Na Rota do Queijo, os desenhos da natureza em Delfinópolis

 

Vale da Bateia, na Serra da Canastra em Delfinópolis: vista arrebatadora.

O município conhecido como “paraíso do ecoturismo” está em uma região privilegiada pela natureza: é rico em nascentes, abriga muitas cachoeiras, é banhado pelo rio Grande e guarda em seus domínios vastas extensões do Parque Nacional da Serra da Canastra, além, é claro, de valioso acervo da biodiversidade do Cerrado. Delfinópolis agora faz parte da Rota do Queijo Canastra que, junto às lindas paisagens, tem nas queijarias premiadas, e também nas fazendas produtoras de cafés especiais, atrativos irresistíveis — principalmente porque o Queijo Minas Artesanal tornou-se Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, uma chancela da Unesco.

Por Cezar Félix (texto e fotos)

Do alto dos chapadões a vista alcança longe, pois para muito além dos planaltos parece não ter fim a paisagem que se alonga em várias tonalidades de verde até os limites do céu azul. Talvez porque seja verão e a passagem de uma chuva rápida, mas forte — comum para esta época do ano — refrescou o tempo ao lavar o clima; tudo ao redor, muitos quilômetros quadrados em volta, está límpido — o ar, a água, a vegetação do Cerrado de instigante e ao mesmo tempo misteriosa beleza.

O município tem cerca de 150 cachoeiras.

Esta região, chamada de Nascente das Gerais, nome de um circuito turístico, é privilegiada por ter a dádiva de ser banhada pelo rio Grande e por fazer brotar dos mais profundos lençóis d’água o grandioso — porém sofrido e maltratado, mas redentor — rio São Francisco, o “Velho Chico”. Nascente das Gerais é, não há dúvida, um bom nome para identificar essas terras que abrigam muitas belezas e uma série de paradisíacos recantos entre as serras da Canastra e da Babilônia.

Vista do Rio Grande, que banha o município

“Paraíso do ecoturismo”

Em uma área de 1.171 km² desta parcela sudoeste de Minas entre a represa de Peixotos, no rio Grande, e a Serra da Canastra, a 411 km de Belo Horizonte, estão os domínios do município de Delfinópolis, não por acaso conhecido como o “paraíso do ecoturismo”. Os vários atrativos desta pequena cidade — pouco mais de 8 000 habitantes — que no ano de 1919 ganhou o nome em homenagem ao então governador (na época presidente de Minas) Delfim Moreira, justificam a alcunha.

Vista parcial da praça e da Igreja do Divino Espírito Santo.

Numa magnífica paisagem típica do Cerrado, esculpida por serras — como a Preta, a Branca, do Cemitério, do Caminho do Céu, da Gurita, a Grande, a de Santa Maria e da Babilônia — chapadões e vales brotam uma fartura de nascentes, piscinas naturais, fontes termais e nada mais nada menos do que cerca de 150 cachoeiras dos mais variados formatos,  alturas e tamanhos, porém com uma característica em comum: as águas são invariavelmente límpidas e transparentes. É bom lembrar que o Parque Nacional da Serra da Canastra tem uma grande área dentro dos limites de Delfinópolis — mais um importante atrativo turístico.

A balsa que faz a travessia do Rio Grande e placa que informa sobre as queijarias.

Trilhas a desbravar

Um dos acessos à cidade não deixa de ser outra atração: é preciso atravessar o rio Grande por meio de uma balsa, que funciona 24 horas, numa curtíssima viagem de quinze minutos. A outra forma de acesso é via o caminho conhecido como Estrada Ecológica — um trecho da BR-464, estrada de terra, que liga Passos, no sudoeste de Minas Gerais a Sacramento, no Triângulo Mineiro.Uma vez dentro do município de vocação ecoturística, são várias as opções de passeios em meio à natureza que desenhou fascinantes paisagens.

Trilha no Complexo do Paraíso. As tyrilhas são estruturadas e bem sinalizadas.

