Patrocinada pela Gerdau, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, a Exposição de Fotografias Vasto Sertão Gerais, o Cerrado de Minas, estreou no dia 19 de agosto no MM Gerdau – Museu das Minas e do Metal, localizado na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, e foi vista, por um grande público, até 12 de outubro. Depois — com uma proposta de itinerância — seguiu para Curvelo (21 de outubro a 6 de novembro) e, em seguida, para Três Marias — de 11 a 30 de novembro. A mostra possui curadoria da artista visual e fotógrafa Maria Vaz e apresenta fotografias realizadas pelo jornalista e fotógrafo Cezar Félix, com imagens produzidas no Cerrado mineiro e inspiradas na obra de Guimarães Rosa. A produção executiva é assinada pelo também fotógrafo e artista visual Cyro Almeida.
Texto Maria Vaz/Fotografias Cezar Félix
Entre trilhas e atalhos, ladeados de buritis e palmeiras despenteadas, rios remansos e paisagens vertentes: um vasto sertão.
Num lugar que não é só território, mas que habita e é habitado por ele, o sertão manifesta-se no meio da travessia, ou “dentro da gente”, como escreveu Guimarães Rosa. E Cezar Félix, ávido leitor de Rosa, atravessa o cerrado mineiro encantado pelas veredas estreitas — os oásis do sertão —, pelos recantos verdes e pelo canto das araras-canindé, guiando-nos pelas fotografias que tanto desvelam caminhos quanto nos intimam a ver de perto, num convite à contemplação.
De muito perto, vê-se nascer um rio que cruza centenas de municípios. “Opará”, “Paripitinga”, “Velho Chico” ou “São Francisco”; os quase três mil quilômetros do seu curso d’água nascem ladeados de campos úmidos e rupestres. Outras águas caem de pontos tão altos que ver de longe faz mais vista à imensidão da queda. Fazendo jus ao nome, veem-se as tão sempre-vivas que vagalumeiam flutuantes em qualquer estação do ano. Vê-se, nesses caminhos que não se acabam, quem também os percorreu.
Sem fim ou começo, dá-se meio ao percurso, desentendido de tempo, carecido de voltas. E pausas.
É preciso deixar-se perder, que, quando menos se espera, o sertão atravessa.
Flora e fauna
Uma das maiores biodiversidades do planeta, o Cerrado abrange não apenas uma amplidão territorial heterogênea, como também abriga uma infinidade de espécies animais e vegetais. Da imensidão dos capões e chapadões, dos montes e horizontes ao embrenho das veredas povoadas pelos buritis, estima-se que o domínio do Cerrado possua 12 mil espécies de plantas, das quais, mais de 4 mil são nativas.
A fauna do bioma conta com mais de 1.500 espécies de animais vertebrados — mais de 100 delas exclusivas da região —, estando nele representados o gavião-carcará, a coruja-do-campo, a ema, o veado-campeiro, a maria-preta-de-penacho e a arara-canindé. Dentre os invertebrados, a diversidade é tão grande que até uma estimativa de 90 mil espécies está em constante alteração, com novas inclusões.
Um bioma tão vasto que, mesmo diante de constante ameaça, protege seus mistérios e é protegido por suas raízes: para muito além do que a vista alcança nos campos limpos, sujos e rupestres, há uma floresta que cresce ao avesso, com raízes até 20 vezes mais compridas que as árvores que elas sustentam, buscando água nos solos mais profundos durante os invernos secos.
O bioma mais antigo do Brasil, com aproximadamente 65 milhões de anos, adaptado à variabilidade do clima típico, entre chuvas e estiagens, é também, depois da Mata Atlântica, o mais ameaçado do país. Principalmente devido à acelerada expansão espacial das atividades agropecuárias, a cobertura vegetal do Cerrado conta com mais da metade já devastada, colocando em alto risco a biodiversidade local. É diante disso que este, para além de um convite à contemplação, é, também, um convite à conservação.
Festas e ritos
O que se manifesta dentro da gente é expresso por meio de ritmos, cores, ritos e preces, amalgamadas à própria paisagem. Percorrer o sertão é também ser atravessado pelo espírito religioso e sincrético de tantos que o habitam, por uma enorme profusão de heranças de matrizes africanas, europeias e médio-orientais que promovem o encontro entre tantas tradições.
Interessado e envolvido pela também vasta manifestação cultural que o Cerrado abraça, Cezar Félix acompanha o cortejo do Grupo de Congado Nossa Senhora do Retiro de Paraopeba — um dentre centenas, sertão afora — e a entrada dos marinheiros na Capela de Nossa Senhora do Rosário.
Adentra a Capela de São José, localizada na Serra dos Alves (distrito de Itabira) e construída pelos próprios moradores no século dezenove, a Basílica de São Geraldo de Curvelo — não há outra no mundo dedicada ao santo — e o Santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Felixlândia, onde está a escultura barroca de mesmo nome, cuja data provável é 1783. É a única obra de Aleijadinho nos Gerais e no sertão.
Mais do que um caminho percorrido, é do espaço vivido que são feitas as imagens: um registro do que foi construído ao longo de tantos anos de história e permanece vivo por meio das festas, dos ritos e da fé de um povo.
O percurso do fotógrafo
Desse meio, não se dá apenas o percurso que conduz o autor das fotografias, mas também o menino que é criado e cresce no convívio com o ambiente e cujo imaginário acerca do sertão está para além da imensidão de uma paisagem, está no sabor das gabirobas e araçás, no aroma verde exalado pela noite e no chá de carqueja feito pela avó. Natural de Patrocínio, município mineiro que fica na região do Alto Paranaíba, composto de planaltos, chapadas, inúmeras nascentes, águas minerais sulfurosas, magnesianas e radioativas, e cuja pré-história tem no registro um vulcão extinto, Cezar Félix percorre, desde a infância, essas terras do sem-fim.
Guiado, nas próprias palavras, pela emoção e pelo desafio de fazer jus à grandiosidade do Cerrado mineiro, Cezar Félix produz fotografias que apresentam a travessia do território desde a capital do estado, passando por Buenópolis — onde está localizada a Serra do Cabral —, Morro da Garça, Corinto, Felixlândia, Curvelo, Cordisburgo, até Três Marias e o distrito de Andrequicé.
“E para lá, o que mais tem?”, pergunta o fotógrafo andarilho, querendo ver e andar mais, num dos encontros que os caminhos facilitam. Em resposta, um homem aponta: “Pra lá, está o rio, o Velho Chico. Pro outro lado, a serra. E, ali, não tem mais nada, não, é só Gerais”.
Num só infinito de Gerais, acontece o percurso, labiríntico, assim como o sertão.
Google Arts and Culture
A Exposição Vasto Sertão Gerais, o Cerrado de Minas — patrocinada pela Gerdau @gerdau, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura —, com fotografias assinadas por Cezar Félix @cezarfelixfotos, curadoria de Maria Vaz @mariafivaz, além de produção executiva de Cyro Almeida @cyro.almeida, está no Google Arts and Culture, no perfil do MM Gerdau – Museu da Minas e do Metal @mmgerdau.
Acesse o link:
https://artsandculture.google.com/story/7gXRR9BhxDQ26g
Após ser a mostra recordista em visitação no MM Gerdau – Museu da Minas e do Metal, Vasto Sertão Gerais, o Cerrado de Minas, poderá ser vista nos quatro cantos do mundo no Google Arts and Culture, a mais poderosa plataforma virtual de cultura e arte da Terra