acordo com a professora Rosane Chuman, que participou do projeto ao disponibilizaro as leveduras.
Logo depois, em 1999, ficou pronto o primeiro prédio do Alambique. O resultado foi da primeira produção da Cachaça Prazer de Minas foi surpreendente. Ao voltar em Lavras, para participar de um simpósio sobre a bebida, os professores aprovaram com louvor a cachaça assinada por Euller. Em 2002 surge um novo prédio. 2005, outro. Hoje, são várias adegas, sendo uma ainda mais especial, pois é subterrânea.
A produção anual do Alambique Prazer de Minas chega a 65 mil litros ou cerca de 100 mil garrafas. Euller, antes um pouco desconfiado, hoje é pós-graduado no tema produção de cachaça artesanal de qualidade superior.
Leveduras bem selecionadas
O Alambique da cachaça Prazer de Minas cresceu e a sua produção impressiona, pois todas as etapas são importantes. Euller faz questão de explicar cada detalhe do modo de produção. O orgulho pelo trabalho fica estampado na simpatia do seu sorriso.
Tudo começa pela colheita, feita manualmente. O trator leva a cana até o local de moagem e ninguém mais toca na matéria-prima. A cana fresca é cortada e moída; as moendas então separam o caldo do bagaço. Este será usado para aquecer as fornalhas do alambique. O caldo é decantado e filtrado. Nessa etapa, obtém-se o “vinho de cana” e depois é na Sala de Fermentação que agem as “leveduras selecionadas”, seres unicelulares que atuam na fermentação alcoólica sem usar aditivos químicos. Há leveduras boas e ruins, por isso selecioná-las é o maior segredo para se alcançar o padrão de qualidade e o melhor sabor.
A Prazer de Minas foi uma das primeiras cachaças a utilizar esta tecnologia. “Foi muito importante essa história da mudança da levedura; há 15 anos, ela é responsável pela excelência de produção em que nos encontramos hoje”, argumenta Euller, sempre otimista.
Etapas
As etapas de produção exigem importantes cuidados. O vinho produzido durante a fermentação possui componentes nocivos à saúde. Por isso, na destilação, é fervido dentro de um alambique de cobre — utilizado também na produção do rum e do uísque. Euller explica que o cobre tem uma versatilidade muito maior do que o alambique de aço inoxidável. “O caldo de cana traz do solo sais de enxofre. Ao destilar o caldo no alambique de cobre, os sais de cobre liberados neutralizam os sais de enxofre — o que aromatiza ainda mais a cachaça”. Entretanto, há um limite de sais permitido pela lei. Por isso, elimina-se a “cabeça da cachaça” — nome dado para o líquido obtido na fase inicial da destilação — onde estão os excessos de sais.
O sabor e a poesia ficam por conta do coração da cachaça — a segunda fração destilada. Já a cauda, a terceira fração, também possui substâncias indesejáveis e é descartada. Após a destilação, para corrigir eventuais defeitos e dar maior limpidez, a cachaça passa por uma filtração. Por fim, o coração é enviado às adegas para seu merecido descanso.
A marca Cachaça Prazer de Minas Estrada Real Prata envelhece em dornas de Madeira Jequitibá. Já a Ouro, envelhece em Barris de Carvalho Europeu e Americano.
O tempo de envelhecimento também faz a diferença. O alambique produz as cachaças prata e fina (ouro), ambas de dois anos anos de envelhecimento; a Luxo envelhece por três anos, a Gold por cinco anos e a Celebration, envelhecida por 10 anos, é repleta de requinte: é engarrafada em legítimas garrafas de cristal da Bohêmia. Quem adquire esta relíquia, pode ainda adquirir o refil da bebida.
Cachaça Estrada Real
Há cinco anos a Cachaça Prazer de Minas ganhou uma nova e exclusiva marca: tornou-se Cachaça Prazer de Minas Estrada Real. Para Euller, a parceria tem um imenso significado, “pois é uma honra estar vinculado a um Instituto que realiza um trabalho de preservação da memória tanto da história da Estrada Real quanto das cidades localizadas em seu entorno”.
O proprietário afirma que “além do orgulho pessoal”, é muito vantajoso o produto ser identificado como parceiro do Instituto Estrada Real — “uma instituição de alta credibilidade que promove o turismo e fomenta mercados”.
Euller Chaves reconhece que houve uma expansão do mercado consumidor da Cachaça Prazer de Minas “ao criarmos o produto Estrada Real”: “como enviamos a cachaça para vários lugares do Brasil, o consumidor logo identifica o estado de origem pela marca Estrada Real, que, por sua vez, é amplamente divulgada, principalmente na região Sudeste.”
Qualidade garantida
Como garantia de qualidade, toda a produção do Alambique Prazer de Minas segue o padrão auditado pelo INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).
Após as cachaças artesanais começarem a ganhar destaque, o Sebrae (Serviço de Apoio às Pequenas e Médias Empresas) incentivou o INMETRO a criar uma normatização da produção da bebida. “A Cachaça é um produto brasileiro. A certificação deu aos produtores certificados um selo ISO de qualidade e a Prazer de Minas foi um dos primeiras cachaças certificadas”.
O mercado interno reconheceu o fato, pois é uma maneira de garantir que o padrão de qualidade será mantido. Para que os estrangeiros provem a bebida, a certificação é indispensável.
A Cachaça Prazer de Minas Estrada Real viaja até Portugal de onde a bebida é distribuída para países como Inglaterra, França e Itália. Vai também para os Estados Unidos — um mercado exigente em qualidade e na obediência de padrões de certificação.
O gosto do caminho
O Alambique da Prazer de Minas Estrada Real é o mais próximo de Belo Horizonte e segue em direção ao Caminho dos Diamantes. Os funcionários recebem os visitantes com entusiasmo. Parente, como é apelidado o funcionário de 56 anos que vive na fazenda, abre um sorriso fácil e garante que ali a vida é sossegada. Porém, especial é o momento da degustação — que acontece em um clima acolhedor numa charmosa adega subterrânea onde as horas parecem não passar.
Com o ‘Cachaça Tour’, criado pela Belotur Empresa Municipal de Turismo Belo Horizonte), ficou mais fácil para os interessados descobrirem o lugar — o reforço, é claro, veio com a parceria com a Estrada Real. Inclusive, é um ótimo local para carimbar o passaporte Estrada Real.
Como não poderia deixar de ser, o alambique está preparado para mostrar esse verdadeiro “oásis” da mais típica das bebidas durante a Copa do Mundo. Afinal, será tempo de confraternizar; a visita é livre e é só chegar preparado e deixar o corpo aproveitar a experiência sensorial de degustar a bebida no seu local de produção: “é preciso harmonizar corpo e alma para poder melhor apreciar esta tão nobre bebida”, reforça Euller Chaves. Por fim, conclui-se que a Prazer de Minas Estrada Real harmoniza-se com todos os caminhos, com todas as histórias e com jeito bem mineiro de acolher os turistas.
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