Pra começar a aventura, a primeira opção pode ser desbravar as trilhas que se oferecem em diferentes graus de dificuldade, todas dentro de fazendas — a maioria das propriedades garante algum suporte para o visitante e cobram pequenas taxas pelo acesso — com nomes como Roladouros, Galheiros, Condomínio de Pedras, Caminho do Céu, Chora Mulher, Pico Dois Irmãos, Monjolinho, Chapadãozinho e Casinha Branca. Esta última é a mais conhecida por ser de dificuldade média e ter 10 km de extensão.

São tantas quedas d’água que as cachoeiras são chamadas de complexos.

Ao longo da caminhada no alto da Serra Preta, além do lindo visual da Represa de Peixotos ao fundo, o turista vai poder se esbaldar com as cachoeiras do lugar chamado de Complexo do Paraíso. São deliciosas quedas d’água — como as cachoeiras do Triângulo, Borboleta, Vai Quem Pode, Coqueirinho, Lambari e Paraíso —, que formam generosos poços para banhos.

A paradisíaca Cachoeira do Zé Carinhos.

Uma trilha mais desafiante, porém repleta de indescritíveis cenários por cruzar uma região de rara beleza e rica em biodiversidade, é a travessia à pé para a Casca d’Anta, a deslumbrante cachoeira da nascente do São Francisco, cuja beleza dispensa maiores comentários. São três dias de caminhada, um desafio que vale muito a pena para quem ama a natureza.

 Complexos de cachoeiras

Poucas cidades de Minas Gerais podem oferecer tantas opções de cachoeiras tão agradáveis quanto Delfinópolis. É impressionante a variedade assim como a transparência, limpeza e frescor das águas. Elas estão em meio a vales, no meio das matas, entre serras, nas chapadas e despencam de paredões. São tantas quedas d’água que esses irresistíveis atrativos foram nomeados como complexos.

Uma das cachoeiras do Complexo do Paraíso.

Mais próximo da cidade, a 1,5 km, fica o complexo do Serro Alegre. São vários poços para banhos, e a linda cachoeira. No complexo do Claro, a seis quilômetros, destacam-se as cachoeiras da Paz, do Tom, da Cidade de Pedra e da Gruta. O lugar cobra uma taxa dos visitantes, mas oferece estacionamento, pousada, área para camping e lanchonete. As mesmas descrições valem para o complexo do Paraíso, a 7,5 km de distância. Lá, o turista tem ao seu dispor uma pousada, um restaurante e trilhas para ótimas caminhadas. É cobrada uma taxa de visitação.

Vista da represa de Peixotos.

Mais distante, a 32 km, fica o complexo do Luquinha, um ótimo passeio para quem gosta de dirigir pelas trilhas de terra que, aliás, são bem sinalizadas. Uma pousada no local atende quem desejar ficar um pouco mais para aproveitar o sossego e as cachoeiras. Outro complexo interessante, este a 22 km, é o de Maria Concebida ou Água Quente — por causa de um poço de águas mornas. Chega-se de carro até dois quilômetros de distância (existe uma área de estacionamento, outra para camping e banheiros) que precisam ser percorridos à pé em uma trilha bem sinalizada.

Cachoeira Maria Concebida na Pousada Acqualume.

Com boa infraestrutura para receber os visitantes como pousada, restaurante, sanitários, as cachoeiras do Vale do Céu, privilegiadas pela natureza, estão a 70 km de distância. No lugar, que cobra taxa de visitação por pessoa, o turista tem ao seu dispor um auditório, um espaço para exposições e pode assistir produções de vídeo com temas ligados ao meio ambiente. Outras cachoeiras que merecem todo destaque é a cachoeira do Ouro, a 33 km; de Santo Antônio, a 7,5 km; e do Zé Carlinhos, a 26 km. A primeira é considerada uma das mais bonitas de Delfinópolis pelo volume d’água, por estar em meio à mata fechada e pela altura da queda. Conta com estacionamento, lanchonete e é cobrada taxa de visitação.

Turistas se divertem em um dos vários poços para banhos.

