Festejos religiosos na Estrada Real

Sagrado folclore, profanas festas

Os bens artísticos e monumentais — obras arquitetônicas, obras esculpidas ou pinturas — são objetos de tombamento por parte das instituições responsáveis pelo patrimônio histórico. As manifestações e os festejos culturais também podem ser tombados.

Já existe hoje uma maior compreensão sobre a abrangência do conceito patrimônio histórico e cultural: as tradições orais, festas populares, folclore, música, dialetos e até gastronomia são os chamados patrimônios imateriais, que podem (e devem) ser tombados.

Os festejos religiosos ao longo dos caminhos da Estrada Real contribuíram – e ainda contribuem – consideravelmente para a formação cultural, social e política de Minas Gerais e do Brasil. Para os moradores, as festas são momentos de reviver, festejar e reverenciar a memória e preservar vivo esses patrimônios intangíveis.

Para os turistas, é uma ótima oportunidade de embarcar na história por meio de sons, danças e costumes típicos. Quem explora o Caminho Novo não pode deixar de participar da Folia de Reis em Matias Barbosa (MG), festa religiosa de origem portuguesa que reproduz a viagem dos Reis Magos. Todo fim de ano, grupos de cantadores percorrem a cidade entoando versos:

“Ó de casa, ó de casa / Alegra esse moradô / Que o glorioso santo Reis / Na sua porta chegô”. Os moradores recebem os festeiros que dançam ao som do violão, do pandeiro e do cavaquinho. Oferendas são bem vindas — seja um cafezinho, uma dose de cachaça, um prato de comida ou uma contribuição para a Folia de Reis. Os foliões deixam em troca a alegria, a fé, bandeiras coloridas e santinhos.

Já no Caminho dos Diamantes, fé e festividades também não faltam. Em Milho Verde (MG) a Folia de Reis também faz visitas às casas, decoradas com presépios, em um belo cortejo musical. No mesmo mês, São Sebastião é homenageado no Serro, enquanto em junho, a festa de Santo Antônio toma conta de Santo Antônio do Norte. Junho também é o mês do Jubileu de Bom Jesus de Matosinhos, que leva milhares de fiéis para Conceição do Mato Dentro.

Pelos caminhos os festejos iluminam as cidades em várias datas do ano. Diamantina hoje é a cidade das serenatas. “Uma serenata em Diamantina é mais bela que uma noite de trovadores em Nápoles. A cidade toda canta, despreocupada, diluindo na beleza dos sons as angústias comuns da vida”. A frase é de Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil eleito em 1955 e que nasceu na cidade. A qualquer momento surge pelas ruas, ladeiras e becos, alguém a tocar e a cantar.

Vesperata, Congado e Semana Santa

A mais famosa manifestação musical da cidade é a Vesperata. Dois sábados por mês, de março a outubro, as sacadas dos casarões no largo da Quitanda viram palco para a Banda de Música do 3º Batalhão de Polícia Militar e a Banda Sinfônica Mirim Prefeito Antônio de Carvalho Cruz. A plateia assiste da rua o espetáculo com a música vindo de todas as direções. Quase que confundido com o público, está o maestro, que rege a apresentação do meio da multidão. Aos poucos, quem está sentado, se levanta para dar coro aos instrumentos. Noite em que Diamantina canta sua história.

Dos festejos, de imemorial tradição, o Congado é de uma importância ímpar no que se refere à fé religiosa e à grandiosidade da cultura popular brasileira. Cidades e vilas se transformam em palcos de reis e rainhas do Congo. É a Festa de Reinado, de tradição afro-brasileira com devoção a Nossa Senhora do Rosário. Minas tem a maior concentração de congadeiros do país, segundo a Federação dos Congados do Estado, sendo que o primeiro registro do evento data de 1711. Nos caminhos reais há sempre devotos prontos para mais um Reinado. Na definição do escritor Mário de Andrade o congado é um “teatro musical” — grandes bailados regados a música, religiosidade e História. Entra-se no Ciclo do Rosário no princípio de agosto, ainda que algumas manifestações aconteçam em períodos diferentes, como no Serro — final de junho — e em Conceição do Mato Dentro — no começo de janeiro.

Ouro Preto, por sua vez, vive o mito de Chico Rei, um personagem que, segundo a tradição, era o rei de uma tribo no reino do Congo e foi trazido como escravo para o Brasil. Conseguiu comprar sua alforria e de outros conterrâneos com seu trabalho e tornou-se “rei” em Ouro Preto. Sua história é lembrada todo ano na cidade. No primeiro dia do ano, o Congado de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia ergue suas bandeiras. O encerramento acontece com um grande cortejo que vai da Igreja de Santa Efigênia à Mina de Chico Rei (Encardideira), onde os reis coroados são homenageados. Outras cidades também mantém viva a tradição do Congado, dentre elas Itapanhoacanga, Couto Magalhães, Oliveira, Contagem, São João Del Rei e Tiradentes.

Na antiga Vila Rica o que não falta são manifestações populares seculares. Entretanto, o destaque vai para a Semana Santa, em abril, quando a cidade já está recuperada da folia do tradicional carnaval e vira um placo inabalável de fé. Para receber as procissões, as ruas são coloridas por moradores por tapetes feitos com serragem colorida e decorados com flores. Os turistas são convidados a completar a confecção dos tapetes. Em junho, no Corpus Christi, as ruas também são cobertas e transformam-se em palcos das festividades. Nos distritos próximos também há celebrações, como as cavalhadas de Amarantina, na Festa de São Gonçalo — um dos ricos marcos do patrimônio imaterial do município.

Eventos culturais contemporâneos também fazem parte do calendário da cidade de Ouro Preto, como o Festival de Inverno realizado em julho com atividades culturais como shows, peças de teatro e oficinas, produzidos tanto para a população local como também para os turistas. O já consagrado Festival ‘Tudo é Jazz’, em setembro, traz artistas de renome nacional e internacional para o incrível cenário que é a cidade nas noites de primavera.

Candombe – Serra do Cipó

Na Serra do Cipó, na área rural do município de Jaboticatubas, uma tradição é mantida viva por meio de muita fé e música: é o Candombe. Lá encontra-se a comunidade quilombola do Açude Cipó, onde vivem várias famílias descendentes dos escravos. As comemorações, geralmente no último sábado de maio e no segundo sábado de julho e de setembro, são regadas a muita música — com caixas de percussão, denominadas tambu, confeccionadas por antigos moradores no final do século XIX. Nas festividades, orações são repetidas várias vezes para agradecer a Nossa Senhora do Rosário por todas as bênçãos concedidas à comunidade. Antes do Candombe começar, deve-se fazer a reza, obrigatória, ao som de violas e cavaquinho. Qualquer pessoa, mesmo quem não pertence à comunidade do Açude, pode entrar na roda e participar. É servido bolo de fubá para os convidados e a tradicional cachaça mineira.

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