Sagarana, a música, de Celso Adolfo

Fotos Eduardo Gontijo

“Remanso de rio largo” está na obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. 

É verso da última estrofe de uma canção que Siruiz cantou no meio do bando do Hermógenes.

Não à toa, é o nome do CD Remanso de rio largo, cujas 16 músicas são livremente inspiradas no livro Sagarana, de Rosa. 

São histórias, portanto, que saem das páginas escritas e voltam ao mundo na forma de música.

FAQUINHA, QUICÉ
(Celso Adolfo)

Ali na Laginha era um tal de Targino
sujeito-suíno, porco e mandão
sujeitinho, porcaria de valentão
filhote do Não-Sei-Do-Que-Não
tinha ali era mesmo é nenhuma função

Cobra cega enxergando de um olho caolho
tinha veneno guardado de molho
fazia poeira bufando pro chão
cuspindo ruindade pra trás do balcão
moendo e mexendo a ruindade com mão
tinha jeito nenhum de gostar dele não

Targino comeu carne, bebeu cachaça
na sexta-feira da paixão
para experimentar a paciência de Deus
Sujeito medonho, que não tinha sonho
que não tinha medo, medida nem média
Deixa ele. Pra cavalo ruim Deus bambeia a rédea.

Manuel Fulô vai casar com Das Dor
mas quem quer a primeira noite com a noiva
é o tal Targino, o sujeito-suíno
filhote do Não-Sei-Do-Que-Não
porco, valente, sujo e mandão
mas Mané desconcorda da preposição
desse sem educação

Tões! Militões! Canindéis! Maquinéis!
Degrau e degrais! Chapéu e chapéis!
Oh, que eu fui batizado e foi com água quente!
Das Dor, esse amor me doeu de repente
É, Seu Targino, isso é dente por dente
nós vamos topar e é na rua da frente

E eu vou enrolar e desenrolar e enrolar
e desenrolar novamente a sua serpente

E Mané-Fulô teve um medo danado
fez um trato com Toniquinho, rezador:
Cê reza a reza do corpo fechado
e aí eu te dou minha Beija-Fulô
que é minha mulinha que eu amo de amor

E o trato deu certo e Targino atirou
e bala zuniu e chicoteou nenhum tiro acertou
e nem arranhou Manuel-Fulô.

E o trem foi esquentando e Targino foi vindo
aumentando sombra o sujeito sem fé
quando viu, já não viu, já não tava em pé
não teve onti, antonti ou inté
e a raiva da lâmina de Mané
fez um risco e riscou e Targino tombou

Tombou no risco de uma faquinha à toa
bem afiadinha, faquinha qualquer
faquinha miúda, mas de ocasião
boa pra mão e pras unhas do pé
U’a faquinha quicé.

O título e as frases em itálico são da novela
Corpo fechado.

 

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