A segunda possui um grande volume de água que cai com muita força na represa. Não é propícia a banhos, mas o visual é impactante. Já a terceira atrai pelo delicioso poço para banhos. Uma casa serve refeições, e é possível conhecer o seu alambique de cachaça artesanal, além de degustar a bebida. Um estacionamento completa a estrutura de atendimento; paga-se a taxa de visitação.

O município reforça a vocação para o ecoturismo com o aumento no número de turistas.

Acervo de atrativos

Outro lugar que precisa ser conhecido é o Condomínio de Pedras no alto da Serra Preta: descrito como um dos lugares mais belos da região, pois formações rochosas no meio do Cerrado foram esculpidas pelo vento durante milhões de anos. O cenário é de puro encantamento. Para fechar o acervo de atrativos desta surpreendente Delfinópolis, cidade “paraíso do ecoturismo”, vale a pena se aventurar para conhecer as corredeiras do Rio Santo Antônio, localizadas no sopé da Serra do Cemitério. Para quem gosta de praticar esportes de aventura como rafting, boia-cross e canoagem, dentre outros, as condições são muito boas.

As incríveis formações rochosas do Condomínio de Pedras, na Serra Preta. É preciso, porém, muita atenção com a chuva. Se começar a chover, é fundamental se afastar das margens por motivo de segurança.

Junto à encantadora flora do Cerrado, a região de Delfinópolis, sobretudo nos limites protegidos do Parque Nacional da Serra da Canastra, oferece aos olhos do turista a possibilidade de visualizar raros animais como o tamanduá-bandeira, o lobo-guará, o veado-campeiro, o tatu-canastra, a jaguatirica e capivaras, lontras e macacos-prego. Das aves, é possível avistar — e se deslumbrar — com a ema, o urubu-rei, a curicaca, os gaviões carcará e carrapateiro, os tucanos e o raríssimo pato mergulhão.

O município é destino turístico de alto valor agregado em todas as vertentes do ecoturismo.

É por estas tantas riquezas, resumidas neste acervo natural de inestimável valor, que o município de Delfinópolis pode se consagrar definitivamente como um destino turístico de alto valor agregado em todas as vertentes do ecoturismo. Como um importante reconhecimento a essa imensa vocação para o turismo, Delfinópolis recebeu da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo o selo de certificação de cidade turística. O município ampliou as expectativas de receber mais turistas para descobrir e, é claro, desfrutar das belezas naturais do abençoado lugar.

Esculturas de rochas em meio ao Cerrado.

Queijo Minas Artesanal

 Em primeiro lugar, é necessário explicar que para ser caracterizado como um Queijo Minas Artesanal (QMA) a iguaria precisa ser produzida com os seguintes ingredientes: leite cru, coalho, sal e o fermento natural, chamado de “pingo”. Esse último ingrediente é o grande trunfo dos produtores. Ele surge da seguinte forma: depois de pronto, o queijo é colocado para descansar durante um dia. Nesse período de 24 horas, escorre uma água do queijo, líquido que vem a ser o próprio pingo, o fermento natural, base principal do “terroir” do Queijo Canastra.

Queijo Minas Artesanal, Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

Em resumo, conforme explicam os produtores locais, o queijo da Serra da Canastra nasce a partir dessa descrição: as vacas vivem livres no campo e se alimentam de pastagem natural. Algumas pastam o capim natural do Cerrado, embora a maior parte do pasto seja formado pela braquiária, um capim exótico que se adaptou muito bem no bioma.

Pingo, fermento natural

As ordenhas das vacas acontecem sempre pelas manhãs, bem cedinho. Assim é obtido o leite cru utilizado na produção. Em seguida, após o coalho, é colocado o pingo. O fermento natural, segundo os produtores, faz com que cada produtor tenha um queijo com uma identidade única — ou seja, um queijo é diferente um do outro —, pois cada produtor usa o seu próprio pingo. Ainda conforme explicam os produtores, o toque especial dado por cada produtor vem com o tempero por meio do uso de apenas sal grosso, salpicado já com a massa na forma. “A quantidade de sal é que vai fazer a diferença”. A etapa seguinte é “grosar” o queijo, que inclui. lixar cada peça por fora de modo a realizar o acabamento.

Queijos da Reserva do Lago.

Finalmente, a regra é clara: “para conseguir o sabor, a textura, a coloração do tradicional Queijo da Canastra, colocamos cada queijo na tábua de maturação até ele curar. Assim ele ganha a sua identidade. O segredo nessa parte é virar o queijo todos os dias para que ele cure por igual dos dois lados”.

Para ser comercializado, o queijo precisa de 14 dias de maturação.  Porém, dependendo do período de maturação — 14, 30 ou 45 dias — surgem diferentes variedades do Queijo Canastra.

Queijarias e outros atrativos turísticos

A empresa Canastra Running, do guia Vnícius Alves, tem as rotas estruturadas..

O fato é que há em Delfinópolis um incrível conjunto formado pelos paradisíacos atrativos naturais e pelas queijarias, além das produções de cafés especiais e de artesanato. Há ótimos restaurantes, pousadas de qualidade e locais que marcam a história e a cultura do lugar, inclusive a religiosidade dos moradores.

Quem levou a nossa reportagem para visitar alguns atrativos da natureza (descritos na primeira parte desse texto), a quatro queijarias, à fazenda de café e aos outros pontos de interesse foi o guia turístico local Vinícius Alves, proprietário da empresa Canastra Running.

Artesanato criado a parir das fibras das bananeiras.

Priorizando as visitas às queijarias — todas elas oferecem a experiência de degustação de até seis diferentes tipos de queijos — Vinícius estruturou um roteiro impecável. Durante as trilhas, houve uma visita ao grupo de artesãs Arteiras da Canastra, que produzem originais peças artesanais com a fibra da bananeira. Elas integram a Associação de Artesãos e Artistas de Delfinópolis e desenvolveram um trabalho que aproveita 100% da bananeira. Em tempo: Delfinópolis é a segunda maior produtora de bananas de Minas Gerais. O projeto existe desde 2016, e se consagrou como exemplo de trabalho sustentável e tem grande importância na geração de renda paras as mulheres do município.

Variedade de peças na Cerâmica da Cris.

Outra parada foi na Cerâmica da Cris, onde o visitante encontra uma significativa variedade de encantadoras peças de cerâmica, todas esmaltadas.  A artista Cris Sgobbi domina técnicas japonesas — aprendidas por ela na Itália — e cria peças de decoração, fruteiras para mesa, pratos, canecas e outros objetos para decoração. Chama a atenção a interessante arquitetura do ateliê, O lugar, um sítio, abriga os charmosos e confortáveis chalés — chamados de  Chalés da Cris —, ótimas opções de hospedagem.

Tábua para degustação da Queijaria Reserva do Lago.

Queijaria Reserva do Lago

Após conhecer a magnífica cachoeira do Zé Carlinhos, a primeira queijaria visitada foi a Reserva do Lago, propriedade do agrônomo e geneticista Thiago Vilella. Ele conta que produz diariamente 25 peças e que segue rigidamente o modo de fazer o queijo Canastra, ou seja, realizando a ordenha diária nas manhãs. Vilella explica sobre a importância da alimentação das vacas da raça Girolando — excepcional na produção leiteira, pois é resultado de cruzamento entre um gado de raça holandesa e o zebuíno Gir — para a produção do leite e, consequentemente, de um queijo “menos ácido”. As vacas, 15 no total, pastam capim braquiária e, durante o período de estiagem, alimentam-se de silagem de milho.

O produtor Thiago Vilella com o Queijo Canastra Real.

Vilella explica que queijo artesanal lá produzido tem cor amarelada e massa levemente amanteigada, de fácil combinação com vinhos, geleias, doces ou salgadas. O sabor pode variar de suave a intenso, dependendo do tempo de maturação. A textura é firme e apresenta uma casca natural amarelada.

Queijaria Quinta de Sant’Anna

A parada seguinte foi na queijaria Quinta de Sant’Anna, dos produtores Cláudia Mendonça Camargo e Odil Tales Pereira.  Lá a matéria-prima dos queijos é o leite cru de vacas da raça Jersey criadas na própria fazenda. “O solo, o pasto, o clima e a microbiota local trazem aos queijos características próprias e muito agradáveis ao paladar”, informam os produtores. A queijaria fabrica três produtos: Queijo Marandu, Canastra Cordilheira e Queijo Desidratado Canastra Crispy.

Queijaria Quinta de Santa´Anna.

O Marandu, ganhou a medalha de broze no Mondial du Fromage de Tours na França edição 2021. Trata-se de “um queijo de massa cozida no qual são adicionadas bactérias propiônicas. Estas bactérias são responsáveis pelas lindas olhaduras. Elas também dão um toque mais adocicado ao queijo”.  Os produtores acrescentam que o tempo de maturação mínima do queijo são de quatro meses. “Neste tempo, as olhaduras se desenvolvem, os sabores surgem e se intensificam. Apesar do tempo de maturação ele se mantem macio.  Este queijo pode ser maturado por muitos meses e. com o passar do tempo, vai ficando cada vez mais adocicado”.

A produtora Cláudia Mendonça Camargo.

Queijaria Vale da Gurita

Há cerca de 30 anos, o Queijo Vale da Gurita, de Roselania e Saulo Lopes, é produzido na Fazenda Santa Clara, localizada “no coração” da Serra da Canastra. A matéria prima é o leite das vacas das raças Caracu e Girolando, “rústicas e muito bem adaptadas à região e produzem o leite com maior teor de gordura, que caracteriza o sabor especial do Queijo Vale da Gurita”, como garantem os produtores.

Queijaria Vale da Gurita.

São 25 vacas que são ordenhadas duas vezes ao dia. Eles informam que “buscam resgatar as raízes de um autêntico Queijo Minas da Canastra, pois são observadas na fabricação do Vale da Gurita as mesmas técnicas utilizadas há séculos, o que garante um resultado de excelência no sabor, aroma e textura”. Um importante diferencial do produto é a maturação “a partir de 60 dias”. Outro destaque é o gigante Canastra Real (equivale em diâmetro a um volante de carro) que fica seis meses em maturação.

Dentre as premiações do queijo destacam-se a medalha de Prata em 2017 e o Super Gold em 2019 no Concours Mondial du Fromage -Tours na França.

Mesa de queijos para degustação na Querijaria Vale da Gurita.

Queijaria Porto Canastra

Na Queijaria Porto Canastra, a proposta é interferir o mínimo possível na alimentação, somente pastagem. Na ordenha, o bezerro ‘ao pé da vaca’ é utilizado para estimular que o leite saia antes da ordenha manual. Há oito anos Vanessa Lopes e Luiz Henrique Fernandes, o Nico, criam as vacas mestiças, de raças rústicas, de forma semiextensiva o que, segundo Nico — nascido e criado em Delfinópolis — garante alta qualidade ao leite. Por dia, são ordenhadas 20 vacas e a produção diária fica entre seis e sete quilos de queijo. Os produtos são maturados com 14, 30 e 45 dias.

As premiações dos queijos da Porto Canastra.

Já o Canastra Real produzido pela Porto Canastra exige 90 litros de leite (um queijo “normal” precisa de 11 litros) e 50 dias de maturação. Integrante de família tradicional do município, Nico, como “mestre queijeiro”, segue à risca “o modo próprio e único de fazer dos canastreiros” de mais de 200 anos: com a utilização dos ingredientes da receita original, à base de leite cru, coalho, pingo e sal. Na fazenda, a primeira queijaria vencedora de concurso por Delfinópolis, a experiência é a degustação de queijos com cafés e vinhos.

Luiz Henrique Fernandes, o Nico

Queijos e cervejas artesanais

Degustar queijos harmonizados com cervejas artesanais foi mais uma experiência incrível da viagem, aquela que merece ser repetida em outra oportunidade. Melhor ainda é o almoço servido no local, no Restaurante Lá da Serra. Tudo acontece no quintal em baixo de árvores frutíferas.

A mestre cervejeira e chefe Flávia Ferreira serve uma tábua com diferentes tipos de queijo Canastra e cervejas tipos Pilsen, Witbier, IPA e Red Larger. No cardápio do almoço tutu a mineira com queijo e a mineiríssima carne de porco da lata — a carne é conservada com a gordura do porco na lata, tradição secular em Minas Gerais. Na sobremesa, doce de manga. Uma experiência inesquecível e deliciosa.

Flávia Ferreira, mestre cervejeira e chefe de cozinha.

Cafés especiais

Os cafés especiais da Serra da Canastra  ficaram conhecidos pela excepcional qualidade e se tornaram mais um atrativo turístico da região. Os cafés Serra Preta e Benedita Porcelli — 100% arábica, variedade Arara e com Denominação de Origem — são produzidos, respectivamente, pelos cafeicultores Ana Trindade e por Valdemar Bruni. Amigos e vizinhos, eles adotam o sistema de plantio agroflorestal, pois utilizam grandes árvores nativas e frutíferas para dar sombra aos pés de café. A altitude acima de 850 metros confere um diferencial de qualidade para a produção cafeeira.

Os cafeicultores Ana Trindade e por Valdemar Bruni.

Vale muito a pena a experiência de degustar os deliciosos cafés acompanhados de queijos. E tem mais um detalhe importante: a vista do lugar, o Sítio Candeias (de Ana Trindade), a uma altitude de cerca de 900 metros, é simplesmente deslumbrante.

Cafés especiais 100% arábica e variadade Arara.

Referência cultural, histórica e devoção

Cultura, conservação das tradições e religiosidade são outros bens que elevam Delfinópolis como um polo turístico de qualidade. A Capela de Nossa Senhora das Graças de Itajuí, no Vale da Gurita, erguida em 1951, é uma importante referência cultural e histórica de toda a região da Serra da Canastra por fazer parte do impressionante ritual católico Caminhos da Folia das Almas.

A Capela de Nossa Senhora das Graças de Itajuí, no Vale da Gurita, datada de 1951,

As comunidades de Delfinópolis mantêm a tradição de caminhar à noite fazendo visitas às casas para rezar em memória das almas. A Folia faz parte da identidade dos moradores do município. A devoção do último grupo da região, a Folia das Almas da Canastra, reinterpreta com fé, beleza e simplicidade o antigo ritual católico de Encomendação das Almas, que chegou ao Brasil há cerca de 500 anos com São José de Anchieta e Padre Manoel da Nóbrega.

Perto da Serra da Canastra, nas comunidades tradicionais de Delfinópolis, a tradição de caminhar a noite em visita às casas para rezar em memória das almas faz parte da identidade de quem mora ali. O ritual de Encomendação das Almas até hoje permanece sendo reinterpretado na simplicidade e na devoção do último grupo da região, a Folia das Almas da Canastra.

A prefeitura decretou o tombamento provisório da Capela do Itajuí e das construções ao seu redor.

Atualmente, a comunidade do Vale do Gurita e de toda região da Serra da Canastra, enfrenta um grave dilema: por volta do segundo semestre de 2024 surgiu a notícia de que a Diocese de Guaxupé, responsável pela capela e por todo o patrimônio localizado no entorno, pretende vender a área para empreendedores que planejam construir um grande complexo turístico. A reação contrária foi imediata, liderada por importantes membros da comunidade. Inclusive, a Associação dos Produtores Rurais do Vale do Gurita encaminhou um ofício ao Ministério Público e ao Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Delfinópolis. A prefeitura, por sua vez, providenciou um decreto de tombamento provisório da Capela do Itajuí e das construções ao seu redor.

A diocese de Guaxupé, do seu lado, garantiu que somente parte dos 7 hectares da área será vendida e que a comercialização “não prejudicará o uso da capela e a vida da comunidade local, tanto para as celebrações quanto para os eventos”. A comunidade, porém, não está convencida e exige que todo o terreno da Capela de Nossa Senhora das Graças do Itajuí seja conservado. Por enquanto, só resta aguardar os próximos acontecimentos.

Paisagem no entorno da Capela de Nossa Senhora das Graças de Itajuí.

 

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